Rodeado de inimigos históricos, alguns grupos étnicos reivindicando regiões para si e também o imperialismo, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan é o que pode ser considerado um “macaco velho”. O veterano político de 69 anos aparentemente tem objetivo: de governar pelo interesse da Turquia, e nada mais somente. E o que é interesse da Turquia? De manter fornecimento estável de combustível. E onde tem esse insumo? Na Rússia.
Outro interesse turco? Manter a nação unida sem fragmentar e enfraquecer o país. Como fazer isso? Reagindo à ação “terrorista” do povo curdo, que se aliou ao imperialismo para receber armamentos pesados. A história mostrou que aliados do imperialismo são sempre uma grave ameaça à integridade ao povo de um dado país, como aconteceu com o Iraque, desestabilizado desde a década de 1960, quando os EUA armaram o povo curdo para estimular os conflitos.
Ao verificar o mapa, pode-se verificar que a Turquia faz fronteira com as principais potências do Oriente Médio: Síria, Iraque, no sul, irã, Armênia, Geórgia ao leste, e sobre Mar Negro, faz fronteira com a Rússia, Ucrânia, Romênia e Bulgária. A Turquia é a rota de ligação terrestre entre o ocidente e o oriente. Um dos pontos estratégicos para avançar contra a Rússia.
Para a Turquia, a presença de povo curdo fortemente armado na fronteira com a Síria é uma ameaça. Os últimos ataques turcos foram uma resposta a um bombardeiro em Ancara na semana passada, reivindicado pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo militante que há décadas trava uma insurreição contra Ancara. O ministro de Relações Exteriores da Turquia Hakan Fidan declarou que “terceiros” devem evitar a ligação com PKK na Síria.
Entre janeiro a março de 2018 ocorreu a Operação Ramo de Oliveira, uma operação militar turca contra a força militar da Síria na região de Afrin, controlado pelos curdos da Síria. O motivo da operação é a presença de forças militares curdas na fronteira entre dois países. Os militares turcos entraram na região onde a tropa russa estava um dia antes.
“O diálogo entre a Rússia e a Turquia baseia-se num nível extremamente elevado de cooperação no comércio e na economia. Este é um aspecto fundamental. Turquia estabeleceu um recorde de exportação este ano e uma quantidade significativa de mercadorias foi exportada para a Rússia. Na falta disso, a economia turca estaria num estado muito mais infeliz do que está agora”, disse Viktor Nadein-Rayevsky, pesquisador do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais (IMEMO), situada em Moscou.
“Ambos os países respeitam as políticas e os interesses um do outro e desenvolveram um mecanismo para uma interação mutuamente respeitosa. A conversa entre eles não está ao mesmo nível que entre a Turquia e a OTAN ou a Turquia e outros países ocidentais – não é uma conversa com um Estado vassalo, mas um diálogo entre duas potências iguais. Esse é o segredo por trás da cooperação bilateral eficaz. As relações pessoais entre os dois líderes também desempenham um papel importante. Putin considera Erdogan um ‘homem de verdade’ que mantém a sua palavra. Esta é uma característica nova para o presidente da Turquia, mas Erdogan demonstrou lealdade às suas obrigações. Enquanto houver confiança mútua e todas as partes respeitarem as suas obrigações nos termos dos acordos existentes, não haverá obstáculos à cooperação mutuamente benéfica”.
Apesar das muitas contradições entre a Rússia e a Turquia, os dois países conseguiram manter um diálogo construtivo e relações amistosas. Um dos principais fatores é a interdependência econômica entre Moscou e Ancara, que cresceu rapidamente nos últimos anos. Entre janeiro e setembro do ano passado, o volume de negócios comercial entre a Rússia e a Turquia ultrapassou os 47 bilhões de dólares, o dobro dos primeiros nove meses de 2021. Isto deve-se principalmente ao fato de Moscou ter utilizado Ancara para substituir as importações oficiais dos estados ocidentais. Resta saber até quando o imperialismo vai permitir o jogo duplo de Ancara.