Em entrevista ao jornal Le Figaro, no dia 1 de setembro, o ministro francês das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, anunciou que não irá suspender a cooperação militar em entre o exército francês e o governo de Mohamed Bazoum, em meio ao golpe de Estado realizado na virada do mês no Niger, no entanto anunciou a saída de mais de 400 soldados franceses no Gabão, país do qual um outro golpe de Estado, contrário ao imperialismo francês, foi executado na última semana.
Sobre o caso do Níger Lerconu afirmou: “A partir do momento em que esta luta deixa de ser a prioridade dos poderes de fato, como é o caso do Mali, não temos razão para ficar. No Níger, a questão não se coloca exatamente nestes termos porque reconhecemos apenas a autoridade do presidente Bazoum”.
Tendo em vista a enorme crise no Gabão e a dificuldade do imperialismo francês em sustentar um regime ditatorial e atrelado financeiramente a burguesia francesa, o ministro afirmou que o imperialismo francês irá se retirar. Lecornu ressaltou que isso ocorre pois haveria uma “diferença” entre Gabão e Níger, onde no primeiro há uma luta devido os militares alegarem que há um desrespeito à lei eleitoral e à Constituição, e no Níger, o golpe seria meramente “ilegítimo”.
Lecornu enfatizou que “é responsabilidade do país garantir a segurança da embaixada de acordo com o direito internacional”, quanto a segurança do ex-presidente do Níger. E também declarou que “a instabilidade em alguns países não pode ser atribuída apenas à presença militar francesa” mas também a China e a Rússia. Onde de forma cínica acusa os dois países de estarem provocando um confronto na África, ignorando totalmente o fato de que em todos os casos os países são há séculos dominados pela política colonial e de pura repressão do imperialismo francês.
Fato é que a crise se espalha em mais de 10 países em toda a África, todos eles atrelados diretamente ao controle do imperialismo francês no continente. A França enfrenta crises e sofre com cooperações militares sendo rompidas em Burquina Faso, Mali, Guiné e Nigéria, além de Gabão e Niger. Como não bastasse, outros países da região, como Camarões, já vem realizando expurgos em suas Forças Armadas temendo a organização de novos golpes de Estado no continente.
Os dados demonstram que, apesar das declarações do ministro francês, o que está em jogo de fato é o controle do imperialismo francês no continente africano. Impulsionados pela vitória do Talibã no Afeganistão e sobretudo pela vitória da investida russa contra as forças da OTAN, inúmeros países africanos estão sofrendo em seu interior verdadeiras revoltas populares, encabeçadas por setores das Forças Armadas locais, contra o domínio do imperialismo francês.
A saída anunciada de inúmeras tropas francesas do continente africano abre caminho para o fim das cooperações militares da França na África. Até o momento, estas cooperações existiam com o pretexto do combate ao “terrorismo”, no entanto, com a enorme crise em desenvolvimento, os regimes locais se colocam em risco ao manter uma relação desta natureza com o Exército francês.
A crise também revela o enfraquecimento do poderio francês na região. Sendo um dos principais países imperialistas do mundo, a França está enfrentando uma das maiores crises com seus domínios colonias em sua história. Mesmo supostamente independentes, países como Níger, Gabão, entre outros eram obrigados a se submeterem ao controle político, militar e sobretudo, econômico da França. A revolta, apoiada sobretudo pela Rússia, é um avanço no sentido da luta por uma África independente da ditadura imperialista.