O Gabão é um país africano situado a oeste do continente. Sua área é de, aproximadamente, 267 mil km2, maior que o Estado de São Paulo, mas com apenas 2,3 milhões de habitantes. O Gabão possui duas riquezas: o petróleo e a floresta. O ouro verde do Gabão cobre mais de 80% do seu território. Algumas partes da floresta continua impenetrável. Mas isso não impede que trabalhadores arrisquem suas vidas para extrair e transportar madeira em busca do seu sustento e de suas famílias.
O documentário Gabão, a floresta amaldiçoada, disponível no YouTube, relata a jornada do transporte de madeira gabonesa. Com 51 minutos de duração, a produção audiovisual mais famosa do país mostra as condições dos trabalhadores que transportam madeira, cruzando o país por estradas e rios até levar a mercadoria ao litoral, onde é manufaturada, transformada em folhas e exportada para Europa e Ásia para feitura de móveis compensados.
O documentário inicia seguindo um dos motoristas de caminhão que transporta as toras de madeira, desde a recepção da carga até sua chegada a Libreville, onde o trajeto para Porto Gentil é feito pelo rio. São dias, entre dois ou 3, se o caminhão não quebrar ou atolar, ou semanas, se acontecer alguma dessas situações. A história é narrada por uma terceira pessoa e intercalada por depoimentos de outras várias que cruzam o caminho e pela cobertura de situações que nos parecem trágicas, mas que são comuns no dia-a-dia desses trabalhadores. Com câmeras bem posicionadas, iluminação e som excelentes, a produção nos embarca numa saga pela sobrevivência em um dos países mais ricos da África.
A produção mergulha no trajeto da Estrada da Floresta e na hidrovia e mostra a contradição em transportar toras valiosas de madeira em estradas de lama, cheias de mosquitos e abelhas, em condições insalubres. Durante a labuta, os trabalhadores precisam escolher entre dirigir por longas horas em uma estrada sem sinalização e asfalto, ou parar e ser atormentados por milhares de insetos e abelhas, cujo zumbido chega a abafar o barulho dos motores.
A mudança de transporte, quando as toras entram na rota hidroviária, mantém o ar de denúncia da situação. A precariedade das condições se repete – barcos velhos, ‘amarradores’ das toras no rio sem equipamento de proteção – e são acrescidas pela ação do Estado, que coloca policiais de plantão na ponte para punir, inclusive com prisão, o capitão do barco que bater ou danificar alguma coluna.
A força do documentário está nas histórias apresentadas, na solidariedade e na esperança dos trabalhadores, que recebem especial destaque com cenas de apoio em atoleiros, ou acidentes, no encontro com feiticeiro da floresta envolto em resolver uma obsessão demoníaca e no culto evangélico que arrecada em uma noite 3.000 euros dos fiéis, duas vezes mais que o salário do caminhoneiro e quase cinco vezes mais do que recebe o ‘amarrador de toras’.
Não há drama acrescentado na narração. Apenas a realidade é mostrada, como se ninguém, além dos gaboneses, estivesse acompanhando a jornada. Vale a pena assistir.
Gabão, a floresta amaldiçoada está disponível no link abaixo: