Um tribunal dos Estados Unidos condenou o governo argentino a pagar a dois acionistas US$ 16 bilhões por estatizar a YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales). A primeira pergunta que qualquer um deveria fazer seria: Quem dá o direito aos EUA arbitrarem questões internas da Argentina?
A estatal YPF foi fundada em 1922 e privatizada em 1993. Durante o governo de Cristina Kirchner foi aprovada uma lei de expropriação, e em 2012 a empresa foi reestatizada, saindo do controle da petrolífera espanhola Repsol.
O governo argentino pagou o equivalente a US$ 5 bi em títulos do governo pela maioria acionária, pelos quais pagou juros de 8%.
A Argentina adquiriu 51% das ações após acusar a Repsol SA de não investir recursos suficientes na produção de petróleo. Até que, após um acordo, a empresa espanhola foi compensada em US$ 5 bilhões.
A Buford Capital comprou empresas extintas que detinham 25% das ações da YPF antes de a empresa ser novamente nacionalizada.
Ingerência externa
Segundo a decisão de um tribunal de Nova York (EUA), a argentina deverá indenizar Peterson e Eton Park, além de outros acionistas menores porque, supostamente, a empresa teria sido re-estatizada de maneira ilegal. Segundo os ex-acionistas, a empresa teria obrigação de fazer ofertas públicas das ações que restaram a outros investidores.
Os reclamantes receberam apoio da Buford Capital para processarem a Argentina. Com fim da batalha judicial que se estabeleceu, o governo foi condenado a pagar US$ 8,4 bilhões por danos, mais US$ 7,6 bi em juros.
Após a decisão, que ocorreu nesta sexta-feira (6), as ações da Buford Capital, uma gigante no ramo dos litígios, dispararam e tiveram um aumento de 28%.
O governo da Argentina classificou a decisão como “equivocada e sem precedente” e soltou um comunicado alegando que “Este caso sobre os direitos dos ex-acionistas de uma empresa argentina não pertence a um tribunal dos EUA”. A Argentina promete recorrer.
A porta-voz do governo argentino, Gabriella Cerruti, publicou no X (antigo Twitter) a seguinte mensagem: “Continuaremos defendendo a soberania energética e nossa empresa estatal YPF contra os fundos-abutres”.
Modus Operandi
O imperialismo se vale de instrumentos ‘legais’ para saquear outros países, como aconteceu com o Brasil, que no âmbito da Lava-jato, viu a Petrobrás pagar uma multa de R$ 2,5 bilhões aos Estados Unidos, sendo que parte do dinheiro deveria ser pago a uma fundação ‘anticorrupção’ a ser administrada pelo Ministério Público do Paraná e representantes da ‘sociedade civil’.
Os Estados Unidos aplicam todo o tipo de ataques contra países atrasados, como bloqueio de contas, confisco de bens, sanções comerciais, bloqueios etc. Não é à toa existe no mundo uma verdadeira insurreição contra a moeda americana.
Desde o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, e subsequente bloqueio econômico contra o país, que os países ditos do “Sul Global”, estão tratando de fazer transações comerciais em moedas locais. Até mesmo a Arábia Saudita, historicamente ligada aos interesses americanos, tratou de negociar petróleo com a China em yuan, deixando de lado os petrodólares.
Essa medida dos sauditas fez com que a grande imprensa se desse conta de que aquele país é governado por uma ditadura. Até ontem, os governantes da Arábia Saudita eram tratados como reis e príncipes.
BRICS
A decisão da corte americana pode muito bem ser uma retaliação ao fato de a Argentina ter sido recentemente aceita no BRICS, ao lado de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã.
Esse bloco econômico tem contrariado os interesses do imperialismo. Não bastasse o fato do BRICS contar com a participação de China e Rússia, os principais adversários dos Estados Unidos, o bloco está promovendo que os países integrantes negociem por fora do dólar.
Essa medida de força do imperialismo apenas reforça a ideia de os países atrasados devem lutar com mais vigor ainda contra essa verdadeira ditadura que os países ricos, liderados pelos Estados Unidos, exercem sobre os países atrasados.