A Liga Internacional dos Trabalhadores, organização internacional à qual o PSTU é filiado, publicou uma matéria comentando a questão do golpe no Gabão e demonstrando grande confusão sobre o tema. Como ocorre com todos os outros golpes recentes da África, a incapacidade de analisar corretamente a questão da luta entre nacionalismo burguês e imperialismo nesses casos leva a essa análise extremamente equivocada.
O próprio articulista reconhece que as eleições que levaram Bongo ao poder foram fraudulentas, o que não poderia ser diferente, considerando que ele está há décadas no poder esfolando a população e entregando o país para o imperialismo francês, tendo sido precedido por seu pai, que também levava adiante a mesma política. No entanto, isso é apenas um aspecto da questão. A questão de seu colaboracionismo com os franceses não é considerada, e é por isso que a análise é bastante incompleta e chega a conclusões erradas.
O autor considera que o golpe se dá porque a burguesia gabonesa se aproveita do sentimento de revolta do povo de seu país. Segundo ele, o golpe foi “um freio na consciência política do povo e da classe trabalhadora do Gabão, e não só pelo fato dos golpes de estado são reacionários, mas sim, é um golpe puramente burguês” (sic). Ele considera que a burguesia do Gabão e os militares responsáveis pelo golpe estão “afundados” em “todos crimes financeiros e de empobrecimento do Gabão”, e que isso seria o suficiente para caracterizar de forma totalmente negativa o golpe.
O autor também levanta o fato de que a figura de proa do golpe de estado seria um “um General, multibilionário, burguês, Brice Clotaire Oligui Nguema, envolvido em casos de corrupção, em organizações criminosas, e também foi quem trabalhou arduamente para manutenção do regime em 2018, após ser nomeado chefe da inteligência da guarda republicana, na qual criou uma força especial de mais de duas centenas de homens, bem treinados e com armamentos de última geração para defender os seus interesses junto com o presidente deposto Bongo”.
A LIT demonstra a total incapacidade da esquerda pequeno-burguesa em se posicionar nos conflitos internacionais que envolvam o imperialismo. Em toda a matéria, a questão do imperialismo francês, que vinha subjugando o povo gabonês, não é citada em nenhum momento. A ideia é se concentrar em aspectos secundários, numa discussão totalmente despolitizada sobre corrupção, crimes financeiros, etc.
A tese de que a burguesia gabonesa se aproveitou da insatisfação da população para promover um golpe contra o próprio povo também é abusiva. O povo apoiou o golpe porque enxerga nele a sua libertação diante de um poderosíssimo opressor, que é o imperialismo. Bongo, que ocupou por décadas o cargo de presidente do Gabão, era um colaborador de longa data dos franceses. Na própria França, a crise foi gigantesca, com Mellenchon, da esquerda moderada, criticando Macron por ter apoiado Bongo “até o fim”. No entanto, para o PSTU e sua Internacional, tudo isso é secundário e a questão central são acusações de corrupção ou o caráter pessoal do general que toma o poder no Gabão.
O autor também afirma que “todo golpe de estado é reacionário”, o que também não é verdade. Nesse caso, e no caso de outros acontecimentos recentes da África, golpes de estado promovidos pelos setores nacionalistas têm um caráter progressista, pois estão livrando seus países do inimigo maior da classe operária, que é o imperialismo.
A conceção anti-marxista dessa esquerda faz com que eles não percebam que na África se processa uma das maiores crises da história da humanidade. Nesse contexto, é preciso que toda a esquerda e os movimentos revolucionários saibam se posicionar objetivamente contra o imperialismo. A confusão política e as posições absurdas tomadas por eles acabam sendo uma propaganda que favorece o imperialismo mundial, que irá entrar numa ofensiva propagandística, política e militar contra esses governos nacionalistas da África.