Neste dia 11, completam-se 50 anos de um dos episódios mais tenebrosos da história latino-americana: o golpe do Chile. Arquitetado pelo imperialismo norte-americano, o então democrático general Augusto Pinochet comandou uma operação de guerra para destituir o então presidente Salvador Allende e consolidar a ditadura que se estabeleceria a partir de então.
No dia do golpe, orientados pelos EUA, os militares chilenos bombardearam a sede do poder executivo chileno, o Palácio de La Moneda, com o presidente Allende dentro. O então mandatário do país morreria no ataque, tendo anunciado instantes antes a marcha do golpe em transmissão de rádio ao país:
“O capital estrangeiro e o imperialismo, juntamente com a reação, criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem com a sua tradição (…) para continuar a defender os lucros e os privilégios”, disse. Pouco depois, Allende seria morto.
A ação dos golpistas começou na cidade litorânea de Valparaíso (116 km da capital Santiago), com a Marinha iniciando as operações na madrugada de 11 de setembro. Na capital, a operação fora comandada pelo próprio Pinochet. Confrontos explodiram nas ruas, nos bairros operários e nas fábricas ocupadas pela reação espontânea e desorganizada dos resistentes, que, sem ajuda do governo por eles eleito, tentava impedir a concretização do golpe. Em vão.
O ataque ao Palácio de La Moneda, para onde Allende se dirigiu e acabou morto, completou a vitória da burguesia e do imperialismo sobre os trabalhadores chilenos. Com o sucesso do golpe, 17 anos de um regime de terror seria iniciado, sustentado por métodos típicos de guerra civil, com execuções sumárias e em massa, tortura em escala industrial, perseguição implacável a líderes operários, a membros do governo deposto, dissolução dos sindicatos e partidos, revogação de todos os direitos trabalhistas (entre os quais a previdência pública) e censura marcariam este novo período. Pelo menos 3.621 mulheres foram presas, das quais 3.399 denunciaram ter sido vítima de estupros, com 300 grávidas, segundo a chocante denúncia apresentada à Comissão Valech, instituída para investigar os crimes da ditadura chilena.
Somado a estes crimes, no campo da economia, a ditadura chilena se notabiliza pela aplicação feroz da nascente política econômica neoliberal, já na época marcada por ataques aos direitos trabalhistas e escancaramento da economia nacional à sanha das potências imperialistas. A previdência social, então estatal, foi privatizada, sendo o ponto central da crise social que ainda hoje tem reflexos trágicos no país, campeão de suicídios entre idosos.
Líder da coalizão Unidade Popular (união entre os partidos Socialista e Comunista), Allende foi eleito com mais de 1 milhão de votos (36,62% do total, ligeiramente superior a 2,9 milhões de eleitores). Apesar do programa de reformas ambicioso, prevendo a nacionalização de recursos naturais como o cobre, o governo nada conseguiu fazer para impedir o golpe. No caminho inverso, empossou como comandante das forças armadas alguém até então apresentado como um “legalista” e democrático, o mesmo Pinochet que comandaria uma das mais brutais ditaduras militares do século.