No último dia 15, a Armênia e o Azerbaijão voltaram ao centro das atenções mundiais no que tange a conjuntura política internacional, em especial aquela da região do Cáucaso.
A razão foi novamente a disputa entre ambos os países pelo controle da região de Alto Carabaque, um enclave de população armena em sua maioria, situado no território do Azerbaijão.
Essa região é reivindicada pelos armênios não apenas como território seu, mas também como parte de sua história. Afinal, estima-se que há mais de dois mil anos esse grupo étnico tenha se estabelecido na região, atualmente conhecida como Alto Carabaque.
Durante séculos, o controle da região se alternou entre vários impérios e países. Na antiguidade, fazia parte do Reino da Armênia. Eventualmente caiu sobre da Pérsia, para então retornar ao Reino da Armênia. No século XIX, foi incorporada ao Império Russo.
Em 1917 dá-se a Revolução Russa, que leva ao fim do Império. Azerbaijão e Armênia tornaram a disputar o domínio sobre a região.
Em 1988, com a União Soviética já em crise, esta que eventualmente levaria ao seu fim, tem início a Primeira Guerra do Alto Carabaque, cujo termo inicial seu deu com o parlamento de Alto Carabaque votando por sua união territorial com a Armênia.
A guerra, que contou com cerca de 30 mil vítimas, duraria até o ano de 1994, em que um acordo de paz seria firmado com a mediação da Rússia. Resultado: vitória da Armênia, que ocupou territórios outrora do Azerbaijão, no entorno de Alto Carabaque, territórios estes fronteiriços à Armênia.
Apesar do fim oficial da guerra, e do acordo de paz mediado pela Rússia, a situação de conflito entre Azerbaijão, Armênia e Alto Carabaque nunca cessou. Durante décadas ocorreram múltiplas violações do cessar-fogo, sendo mais grave delas um conflito em 2016 que durou 4 dias.
Em 2020 iniciou-se a Segunda Guerra do Alto Carabaque. A fagulha responsável pela eclosão do conflito foi a decisão do primeiro-ministro da Armênia de transformar a cidade de Shusha, significado histórico e cultural tanto para os armênios quanto para os azeris, em capital de Alto Carabaque (ou da República de Arstakh, como é chamada pelos armênios). Então, o governo de Artsakh (Alto Carabaque) moveu o parlamento para a cidade, resultando na Segunda Guerra do Alto Carabaque. Estima-se que entre 6 e 7 mil pessoas tenham morrido na guerra.
Novamente, a Rússia interveio para mediar um acordo de paz. O cessar-fogo foi acordado em 20 de novembro de 2020, resultando em vitória do Azerbaijão. Derrotada, Armênia perdeu parte do território do Azerbaijão no entorno do Alto Carabaque, a mesma parte que ligava à região ao território da Armênia. Da mesma forma, perdeu um terço do território da região.
Assim, o Alto Carabaque passou a ser um enclave.
As tensões, no entanto, nunca cessaram por completo. Então, na última semana, nos dias 19 e 20 de setembro, o Azerbaijão lançou um ataque militar em larga escala contra região, ataque esse precedido por um bloqueio, iniciado em 19 de dezembro de 2022.
O Azerbaijão justificou o ataque alegando atividades terroristas por parte da população armena do Alto Carabaque. No caso, o ‘terrorismo” no caso é a própria existência do enclave, de forma que o Azerbaijão busca recuperar a autonomia sobre ele.
Quem impulsiona o conflito?
Um aspecto importante para uma compreensão da natureza do conflito pode ser observado nos mapas. A região do Cáucaso é de extrema importância por ligar o continente asiático ao europeu, sendo estratégica para o imperialismo.
Para além do conflito entre Azerbaijão e Armênia, toda a região em que eles estão localizados é uma região conflituosa, com fronteiras com o Irã, Georgia e Turquia. Estão muito próximos da Síria e do Iraque, evidenciando o aspecto muito sensível dos territórios ao redor. Há, finalmente, a proximidade com a Rússia e dos países do Oriente Médio, que estão em antagonismo aberto com os Estados Unidos (por exemplo, Irã e Síria).
Devido a essa posição geográfica, ambos os países são aliados da OTAN (ou seja, do imperialismo). Embora o Azerbaijão seja mais próximo da Turquia, cujo governo vive se equilibrando entre o imperialismo e o bloco dos países oprimidos, é seguro afirmar que o governo do país está infiltrado pelos EUA.
Por sua vez, na Armênia ocorreu uma revolução colorida no ano de 2018. Foi bem sucedida. E, como toda revolução colorida de sucesso, o imperialismo assumiu as rédeas do país. Seguramente o imperialismo ianque esteve por trás dessa revolução. Mas há rumores de que franceses também deu sua contribuição.
Naturalmente, a revolução colorida foi capitaneada por ONGs financiadas pelo imperialismo. Uma das principais foi a famosa Open Society Foundations, do velho conhecido George Soros.
Resultado da “revolução”? Um governo completamente servil aos Estados Unidos. Consequentemente, antagônico à Rússia. Antagonismo este que foi crescendo progressivamente desde o golpe.
Assim, vai se esclarecendo o que de fato ocorre na região do Alto Carabaque.
Trata-se de um conflito estimulado pela OTAN, pelo imperialismo, visando fazer criar um conflito nas proximidades da Rússia e para a Armênia romper completamente sua relação com o gigante eslavo, terminando por fazer uma aliança com a OTAN (senão tornar-se parte da mesma). Isto fico clara quando se constata que inúmeras manifestações realizadas pelos armênios em Alto Carabaque, manifestações contra a ofensiva do Azerbaijão, contam com pedidos expressos para a OTAN intervir em favor do enclave e de sua população.
Simplificando: o imperialismo estimula o conflito étnico entre armênios e azeris para desestabilizar aquela região do Cáucaso, a fim de exercer um maior domínio sobre ambos os países.
De sobra, abrir espaço para uma investida contra a Georgia, a fim de dominar toda a fronteira sul da Rússia com o Cáucaso. Assim como se deu com a Ucrânia, o imperialismo busca cercar a Rússia por todos os lados.
É, igualmente, uma tentativa do imperialismo de se estabelecer firmemente em uma região estratégica para que ele possa dominar novamente os países do Oriente Médio sobre os quais ele perdeu o controle.
Lembrando que, por serem países intercontinentais, parte da fronteira que liga a Ásia e a Europa, é uma região estratégica aos EUA e ao bloco imperialista para o saque do petróleo dos países Ásia Central. Em especial pelo controle que poderia ser estabelecido sobre o Mar Cáspio.
Assim, é necessário denunciar diuturnamente mais esse conflito étnico estimulado pelo imperialismo. Lembremos o que o imperialismo francês fez em Ruanda; o que o ianque fez no Kosovo, e o que o britânico fez entre a Armênia e a Turquia.
De forma que o conflito entre Armênia e Azerbaijão, pela região do Alto Carabaque não é o primeiro conflito étnico impulsionado pelo imperialismo. Certamente não será o último.