Outdoors espalhados por vários pontos da capital da Índia. Vídeo com atrizes “globais” exibido em um dos lugares mais badalados do mundo, a Times Square em Nova Iorque. Um detalhe interessante da campanha em defesa de uma “mulher negra no STF” foi a localização geográfica de algumas de suas principais peças de propaganda. Ficou claro e evidente que foi realizado um desproporcional investimento publicitário no exterior.
Já no Brasil, o mesmo empenho e entusiasmo não foi notado. Salvo alguns tímidos shows de luzes em prédios públicos, algumas mirradas ações de rua aqui e ali, alguns comentários em programas de comediantes de quinta categoria e matérias na imprensa burguesa, a campanha não teve maior apelo popular. Mais corretamente, deveríamos dizer que ela não teve, e não tem, nenhum apelo popular. Só mais recentemente, os seus promotores lembraram que a campanha em prol de uma “mulher negra no STF” deveria dizer respeito também… aos brasileiros. E correram para fixar uma faixa no favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Esse fato, por si só, diz muito sobre a natureza da campanha. Trata-se de uma campanha impulsionada de fora do país. Quem a leva adiante são ONGs financiadas direta ou indiretamente pelo imperialismo, em especial o norte-americano ― é o caso do Instituto de Defesa da População Negra (IDPN), que produziu o vídeo exibido com pompa e circunstância em Nova Iorque, e da organização “Mulheres Negras Decidem”, que elaborou uma lista tríplice com nomes de juristas negras para pressionar Lula na sua próxima escolha para a vaga do STF. Tais organizações recebem dinheiro de instituições como a Fundação Ford e a Open Society Foundations, conhecidíssimos instrumentos de atuação do imperialismo mundo afora.
Alimentada com dinheiro norte-americano sobretudo, a defesa de uma “uma mulher negra no STF” conta com o apoio da burguesia local ligada ao imperialismo e da pequena-burguesia de esquerda, identitária, igualmente vinculada ao imperialismo. De popular, a campanha não tem nada. E até mesmo os seus estrategistas e publicitários se esqueceram de se dirigir ao povo brasileiro, composto majoritariamente de pobres e negros. Uma faixa na favela da Rocinha, aos 45 minutos do segundo tempo, só escancara o caráter pró-imperialista e antipopular da orquestração. O artificialismo da manobra é notável. Procuram agora conferir um tom popular a algo gestado no ninho dos piores inimigos do povo.
À medida que ganha contornos mais claros, torna-se também mais cristalino que a histeria em torno da “mulher negra” é realmente o prelúdio de uma campanha golpista. Busca, por um lado, colocar um elemento “lavajatista” no STF, um elemento que dance conforme a música tocada pelo imperialismo, e, por outro, iniciar uma ofensiva, pela esquerda, contra o governo Lula, à semelhança do que acontecera com o governo Dilma Rousseff, que teve que lidar com movimentos como o que se organizou contra a usina de Bela Monte e o “Não Vai Ter Copa”, movimentos esses que atuaram como ala esquerda da campanha golpista contra o governo do PT.
Colocar uma mulher negra no STF não significa absolutamente nenhum avanço na luta do negro e da mulher. Consiste pura e simplesmente numa reivindicação abstrata, desvinculada das reais necessidades do povo pobre e oprimido. O que uma mulher negra fará na corte suprema do Poder Judiciário brasileiro? Servirá apenas para emprestar um verniz “democrático” à atuação arbitrária, antidemocrática e antipopular que o Poder Judiciário sempre desempenhou.
A ideia de que representaria um “enfrentamento ao racismo” ou de que o regime ficaria mais democrático com essa medida é completamente falsa. Mais ainda, não passa de uma política agora adotada pelo imperialismo (por isso bem financiadas) para controlar todo um setor da esquerda e arrefecer a luta dos setores oprimidos da sociedade.
Ao fim e ao cabo, o próprio esquema de propaganda montado pelo imperialismo tratou de revelar a essência da campanha ― é muito mais importante a Times Square do que a Rocinha.