Na última semana, o jornal O Globo, bem como o portal UOL/Folha de S.Paulo, divulgaram o que supostamente Mauro Cid teria dito à Polícia Federal em sua delação premiada. As informações não foram confirmadas pela defesa do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O mais importante relatado pelos veículos golpistas teria sido uma reunião de Bolsonaro com os comandantes das três forças armadas brasileiras: Marinha, Exército e Aeronáutica. Segundo o que a imprensa divulgou, Mauro Cid teria acusado Bolsonaro de ter proposto a esses comandantes um golpe de Estado.
Será difícil comprovar se a conversa de fato aconteceu. Em primeiro lugar, sequer foi comprovado se esse é de fato o conteúdo da delação – até agora, não passam de informações veiculados pelo O Globo e pela Folha de S.Paulo. Em segundo lugar, ainda que a imprensa tenha sido fiel ao conteúdo da delação, a palavra de Mauro Cid não é suficiente para provar nada, São apenas palavras, e obtidas sob um método ilegal, que é o da delação premiada.
Apesar da dificuldade de se provar juridicamente a ocorrência ou não de um grave crime de Bolsonaro, que teria sido a proposta de um golpe militar, a suposta delação já é o suficiente para esclarecer o cenário atual.
Se de fato for verdade que Bolsonaro propôs um golpe de Estado, o que há de mais escandaloso nisso tudo é que a alta cúpula das Forças Armadas teria sido, no mínimo, cúmplice do crime de Bolsonaro. Afinal, nem o comandante da Marinha, nem o comandante da Aeronáutica, nem o comandante do Exército teriam denunciado o então presidente da República. No mínimo, todos eles teriam encoberto a tentativa de Bolsonaro de fechar o regime.
A suposta delação, assim, tem o mérito de colocar as Forças Armadas no olho do furacão. Agora, ou o Judiciário vai ter de abrir mão de seu plano de prender Bolsonaro, invalidando a delação, ou irá validar uma delação que diz que a alta cúpula das Forças Armadas cometeram um crime grave.
Curiosamente, diante da delação de Mauro Cid, a imprensa praticamente se calou. Nem O Globo, nem a Folha de S.Paulo, que se encarregaram de vazar a suposta delação, publicaram um único editorial criticando a suposta conduta criminosa dos comandantes das forças armadas. Outros órgãos importantes da imprensa capitalista, como o Estado de S. Paulo, também se mantiveram calados.
Já se passou quase uma semana do vazamento da suposta delação. E o silêncio permanece.
Moral da história: quando Bolsonaro dá uma resposta mal-educada a um jornalista, quando se diz contrário à vacina ou quando parece ter se metido em algum trambique, rapidamente a imprensa faz disso um escândalo. Quando os militares são pegos em uma conspiração contra todo o povo brasileiro, nem um único jornal ousa criticar a “falta de republicanismo” das “instituições”.