Em novo editorial, “O Brasil voltou. Lula também”, o Estado de S. Paulo voltou a atacar o presidente, mas deixou claro que a divergência é pela defesa da submissão do Brasil aos interesses estrangeiros.
A partir da defesa da pauta considerada “civilizada” na ONU, o jornal também procurou retirar de Lula o protagonismo por todo o discurso. O Estadão apresenta um Lula que atende a “tradição” de uma “diplomacia ancorada há mais de um século no respeito ao Direito Internacional e no interesse dos brasileiros.”
Isso é um grande mito!
Na realidade, historicamente a diplomacia brasileira oscilou entra a soberania nacional e o entreguismo. O que dizer da diplomacia dos tempos de um Dutra, que transformou o Brasil em uma colônia norte-americana? E a diplomacia durante o governo FHC, fiadora da Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA)? Esta estrepolia só não vingou graças à Lula. Ou seja, não apenas com Bolsonaro o Itamaraty foi instituição a serviço do imperialismo.
Durante a campanha eleitoral de 2002, Lula denunciou que a Área de Livre Comércio das Américas – que seria implantada se José Serra vencesse as eleições – era “uma política de anexação, e nosso país não será anexado” (Brasil não será anexado à economia dos EUA, Luiz Inácio Lula da Silva; 07/08/2001; ALAINET), demarcando claramente o posicionamento do presidente operário frente aos problemas que nos aflige, não necessitando de um Itamaraty geralmente entreguista, com raras exceções.
Existe uma tentativa histórica da imprensa capitalista dizer que Lula é analfabeto e sem juízo, por ser um representante dos trabalhadores. O Estadão tenta reeditar na presidência, justamente uma pessoa como FHC, considerado civilizado, mas que é entreguista o suficiente. Ao mesmo tempo em que ataca Lula, o editorial tenta colocar Bolsonaro como exemplo daquilo que o Brasil não deve fazer na ONU, embora Bolsonaro seja tão neoliberal como FHC.
Para manipular, o jornal afirma: “É certo que o Lula de sempre, impregnado pelo dogmatismo retrógrado do PT, também voltou a dar o ar da graça”. “O texto lido pelo presidente na tribuna da ONU traz a digital de diplomatas comprometidos com os valores da Casa de Rio Branco”.
Contudo, reafirma-se que o Itamaraty, de forma geral, não tem todo esse compromisso com a formulação de políticas que nos tire da dominação estrangeira.
Com exceções, a originalidade de pensamento nacional não é nenhuma tradição. Porém, os jornais reproduzem aquilo que se diz, sem ao menos conhecer o Itamaraty e os mais diversos quadros conservadores da instituição.
Em contraposição aos elogios ao Itamaraty, choveu críticas à Lula. O presidente não pode afirmar nada que ferisse os interesses burgueses e imperialistas defendidos pelo Estadão, como, por exemplo, a menção certeira ao neoliberalismo. Lula apresentou a crítica correta de que o neoliberalismo leva automaticamente à maior desigualdade e estimula a extrema-direita.
Porém, o Estadão, que assume o compromisso com a miséria do País, afirma que “Lula está atracado no arcaísmo ideológico da esquerda, fez-se também presente nas Nações Unidas – seja para agradar à militância petista, seja para refletir convicções de quem ainda vê o mundo sob a ótica sindical”. Sem dúvida que é um ataque frontal aos trabalhadores.
O papel do Estado para o jornal é de apenas ser gestor de crises, enquanto Lula quer colocar o Estado para resolver um dos problemas candentes do mundo, a miséria das massas proletárias.
Percebe-se, pelo grau de desrespeito à Lula, aos trabalhadores e pela distorção do papel da diplomacia brasileira ao longo da História. Para a burguesia brasileira, que se sente um puxadinho dos Estados Unidos, o País vai melhor com FHC, alguém que entregue o País. Lula não almeja isso, por isso o Estadão se incomoda com as falas do presidente, que o jornal da burguesia chama de “delírios a respeito do tal “Sul Global”.
Lula está no caminho certo da diplomacia. Entretanto, como visão nacionalista, e por saber jogar o grande jogo político, Lula é assertivo quando lemos editoriais como esse, completamente defensor do neoliberalismo, do imperialismo usurpando o País e na ofensiva contra os trabalhadores.
Para o Estadão, o que agrada mesmo é ver o País submisso, vivendo de uma “agenda verde de desenvolvimento dependente de investimentos externos”. Nessa questão, o jornal golpista fecha com a esquerda pequeno-burguesa, que esteve entusiasmada com os festivais sobre a Amazônia, promovidos por setores entreguistas do governo, em plena Times Square, com direito a telão e música nas ruas de Nova Iorque. Isso não é, de modo algum, bom para o Brasil. Mas, Lula está certo em reafirmar a soberania do País atacando o neoliberalismo.