O imperialismo sofreu derrotas importantes no continente africano no período recente, a última foi o golpe dos militares no Gabão, país que está fora da região do Sahel, onde a crise é ainda mais profunda. Tal situação expressa o enfraquecimento do domínio imperialista sobre os países atrasados e uma tendência geral de luta dos povos africanos. A imprensa burguesa busca apresentar as recentes derrubadas por militares de prepostos do imperialismo em países da África como uma tendência de recessão “democrática” no continente.
Para os porta-vozes do imperialismo, o sentimento contrário à França estaria sendo explorado para golpes clássicos com a tomada do poder à força. Não há qualquer consideração sobre presença militar do “ex-poder colonial” nestes países pelos meios de comunicação tradicionais, que também buscam isentar de culpa a “influência francesa” sobre o atraso econômico e a falta de investimentos em áreas como saúde e educação. Através de pesquisas falsificadas por ONGs imperialistas, buscam afirmar que o povo defende a suposta “democracia” que vigorava nestes países.
A crise do domínio imperialista sobre a região do Sahel atinge pelo menos seis países da África, mas o golpe militar no Gabão demonstra que há uma tendência de se generalizar por todo continente. Além da derrubada do ex-presidente gabonense Ali Bongo, ocorreram outros dois golpes nos últimos doze meses no Sahel, na Burkina Faso em novembro de 2022 e no Níger mais recentemente. A expulsão das forças militares e representações francesas pelos militares escancaram o caráter anti-imperialista da derrubada dos governos destes países.
Tendo em vista a experiência da ditadura de 1964 no Brasil, a imprensa burguesa utiliza da questão dos militares como fator de confusão, mas nem todo movimento desta natureza tem um sentido reacionário. Basta recorrer ao Movimento Tenentista, a Coluna Prestes e até mesmo no cenário internacional como a ala das Forças Armadas venezuelanas lideradas por Hugo Chávez. Não é incomum emergir desses setores os elementos mais avançados, principalmente em países bastante atrasados economicamente, onde há um setor operário muito débil ou praticamente inexistente.
Evidentemente que os golpes nestes países se trata do desenvolvimento da crise capitalista global, a derrota dos Estados Unidos no Afeganistão encorajou a tomada de decisão da Rússia, que vem impondo uma derrota acachapante sobre a OTAN na Ucrânia. Estes acontecimentos também serviram de cálculo para os golpes militares nos países africanos que claramente buscam se apoiar na China e principalmente pela Rússia, os quais também sofrem com sanções econômicas como parte de uma guerra comercial e lideram os países dos BRICS.
Esses países africanos possuem enormes riquezas naturais, o urânio do Níger era responsável pela produção de 15% de toda energia elétrica consumida na França, que também detinha o controle sobre as jazidas de manganês e petróleo do Gabão. Essa situação demonstra a relação de exploração do imperialismo sobre esses países e que os mesmos nunca se tornaram verdadeiramente independentes.
É importante salientar que os golpes militares no Mali, Burkina Faso, Níger e Gabão tem amplo apoio popular. Portanto, se trata de movimentos senão revolucionários, ao menos progressistas, nesses países. Como efeito desses acontecimentos condenados pelo imperialismo, os governos capachos de seus interesses buscam conter essas ondas como no Camarões que promoveu um grande expurgo em suas Forças Armadas.
Não se pode ter qualquer dúvida sobre qual posição a esquerda deve defender diante dessa luta, independentemente de se tratar de setores militares ou da questão ideológica como atribuída ao Talibã, por exemplo. A luta dos operários e da população explorada de todo o planeta é a luta contra a dominação do imperialismo. Viva o golpe militar na República Centro-Africana, no Mali, na Burkina Faso, no Níger e no Gabão! Abaixo imperialismo nos países atrasados de todo mundo!