Na terça-feira, dia 5 de setembro, o presidente do Comitê para a Transição e Restauração (CTRI) do Gabão, o general Brice Oligui Nguema, anunciou a soltura de presos políticos do governo de Ali Bongo, deposto no dia 30 de agosto por um golpe militar. “Anistia aos presos políticos”, declarou o general, cumprindo com a promessa que fizera no dia anterior, quando foi oficializado presidente da transição. Nguema também prometeu facilitar o regresso dos exilados que se encontram no exterior.
Entre os beneficiados pela medida de Nguema, estão Jean-Remy Yama, líder da Coligação dos Sindicatos dos Servidores Públicos do Gabão, detido em fevereiro de 2022, Renaud Allogho Akoue, antigo diretor-geral do Fundo Nacional de Segurança Social e Saúde do Gabão, que foi preso em dezembro de 2019, e Léandre Nzué, antigo presidente da Câmara da capital do Gabão, Libreville.
Em declaração à imprensa logo após a sua soltura, Jean-Remy Yama, visivelmente emocionado, se mostrou agradecido:
“Agradecemos a quem está trabalhando por esta ação, começando primeiro por Deus Todo-Poderoso. É ele o senhor dos tempos e das circunstâncias. Quero agradecer também ao instrumento, ou seja, à pessoa que Deus usou. Isto é, o presidente que ontem foi empossado porque foi ele quem transformou em ato a sua palavra. Agradeço às novas autoridades que deram esperança, e digo que esta esperança deve continuar”.
Yama foi acusado de peculato e abuso de confiança. Os sindicatos do Gabão, no entanto, afirmam que as acusações são fraudulentas e que o motivo da prisão de Yama viriam de suas críticas ao regime dos Bongo.
“Para ser acusado de desvio de fundos públicos, é necessário ter gerido fundos públicos e ocupado cargos públicos”, protestou o líder sindical. “Mas esse não foi o meu caso. E todas as vezes, os meus advogados lembraram aos tribunais que estamos numa forma de ilegalidade e que o artigo 68.º da Constituição, parágrafo três, não foi aplicado. O que este artigo diz? Que o juiz, no exercício de suas funções, está sujeito apenas à autoridade da lei”.
Jean-Remy Yama permaneceu preso por 18 meses. Ao final de sua declaração à imprensa, ele demonstrou seu apoio à junta militar que depôs Ali Bongo: “sou um lutador pela liberdade, pela justiça e hoje o regime que está em vigor defende a justiça, defende o regresso de determinados valores”.
Léandre Nzué, que hoje já conta com 62 anos e já foi membro do birô político do Partido Democrático do Gabão, de Ali Bongo, disse à televisão nacional do Gabão que a junta militar o salvou da “tortura mental e psicológica” que estava sofrendo na Prisão Central de Libreville. Ele, que se tornou um crítico de Ali Bongo, acusando-o de servir à própria família, e não ao Gabão, foi preso acusado de roubar os fundos públicos. Nzué disse estar muito grato a Brice Oligui Nguema por ter ordenado a sua libertação, onde esteve encarcerado ilegalmente durante três anos, sem julgamento, e que estaria disponível “para qualquer coisa”.
Renaud Allogho Akoue, que havia sido condenado a 10 anos, afirmou que Nguema, com esse ato, teria mostrado “que é um patriota”. “O Gabão precisava disso. Há muito tempo que esperávamos por isso. Aconteceu através do General Brice Oligui Nguema e de todo o comité de transição. Como gabonense, saúdo-os e felicito-os”.