O jornalista e editor de Brasil 247, Leonardo Attuch, denunciou a infame mentira difundida pelo jornal golpista Estado de S. Paulo, que em pelo menos três matérias publicadas nos últimos dois dias, acusa o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de ordenar um empréstimo da ordem de US$1 bilhão, supostamente, para ajudar o candidato peronista às eleições argentinas, Sergio Massa (Unión por la Patria). Em sua coluna (“Fake news do Estadão abre a era do ‘mentiu, levou’, mas mostra que o fascismo ainda está muito vivo na mídia brasileira”, 5/10/2023), Attuch acusa o Estadão de publicar “uma mentira escancarada”, acrescentando que o jornal foi “rapidamente desmascarado”, mas que ainda assim seguia rendendo dividendos políticos ao jornal golpista:
“Em seguida, Andreza Matais, editora-executiva do jornal, comemorava o fato de que a mentira repercutia na Argentina – uma mentira que, por sua vez, se espalhava rapidamente pelo esgoto da extrema-direita brasileira”, apontou o jornalista de Brasil 247. Um parêntese necessário a essa colocação é a flagrante farsa da campanha contra as chamadas “fake news”.
Não espere o leitor que o Estado de S. Paulo seja acusado de incorrer em crime de “fake news”, mesmo após a mentira ter sido desmascarada. Tampouco é sensato imaginar que sequer uma fração da energia dispensada pela justiça à perseguição de órgãos independentes, será agora mobilizada contra o Estadão.
Não deveria de qualquer forma, mas se as “fake news” são um crime tão horripilante quanto a propaganda recente difundiu, seria uma questão de coerência perseguir o jornal golpista agora. Naturalmente, nada disso ocorrerá, porque a campanha contra as ditas “fake news” sempre foi, acima de tudo, uma campanha pelo monopólio da mentira e da comunicação.
A amplitude conquistada pela farsa difundida pelo Estadão coloca às claras também um fato ignorado pela esquerda brasileira: quem são os verdadeiros profissionais da manipulação. Há uma enorme diferença entre uma mentira contada pelos órgãos independentes do bolsonarismo nas redes sociais e uma mentira difundida por um órgão como o Estado de S. Paulo. O segundo conta com uma rede de difusão infinitamente maior, criada pelo investimento pesado do imperialismo no ramo, repercutindo as mentiras dos grandes órgãos de imprensa em níveis que o chamado “gabinete do ódio” sequer pode sonhar em atingir.
Rapidamente, a notícia mentirosa do Estadão impulsionou campanhas contra Lula e por Milei nas redes sociais, e ainda que o jornal eventualmente retire as matérias, elas continuarão circulando no que Attuch definiu como “o esgoto da extrema-direita brasileira”. Poderia ter acrescentado também a da Argentina. E quem sabe onde mais?
Attuch, ao fim, acrescenta: “Será que interessa ao imperialismo o estabelecimento de um enclave fascista na América do Sul para sabotar a integração regional e o avanço dos BRICS? O Estadão deve respostas à sociedade brasileira e também aos argentinos, que tentou manipular com uma mentira grotesca.”
A resposta fica evidente pela supracitada celebração da editora do Estado, órgão que, como lembra o jornalista, apoiou Jair Bolsonaro (PL) em 2018. Com eleições marcadas para o próximo dia 22, a corrida à Casa Rosada segue em aberto na Argentina. Segundo o direitista jornal argentino Clarín, Milei teria “pouco menos de 30 pontos” na pesquisa de intenção de voto conduzidas pelo instituto CB y Circuitos, ao passo que Sergio Massa teria 27,3%, indicando empate técnico entre os dois, dado a margem de erro de 3,5 pontos percentuais (“Dos nuevas encuestas calientan la pelea de Milei, Massa y Bullrich para la elección”, Eduardo Paladini, 4/10/2023). Já o jornal Perfil divulgou outra pesquisa, elaborada pela Atlas Intel no último dia 29, indicando Massa ligeiramente à frente, com 30,7% das intenções, contra 27,9% de Milei, que aparece em 2º lugar, mas de novo, uma diferença mínima, dentro da margem de erro.
O fato de um órgão notório pela sua ligação com o imperialismo se prestar a sustentar uma mentira, mesmo que amplamente desmascarada e à revelia do resquício de reputação que o Estadão ainda poderia ter, é uma forte evidência de que são os Estados Unidos e a União Europeia que estão, de fato, interessados na difusão da notícia mentirosa e na vitória de um elemento à direita do bolsonarismo na Argentina. Segunda força do subcontinente, a vitória de Milei isolaria quase completamente o Brasil e a Venezuela do resto da América do Sul, onde regimes dominados pelas forças imperialistas predominam, além de enfraquecer o BRICS.
O apoio velado a Milei (um elemento, diga-se de passagem, à direita do bolsonarismo que diziam se opor), o ataque a Lula e sobretudo a forma rasteira adotada pelo jornal para impulsionar a sua política evidenciam que o Estadão continua sendo tão bolsonarista quanto sempre foi. Sobre isso, torna-se necessário também lembrar que o jornal é um órgão de imprensa que expressa a política de um grupo social, nesse caso, o setor imperialista da burguesia. Embora muito poderoso, este setor da burguesia acabou se desmoralizando com os setores mais frágeis, porém mais numerosos da mesma classe, precisando se reciclar com a esquerda.
Para isso, difundiram o conto da carochinha de que eram o setor “democrático” e “civilizado” da direita. As matérias do Estadão revelam que não são nem um e nem outro.
As publicações mentirosas são mantidas pelo jornal, que não poupou esforços ou se importou com a própria reputação ao lançar mão de seus expedientes tradicionais – calúnias, farsas e mentiras -, para a obtenção dos ganhos políticos desejados pelos setores do imperialismo a quem o jornal dá voz. Mostram, por fim, que a “democracia” deles também é um golpe.