Ainda que questão acerca do papel cumprido pelas ONGs esteja em muito maior evidência no debate político brasileiro, na maioria devido à intensa campanha de denúncias deste Diário, particularmente no setor mais lulista da militância petista; a realidade é que, até este último congresso do PSOL, não estava totalmente claro para todos o verdadeiro poder desses grupos em infiltrar e tomar conta de partidos. E, mais uma vez, aparece na dianteira a figurinha carimbada do IREE de Etchegoyen e Daiello. Estamos falando, é claro, do “sem-teto” do movimento “Não Vai ter Copa”, o senhor Guilherme Boulos.
Sâmia Bonfim, do MES (corrente morenista golpista do PSOL), denunciou à CNN Brasil, o que mostra a absoluta falência mesmo do setor do partido que não é completamente ligado às ONGs, que “estão fazendo uma manobra que nos tira espaço. Querem dar um golpe na proporcionalidade da direção do partido”, referindo-se ao grupo de Boulos. Ainda que o motivo seja um tanto bizarro e reacionário (“O PSOL precisa de independência para cobrar o governo a agir contra a reação do Congresso às posições progressistas do STF.”), é verdade o que coloca a deputada paulista. O PSOL foi engolido pelas ONGs.
Primeiramente, é preciso ter claro que Boulos “entrou” no PSOL para concorrer à presidência da república nas eleições de 2018 e agora tem quase 60% dos participantes do Congresso do partido a seu lado. Certamente que trazer alguém de fora do partido, com ligações com o movimento golpista para concorrer à presidência, é uma história, no mínimo estranha, no entanto, tal “tática” tem seu lugar nos estratagemas ultraoportunistas do partido esquerdista pequeno-burguês (basta lembrar o caso Cabo Daciolo). Mas fato é que, cinco anos depois, o funcionário de Walfrido Warde se tornou dono do partido, que se encontra numa intensa crise: diversos grupos menores já saíram e o “prestígio” que o PSOL tinha em meio à juventude esquerdista pequeno-burguesa universitária tem em grande medida sido direcionado à “misteriosa” Unidade Popular, o partido laranja do PCR.
Nas últimas eleições, o PSOL elegeu 12 deputados, a maioria deles sem história alguma na esquerda. São candidatos de proveta criados nas ONGs. Quem é Erika Hilton? Que história tem no movimento operário, estudantil ou de luta pela terra? Nenhuma. O mesmo pode ser dito de muitos outros, como Sônia Guajajara, amigo do peito de John Kerry, que não teve voto de índio algum para ser eleita no estado de São Paulo pela classe média identitária.
A política oportunista do PSOL permitiu que as ONGs se infiltrassem no partido, mas é preciso ter clareza do porquê deste setor ter sido capaz de dominá-lo. Na época de sua fundação, o PSOL apareceu como um racha do PT dirigido por alguns parlamentares; o motivo nada tinha de revolucionário, tratava-se de uma manobra para preservar capital político na sua base pequeno-burguesa devido à política neoliberal do primeiro governo Lula. Ou seja, tratava-se de um frágil partido esquerdista que não era nem ligado a movimentos sociais, nem aos capitalistas — era um típico partido pequeno-burguês. A questão toda é que, não havendo pressão de movimentos sociais reais, tais como o MST e a CUT, foi fácil para as ONGs, cheias de dinheiro do imperialismo, aos poucos tomar conta do partido.
Fica, então, a pergunta: o PSOL ainda é um partido de esquerda? Ainda que vigore a ilusão de que é um partido de esquerdistas, a realidade é que a força social que controla o partido hoje são justamente as ONGs, e, por extensão, o imperialismo que as financia. Não é à toa a intensa crise pela qual atravessa.
Este Congresso do PSOL é um grande aviso de que é preciso levar adiante uma luta intensa contra essa infiltração na esquerda, particularmente dentro do PT. Já vemos figuras do tipo como Jean Wyllys (ex-PSOL), que se “autoexilou” em Paris durante o governo Bolsonaro com verba da Open Society Foundation, de George Soros, e a ministra da igualdade racial, Anielle Franco dentro do partido de Lula. Ainda que a manobra seja muito mais difícil de ser bem-sucedida, dado o tamanho do PT e à sua ligação aos movimentos sociais reais, a realidade é que a interferência do imperialismo dentro da política brasileira através das ONGs é tema de primeiríssima ordem para um governo com aspirações nacionalistas.