Ao defender o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, Lula afirmou que a “democracia é relativa”. A fala do presidente brasileiro foi criticada pela direita como sendo uma “defesa da ditadura”, mas a crítica só prova justamente o que Lula falou.
E Lula está certo. Tudo o que é apoiado pelos países imperialistas é democrático, segundo a propaganda em sua imprensa, já os regimes que não têm o apoio do imperialismo são ditaduras. Nesse sentido, um regime com muitas eleições pode ser uma ditadura, como bem afirmou Lula a Venezuela “tem mais eleições do que o Brasil, desde que o [ex-presidente Hugo] Chávez tomou posse”, seriam 29 eleições em 24 anos.
Por sua vez, quando o imperialismo dá golpes de Estado como os que ocorreram na América do Sul nos anos 60 e 70, colocando ditaduras sangrentas no poder, só décadas depois, bem timidamente, elas serão chamadas de ditaduras. Outro caso bem interessante é o da Arábia Saudita. Reconhecidamente um dos países mais fechados do mundo, na propaganda imperialista o Irã, mais liberal, sempre foi muito mais ditadura do que lá. Mas eis que agora que os sauditas se agrupam com o Irã, com a Rússia e entram nos BRICS, o imperialismo descobriu uma ditadura na Arábia Saudita.
Essa mesma “relatividade” pode ser aplicada no caso da África. Os vários golpes nacionalistas que aconteceram em Burquina Faso, Mali, Níger e Gabão acabaram com a “democracia” imposta pelo imperialismo.
O golpe no Gabão, por exemplo, derrubou o presidente Ali Bongo que havia acabado de ser eleito com 65% dos votos. Misteriosamente, esses votos não se transformaram em apoio popular, pelo contrário, quem mostrou ter apoio foram os militares golpistas. Obviamente que essa democracia que daria o terceiro mandato para Ali Bongo que, por sua vez, herdou o poder do pai, Omar Bongo, presidente de 1967 a 2009, quando morreu.
Em todos os casos, o imperialismo reivindicou a “democracia”, acusando os golpistas de serem ditadores.
Mas essa democracia dos países imperialistas era apenas uma fachada para roubar esses países. Os governos depostos pelos golpistas eram marionetes dos interesses franceses e norte-americanos. É para isso que serve a tal “democracia”, apenas uma cobertura para espoliar os países.
O povo comemorou todos esses golpes não porque ama ou odeia essa “democracia”, mas porque cansou de ser roubado pelos países estrangeiros. A melhor democracia é aquela que garante ao povo o mínimo de existência, que garante que um país possa aproveitar suas riquezas em benefício próprio.
O imperialismo, que grita agora contra o golpe e levanta a “democracia” para atacar esses países, é quem deixou e deixa o povo africano na mais absoluta miséria.