A indústria bélica brasileira vem fazendo pressão sobre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para que este reverta a política de Jair Bolsonaro (PL) no setor. O fato pode parecer surpreendente aos incautos que acreditam piamente no suposto armamentismo do ex-presidente, mas a denúncia vem da própria burguesia ligada ao setor, que alega ter sido impactada “negativamente” por Bolsonaro, especialmente as empresas do ramo que dependente das compras governamentais, preteridas segundo elas em favor das empresas imperialistas. A informação foi dada pelo jornal golpista Estado de S. Paulo (“Empresas de armas e coletes pressionam governo Lula por revogação de atos de Bolsonaro”, Vinícius Valfré, 31/8/2023).
Segundo as queixas dos empresários do setor, “Os gastos das Forças Armadas caíram cerca de 16% entre 2019 e 2022, o que representou um freio nas compras militares feitas em empresas dentro do País” (idem), que acrescentam ainda que “decretos do primeiro ano de Bolsonaro abriram o mercado brasileiro a companhias estrangeiras sem definir critérios claros sobre a taxação dos produtos oferecidos nem como elas poderiam concorrer em licitações”, conclui a matéria.
Naturalmente, a fonte não é das mais confiáveis, mas para um governo que se orgulhou de entregar um patrimônio riquíssimo como a Eletrobrás, que cedeu aos militares norte-americanos o Centro de Lançamento de Alcântara (MA), que se recusou a adquirir vacinas para a população em meio à pandemia de coronavírus (entre outros crimes contra a população cometidos pela subserviência ao imperialismo), a queixa das empresas de armamentos nacional divulgada pelo Estadão não é, de modo algum, um raio em céu azul. É, ao contrário, um claro sinal da sabujice do falastrão ex-presidente, que reivindicou para si o papel de patriota e defensor do direito democrático ao armamento civil, mas não é nem um e nem outro, o que fica evidente pelos gestos, independente da sua retórica meramente demagógica.
Carente de um norte político mais acertado, a esquerda pequeno-burguesa continua ignorando a contradição entre o que fala Bolsonaro e o que realmente faz, colocando na vala comum do bolsonarismo princípios caros à população, tais como a defesa da nação contra seus inimigos (a ditadura global do imperialismo) e o direito da população poder se armar e garantir sua defesa. Este último chegou a ser tema de um plebiscito em 2005, quando mais de 63% da população rejeitou a continuidade da política de desarmamento iniciada pelo odiado ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1997 (que tornou à época o porte de armas ilegal um crime inafiançável).
É preciso um programa realmente ligado aos interesses das massas trabalhadoras para levar adiante uma política de defesa da nação e também de respeito aos direitos democráticos, como o da auto-defesa armada. O que fica também muito claro em toda a polêmica envolvendo as duas questões é que nem o bolsonarismo tem esse grau de associação com o povo e tampouco a esquerda pequeno-burguesa. Só uma organização revolucionária pode defender ambos os interesses de maneira consequente.
