Enquanto a UNE, comandada pelos discípulos da Damares da UJS, estava muito preocupada com a perseguição aos peladões da Unisa, devido à pressão das bases, foi decretada a greve estudantil na FFLCH que logo se espalhou para boa parte dos demais institutos da USP, e que ainda se encontra na ascendente.
Primeiramente, é preciso ter clareza que, de maneira muito semelhante ao que acontece com o movimento operário, apesar da paralisia das direções estudantis no último período, que pouco fizeram nos últimos anos, à exceção de um breve esboço de manifestações durante as eleições de 2022, particularmente nas universidades federais, existe uma tendência latente à mobilização dos estudantes.
Em segundo lugar, apesar de a “direção” do movimento grevista que acontece na USP estar nas mãos de setores golpistas da esquerda pequeno-burguesa (grupos do PSOL, PSTU, UP, PCB, MRT, etc.), não se trata de um movimento contra o governo Lula; mas sim de um movimento contra a política de destruição do ensino público levada adiante pelo governo do bolso-tucano Tarcísio.
Ou seja, é lamentável que o diretor da FFLCH, Paulo Martins, filiado ao PT, tenha comparado o movimento estudantil à direita bolsonarista, após sua medida ditatorial que buscava impedir a ocorrência da assembleia dos estudantes da FFLCH falhar e resultar na faísca que parece ter reacendido o movimento grevista na USP. Será, também, lamentável se o maior partido da esquerda nacional se mantiver às margens daquilo que acontece na mais importante universidade do País, que por sua influência pode-se facilmente transformar num movimento de dimensões nacionais.
Do ponto de vista daquilo que acontece dentro dos muros da USP, temos visto uma greve com piquetes e ocupação de prédios em diversos institutos; e ainda que a reitoria, e diversas diretorias, procurem evitar o confronto e esperem que a “onda passe”, estratégia visível na ciresca fuga do reitor, Carlos Gilberto Carlotti Junior, à França, é possível que justamente o oposto aconteça e que o movimento não perca o fôlego e ultrapasse os portões da Cidade Universitária.
Nesta linha, é importante que a greve na USP evolua para uma greve política que ultrapasse as demandas do sindicalismo estudantil; é preciso trazer à universidade o debate acerca das grandes questões nacionais, como a exploração do petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, a reversão das criminosas privatizações dos governos neoliberais, como a da Vale e da Eletrobrás, a luta contra o imperialismo e seus funcionários em meio aos esquerdistas brasileiros, etc.
Do ponto de vista tático, é preciso lutar pela formação de inúmeros comitês de greve em todas as unidades da universidade, assembleias constantes e uma intensa adesão dos estudantes à greve. É preciso lutar contra a política terrorista de alguns professores direitistas que ameaçam os grevistas com reprovações. É preciso lutar contra os parlamentares direitistas que defendem a exclusão de alunos por “destruição do patrimônio público”, uma vez que as grades da prainha foram colocadas abaixo pelos estudantes; sendo que estas foram ali colocadas com o intuito de sabotar o movimento estudantil na ECA, tendo sido, aliás, palco de uma Assembleia Geral na sexta-feira passada (22) em que participaram centenas de estudantes.
Finalmente, a greve dos estudantes na USP acontece em paralelo à greve dos metroviários e à luta contra a privatização da Sabesp e da CPTM. Se num primeiro momento o movimento grevista operário de fora dos muros da USP possa ter servido de influência positiva para o desenvolvimento do movimento grevista estudantil; é preciso lutar para que este sirva agora de dianteira para o primeiro: o senhor desembargador Celso Ricardo Peel Furtado de Oliveira “decidiu” que as linhas de metrô deveriam funcionar com 100% da capacidade em horários de pico, e com pelo menos 80% nos demais horários, sob pena de multa de quinhentos mil reais. Isso tudo pela greve ser “política”, uma verdadeira farsa que mostra que o direito de greve tornou-se um privilégio.
A juventude tradicionalmente serviu de ponta de lança na luta política devido à sua grande energia e ausência de preconceitos, é preciso disputar a consciência dos estudantes e procurar transformar uma greve nascente na universidade num amplo movimento em defesa dos interesses da classe operária.