Incrível que a maioria da imprensa esportiva brasileira, principalmente a ligada aos grandes monopólios da comunicação, tem uma verdadeira obsessão pelos europeus. Não é de hoje, é claro. Quem já leu crônicas antigas sabe que a paixão do jornalista esportivo brasileiro por um europeu é caso antigo.
Até mesmo na hora de elogiar o Brasil, não se deixa de babar o ovo de um gringo.
Em artigo no portal da ESPN “Diniz deve mirar time grande na Europa, não em disputar seleção com Ancelotti”, Paulo Cobos elogia Diniz. Sabe, inclusive, a importância do técnico para a valorização dos técnicos brasileiros, que estão sendo muito atacados.
Mas o parâmetro de Cobos é completamente errado. Para ele, Diniz só será bom ou só será respeitado se for para a Europa. Com base em que ele diz isso? Com base no achômetro dele. Por algum motivo ele aprendeu que o futebol europeu é melhor, então ele acha que seria melhor para Diniz ir para a Europa.
“Fernando Diniz é a grande chance dos técnicos brasileiros fincarem um pé na elite do futebol europeu.”
É ótimo que os técnicos brasileiros possam “fincar o pé” onde eles bem quiserem, mas não é esse o problema.
O colunista acha que isso é mais importante para Diniz do que treinar a Seleção Brasileira.
“Brasileiro técnico do time da CBF é sedutor, mas nem se compara a comandar um bom time europeu.”
Nem se compara? É verdade, nem se compara a importância da Seleção Brasileira com qualquer clubinho mequetrefe da Europa. Tire o dinheiro desses clubes e saberemos a verdadeira qualidade do futebol deles.
Se a ideia é que um treinador brasileiro deveria ir para a Europa pois lá estão os clubes com mais dinheiro e, portanto, os principais jogadores do mundo, contratados por esse dinheiro, ele deveria explicar isso.
Mas não isso. O colunista está apenas expressando a ideia fantasiosa de que a Europa é melhor. Na imaginação colonizada do autor, a Seleção que ganhou cinco Copas do Mundo, o país que tem os maiores jogadores de todos os tempos, que inventou o futebol moderno, que mais exporta craques pelo mundo justamente por ser a mina de ouro do futebol mundial, é inferior em importância do que “algum clube europeu qualquer”.
“O treinador do Fluminense não deve nem cogitar torcer para que Carlo Ancelotti desista da palavra que deu à CBF e não assumir a seleção brasileira.”
Diniz – e nós, os brasileiros – deveria deixar a seleção para um técnico estrangeiro que disse que virá, mas ninguém sabe. Talvez aqui esteja revelado o interesse do colunista: ele quer um gringo comandando a Seleção e por melhor que seja Diniz, e ele concorda com a qualidade do treinador do Flu, insiste que o italiano deve comandar o Brasil.
O pensamento normal de um brasileiro seria: “se Diniz é um bom treinador e já mostrou que pode, vamos torcer para que seja o técnico da Seleção”. Mas de novo o cérebro colonizado não consegue largar a Europa. Ele prefere ver um gringo aqui e Diniz para lá.
A verdade é que se Diniz conquistar a Libertadores estará ainda mais abalizado para assumir de vez a Seleção e, assim, acabamos de uma vez por todas com esse debate ridículo de técnico estrangeiro.
Mas os jornalistas amantes dos europeus não querem dar o braço a torcer e agora fazem malabarismos para insistir que devemos ser comandados por um gringo.