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Partido de correntes ou ONGs?

Para Arcary, vitória das ONGs no PSOL é o paraíso

No último congresso do PSOL, as ONGs tomaram conta do partido, mas a avaliação de Valério Arcary é de que foi uma "vitória política"

O Congresso do PSOL, ocorrido durante a semana passada, consolidou a transformação de um partido de esquerda bastante oportunista em um partido dominado pelas ONGs financiadas pelo imperialismo. Essa transformação se deu, principalmente, pela imposição da liderança de Guilherme Boulos no interior do partido. Boulos entrou para o PSOL em 2018 para sair candidato à Presidência da República. Cinco anos depois, esse mero candidato já conquistou mais de 60% do congresso do partido.

Valério Arcary, ex-PSTU, e agora principal representante da corrente Resistência do Psol, procurou explicar as disputas apresentadas durante o congresso em texto escrito para o portal Esquerda Online, pertencente à Resistência, com o título “Nove notas sobre o Congresso do PSol”. O texto é uma apologia de toda essa transformação pela qual passa o partido. Para Arcary, o congresso do Psol foi uma “grande vitória política” e Boulos se consolida como “uma promessa para a reorganização da esquerda”.

Arcary apresenta a disputa dentro do Psol como a oposição entre dois blocos: um deles estaria receoso de que o partido seja absorvido pela “força de gravidade” do governo Lula, transformando-se em um “puxadinho” do PT. O outro lado considera que “a ameaça ainda presente da extrema-direita não pode ser diminuída, e que é necessária a iniciativa do PSol em apoio à campanha democrática ‘sem anistia’, pela punição dos golpistas e prisão para Bolsonaro”. Para eles, “o maior perigo seria o PSol priorizar uma linha de oposição ao governo Lula e perder a bússola, adotando uma tática nem Lula/nem Bolsonaro, e cair na marginalidade política”. O sr. Valério Arcary compreende bem esse problema pois rachou com o PSTU justo quando tomaram uma posição desse tipo.

É preciso, no entanto, dizer que essa colocação de Arcary é um embelezamento das duas posições extremamente reacionárias presentes no debate interno do Psol. O setor, representado principalmente pelo MES, que diz ter receio da “força gravitacional” do governo é uma corrente que defende uma política golpista, ao estilo do PSTU. Liderados por figuras como Sâmia Bonfim e Glauber Braga, eles consideram que a queda do governo Lula poderá significar um ganho para agrupamentos menores da esquerda pequeno-burguesa, como o próprio Psol.

O outro setor, liderado por Guilherme Boulos e com o qual Arcary está alinhado, considera que é importante fazer demagogia com o governo para não se queimar diante da população e, assim, infiltrar o governo por dentro com sua política pró-imperialista. Este segue uma política mais dissimulada e oportunista.

Ambos os lados estão numa cruzada promovida pelo imperialismo norte-americano para procurar sabotar a esquerda nacional. Guilherme Boulos, que surge no cenário político brasileiro justamente numa operação de sabotagem do governo Dilma Rousseff em 2014 (o movimento “Não vai ter Copa”), é o principal protagonista de todo esse movimento político. É preciso, agora, avaliar a transformação do Psol, definitivamente, no “partido das ONGs”.

A ala de Guilherme Boulos venceu o Congresso e a decisão final é a de se manter “apoiando” o PT, de modo a poder, por exemplo, roubar boa parte de seus votos nas próximas eleições para a prefeitura de São Paulo, na qual Boulos será candidato. Talvez a manobra não seja o suficiente para derrotar o atual prefeito da capital paulista, mas será o suficiente para tirar o PT da corrida eleitoral e ajudar a enfraquecer a sua organização na cidade mais importante do país.

A decisão oportunista também tem um aspecto interessante, explicitado nesse trecho do texto de Arcary: “PSol não integra o governo Lula, mas autoriza que seus filiados que representam movimentos sociais, como Sonia Guajajara pela APIB, Sílvio Almeida pelo movimento negro, ou Guilherme Simões pelo MTST”. Ou seja, o partido não tem a necessidade de apoiar as medidas do governo, para não se indispor com o setor golpista da esquerda pequeno-burguesa e poder posar de “revolucionário”, “anti-governista”, mas também tem a chance de indicar seus membros para cargos no governo e receber aquela sempre bem-vinda boquinha do dinheiro público.

No que diz respeito à organização interna do Psol, a qual Valério Arcary demonstra uma gigantesca preocupação em vender como sendo a coisa mais democrática do mundo. Está evidente que o Partido, por ser um racha de uma ala mais oportunista e carreirista do PT, sempre foi comandado por quem tem mais dinheiro. Isso se consolida em definitivo agora, com o comando do partido indo para as mãos do imperialismo, através de seu funcionário do IREE.

Diante disso, fica até um pouco irônica a afirmação de Valério Arcary de que “A avaliação do bloco minoritário é de que existe o perigo de que se afirme um hegemonismo “mandonista” do Psol Popular na direção do PSol, sufocando as correntes minoritárias”. Um partido que se organize através da tentativa de equiparar as posições de suas correntes, sem um debate que procure estabelecer uma linha ideológica minimamente coesa para o partido, está definitivamente vulnerável para as infiltrações imperialistas.

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