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Beco sem saída?

Impasse orçamentário pode aprofundar a crise do imperialismo

Sem que a Ucrânia seja financiada pelo imperialismo, a já provável derrota para a Rússia tende a se tornar certa, que será mais devastadora para os EUA que a fuga do Afeganistão

Uma crise de grandes proporções se gesta no centro do bloco imperialista, os Estados Unidos.

A divisão entre o setor principal de sua burguesia (o principal responsável pela política de rapina do imperialismo) e o setor secundário (também imperialista, mas mais dependente do mercado interno norte-americano) se aprofunda.

Essa divisão vem se manifestando pelo menos desde a entrada de Donald Trump na cena política. Representante do setor secundário da burguesia, Trump nunca foi o homem escolhido pela burguesia imperialista para governar o país, o que acabou por gerar instabilidade e crises no seio do imperialismo.

Conforme noticiado por este Diário, a crise nos EUA atingiu novas alturas com a destituição de Kevin McCarthy da presidência da Câmara dos Deputados. Sua remoção deu-se em razão da aprovação de um projeto de lei, estendendo o orçamento do governo federal por mais 45 dias. Essa aprovação se deu no último sábado (30), justamente o último dia do ano fiscal norte-americano. Caso a extensão do orçamento não fosse aprovada, as agências federais do país ficariam desamparadas financeiramente, gerando uma situação caótica para milhões de americanos.

Houve vários pontos de discórdia em relação ao orçamento provisório. Um dos principais foi a questão do financiamento à Ucrânia, que está sendo utilizada como bucha de canhão para atacar a Rússia. Nisto, os Republicanos, em especial a ala trumpista, saíram vitoriosos, pois  ajuda de US$24 bilhões ao país do Leste Europeu não foi inclusa no orçamento.

Apesar disso, o McCarthy foi removido, através de moção movida por deputado trumpista da Flórida, Matt Gaetz. Por quê?

O projeto proposto não contemplou todas as demandas orçamentárias da ala trumpista do Partido Republicano. Assim, foi uma oportunidade para tirar um republicano moderado da presidência da casa legislativa. A fim de colocar um republicano trumpista no lugar. Deputados democratas também votaram para destituir McCarthy. Possivelmente a fim de tentar colocar alguém mais serviçal de Biden no comando da câmara.

A destituição foi acirrada: 216 votos a 210, mostrando a profunda divisão na burguesia norte-americana. Dos 216, foram 8 republicanos e 208 democratas. Veja mais detalhes sobre a habilidosa manobra política feita por Gaetz para destituir McCarthy, mostrando a força do trumpismo.

Lições da direita norte-americana

Sobre a divisão na burguesia imperialista dos EUA, atenção especial deve ser dada à questão da Ucrânia. Enquanto a qualidade de vida da população norte-americana declinada a cada dia; enquanto dezenas de milhares de pessoas morrem por overdose fentanil; enquanto há mais de 500 mil americanos sem teto; enquanto a expectativa de vida diminui; enquanto grande parte do Havaí é destruída por incêndio evitável; o governo Biden segue na política de financiar uma guerra que não atende em nada aos interesses dos trabalhadores norte-americanos. Uma política profundamente impopular.

E, com o fracasso do imperialismo em acossar a Rússia, a população vê cada vez mais o desperdício de dinheiro que é financiar o regime nazista de Zelensky.

O crescente descontentamento da população se reflete em Trump e na ala trumpista dos republicanos. Com a falência da esquerda, que segue presa à coleira pelos democratas, os representantes políticos do setor secundário da burguesia, em especial Trump, acabaram atraindo muitos trabalhadores e pequenos burgueses próximos da proletarização. Afinal, esse setor da burguesia, por necessidade, precisa se colocar até certo ponto contra a política imperialista, que vem há décadas exportando a indústria norte-americana para países atrasados, gerando desemprego crônico no país.

Do outro lado do oceano, a oposição ao apoio à Ucrânia é ainda maior. Afinal, os países do velho continente são mais atingidos pelo fracasso das sanções impostas ao petróleo e ao gás Russo. A insatisfação do povo europeu inclusive foi constatada por um dos principais agentes do imperialismo na implantação do neoliberalismo na Bolívia, no Leste Europeu e na Rússia, Jeffrey Sachs, ao relatar o fracasso do imperialismo em tentar subjugar a Rússia:

“Estamos entrando na fase final do desastre neocon de 30 anos dos Estados Unidos na Ucrânia. O plano neocon de cercar a Rússia na região do Mar Negro pela Otan falhou. As decisões tomadas agora pelos Estados Unidos e pela Rússia terão um impacto enorme na paz, na segurança e no bem-estar de todo o mundo.

[…]

O segundo é o enfraquecimento do apoio na Europa à estratégia neocon dos EUA. A Polônia não mais se alinha com a Ucrânia. A Hungria há muito tempo se opõe aos neocons. A Eslováquia elegeu um governo anti-neocon. Os líderes da UE (Macron, Meloni, Sanchez, Scholz, Sunak e outros) têm índices de desaprovação muito mais altos do que aprovação”.

Sobre a Polônia, cumpre informar o mais recentemente acontecimento que mostra que o imperialismo está perdendo apoio em sua guerra contra a Rússia. Conforme noticiado pela Russia Today (RT), um membro do governo polonês anunciou que o país pretende encerrar gradualmente a assistência social que vem sendo fornecida aos imigrantes ucranianos, e que pretende fazer isto logo mais no começo de 2024.

Com o escândalo do parlamento canadense, que aplaudiu de pé um nazista ucraniano da Segunda Guerra Mundial, vai ficando difícil ao imperialismo mascarar o regime nazista que existe atualmente na Ucrânia, de forma a manter sua propaganda de guerra.

Até mesmo no futebol isto se manifesta: A FIFA e a UEFA puseram fim à suspensão que haviam aplicado às seleções de base da Rússia, impedindo-as de competir.

Por todos os lados começam a aparecer sinais de que não irá demorar para a Ucrânia ser abandonada pelo imperialismo, após ter sido utilizada como ponta de lança contra a Rússia.

Isto é igualmente constatado por Sachs:

“O terceiro é a redução do apoio financeiro dos EUA à Ucrânia. A base do Partido Republicano, vários candidatos presidenciais republicanos e um número crescente de membros republicanos do Congresso se opõem a mais gastos com a Ucrânia. No projeto de lei de curto prazo para manter o funcionamento do governo, os republicanos retiraram o novo apoio financeiro para a Ucrânia. A Casa Branca pediu uma nova legislação de ajuda, mas isso será uma batalha difícil”.

O governo Biden, o imperialismo norte-americano, está sendo pressionado de todos os lados em relação à Ucrânia, de forma que a manutenção da agressão contra a Rússia torna-se a cada dia mais insustentável.

Apesar disto, o governo busca urgentemente manter o influxo de dinheiro para a Ucrânia, conforme relatado pela CNN americana. Afinal, a burguesia imperialista sabe que se a vitória da Rússia for consumada, será uma vitória para todos os países e povos oprimidos do mundo. Consequentemente, será um desastre o imperialismo.

É possível que o governo Biden tente uma saída negociada, para que o imperialismo não pareça ter sofrido uma derrota. Jeffrey Sachs também aponta essa possibilidade.

“A Ucrânia está em risco de colapso econômico, demográfico e militar. O que o governo dos EUA deve fazer diante desse potencial desastre?

O presidente Joe Biden deve informar imediatamente o presidente Vladimir Putin que os EUA encerrarão a expansão da Otan para leste se os EUA e a Rússia chegarem a um novo acordo de segurança. Ao encerrar a expansão da Otan, os EUA ainda podem salvar a Ucrânia dos desastres políticos dos últimos 30 anos.

Biden deve concordar em negociar um acordo de segurança do tipo, embora não detalhes precisos, das propostas do presidente Putin de 17 de dezembro de 2021. Biden recusou-se tola e erroneamente a negociar com Putin em dezembro de 2021. É hora de negociar agora.

Há quatro elementos-chave para um acordo. Primeiro, como parte de um acordo geral, Biden deve concordar que a Otan não se expandirá para leste, mas não reverterá a expansão passada da Otan. A Otan, é claro, não toleraria incursões russas em estados da Otan existentes. Tanto a Rússia quanto os EUA se comprometeriam a evitar provocações perto das fronteiras russas, incluindo o posicionamento provocativo de mísseis, exercícios militares e coisas do tipo.”

Contudo, mesmo que isto ocorra, a derrota imperialista ainda será clara, como se vê pela própria análise de Sachs. Um acordo seria uma derrota para imperialismo.

Assim, da atual crise, outra surgirá. Apesar das dezenas de bilhões de dólares utilizados para financiar a Ucrânia, a Rússia vem vencendo a guerra. Isto que significa que, sem o dinheiro do imperialismo, o que agora é uma provável vitória do gigante do Leste Europeu, transformar-se-á em uma vitória certa. Mais um país atrasado consumará uma contundente vitória sobre a principal potência imperialista. E será uma derrota ainda mais catastrófica que a derrota dos EUA no Afeganistão. Afinal, uma vitória russa seria aberta contra todo o bloco imperialista.

O imperialismo está em uma espiral de crise da qual não consegue se desvencilhar. Sempre quanto tenta, se depara com becos sem saída, de forma que eventualmente resultará em seu colapso.

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