Todo mundo é fascista foi o tema que norteou o programa Esquenta, que foi ao ar ao vivo na Causa Operária TV no útimo dia 2 de setembro. O programa é exibido todos os sábados, antes da Análise Política da Semana. Nele, João Pimenta e Henrique Areas analisaram alguns recortes do Diário do Centro do Mundo que insinuam uma suposta infiltração da extrema-direita em grupos de esquerda. O PCO, calcanhar de Aquiles do tal diário “esquerdista”, não poderia deixar de ser citado, é claro.
O DCM convidou o senhor Gabriel, uma espécie de Sherlock Holmes especialista em detectar infiltrações da extra direita em grupos de esquerda. Para provar a sua tese, o “especialista” com sua lupa biônica descobriu um tuíte do PCO no qual defende o ministro Cristiano Zanin por não transformar o STF em um partido político, diferente da esquerda Barbie, que está malhando Zanin por agir conforme a Lei.
Como Rafael Machado, dirigente da Nova Resistência, retuitou esse post, este também entrou para o rol dos ditos fascistas. Mas não para por aí. Para o órgão da esquerda pequeno-burguesa, Pepe Escobar, Ciro Gomes, Aldo Rebelo, entre outros, seriam também fascistas.
“Ciro Gomes é um político burguês, direitista etc., mas falar que ele é nazista, é ridículo. […] a mesma coisa para o Aldo Rebelo, que, além de ser do PDT, Aldo tem todas essas ideias perigosas, sabe quais? A defesa da soberania nacional!”, ironiza Areas.
A TV 247, fundada pelo jornalista Leonardo Attuch, também está na mira dos investigadores dos fascistas inseridos na esquerda? Questiona Pimenta: a razão disso seria porque esta TV está muito à frente de outras, inclusive o DCM, sendo uma questão então de concorrência?
No caso específico do PCO, o fato de denunciar e criticar o identitarismo, bem como a vinculação de certas ministras do governo ao imperialismo norte-americano, confirmaria a tese do esgoto pequeno-burguês de que o partido seria fascista.
Ao que parece, para o DCM tudo o que está relacionado à esquerda nacionalista é de extrema-direita e, portanto, fascista. Nessa mesma direção interpretativa, alguns setores do PT também seriam fascistas, pasmem, companheiros!
Embora a Nova Resistência seja de direita, não faz sentido denominá-los fascistas, ainda que sejam conversadores nos costumes. Como bem explicaram Ares e Pimenta, a pedra de toque do fascismo é, entre outras coisas, a política repressiva. No caso em questão, a Nova Resistência não defende uma política repressiva com relação à sindicatos nem a organizações operárias, por exemplo.
Para quem não sabe, duas características fundamentais tanto do fascismo quanto do nazismo são o liberalismo na economia e o conservadorismo nos costumes. Além de não ser liberal na economia, o PCO é a favor dos sindicatos, do casamento gay, do aborto, dos direitos cíveis da população LGBT, tais como adotar filhos, constituir família e do divórcio, só para citar alguns exemplos.
Historicamente o fascismo e o nazismo primaram pelo desarmamento da população, enquanto o PCO defende a ideia de que a soberania também deve passar pelo crivo do armamento da população. Como é possível perceber, trata-se, pois, de posições muito diferentes e até conflitantes entre si.
Golpe no Gabão: fascismo também?
Não é novidade que os países africanos nunca experienciaram processos democráticos nas eleições presidenciais. Tome-se como exemplo a família Bongo que comandou Gabão por 60 anos por meio de eleições farsescas com o apoio do imperialismo. No caso de Ali Bongo, ex-presidente de Gabão, foram 14 anos no regime governamental, contribuindo para a produção da pobreza da população gabonesa, isto é, entregando as riquezas naturais do país ao império.
Ao que parece, trata-se de golpe popular, ou seja, um golpe apoiado pela população pobre, explorada e dominada pelo imperialismo.
O curioso é que nenhuma referência a Gabão e ao golpe popular foi mencionada nas redes da esquerda pequeno-burguesa até o último dia 3. Depois dos posicionamentos pró-imperialistas em relação a Níger e Burquina Faso, esta esquerda, apesar de seu africanismo identitário, segue calada, pairando um silêncio sobre os atuais acontecimentos na África e a situação complicada do imperialismo francês. Resta saber: esse silêncio seria também fascista?