A burguesia, através de influência tanto na direita como na esquerda, busca dominar o regime político, e controlar ao máximo o maior número de atores sociais. Ingênua ou mal intencionada, a esquerda pequeno-burguesa tipicamente se aproxima da burguesia, em particular da imperialista, e é totalmente absorvida. Tal é o caso de Leonardo Sakamoto, colunista do portal UOL. Na última terça-feira, dia 29 de agosto, em participação no programa UOL News, o jornalista replicou um ponto tradicional do imperialismo sobre a criação de um ministério por Lula:
“Realmente não está sendo criado por uma questão técnica, está sendo criado porque precisa acomodar gente” (grifo nosso).
Em outras palavras, o motivo para a criação de ministérios e, por extensão, a indicação de ministros, deve ser “técnica”, e não política (a segunda parte do jargão é omitida por Sakamoto, sem mudança no sentido do argumento). Esse é um dos pontos centrais utilizados pela imprensa imperialista para atacar seus inimigos políticos, e pressioná-los a adotar uma postura mais “técnica”, ou seja, mais alinhada à própria burguesia imperialista, que define o que seria uma ação técnica ou política.
Fato é, tal distinção não existe. Toda ação de um governo é política, e isso se define num alinhamento maior à classe operária ou à burguesia. Por exemplo: Geraldo Alckmin é médico de formação, pelo ponto de vista “técnico”, seria um governante ideal para cuidar da saúde da população. No entanto, seus governos em São Paulo foram marcados pela violência policial e repressão à população pobre e ao movimento popular. Repressão essa destinada a garantir não um cuidado com a população, mas a retirada de direitos, o que prejudica diretamente a saúde do trabalhador. O mesmo foi um apoiador do golpe de 2016, que jogou grande parte da população na fome, algo cujas consequências para a saúde um medico certamente conhece.
Os próprios ministérios, nesse sentido, também têm sua existência e função não de uma técnica, mas de uma política. O ministério da Educação, por exemplo, existe para controlar e estabelecer as medidas educacionais, que são não técnicas, mas políticas, apesar de toda a tentativa de encobrir esse fato. O mesmo vale para o ministério da Saúde.A verba alocada para os ministérios também reflete uma decisão política, não técnica. O orçamento público é todo definido pela política.
A exemplo disso, o presidente do Banco Central atualmente mantém uma taxa de juros que sabota a economia nacional, pois, segundo ele, uma recessão seria o melhor jeito de impulsionar a economia. Obviamente, isso não é fato, as taxas de juros altas prejudicam a população e o setor produtivo em nome do capital especulativo, ou seja, de um setor da burguesia, ou seja, é uma questão política.
A imprensa burguesa, no entanto, defendeu o golpe que instituiu a “autonomia” do Banco Central. E apoiou essa medida, sob o argumento de que o presidente do Banco Central não deveria ser uma indicação política (por alguém eleito pelo povo), mas técnica (uma pessoa não eleita, definida pelos próprios capitalistas), e é isso que vemos. Mais, quem não sabe o que são as indicações “técnicas” do FMI e do Banco Mundial aos países atrasados? Se massacra a classe operária com o desemprego, o rebaixamento salarial e a miséria para garantir o lucro de um punhado de vampiros da burguesia financeira. O que poderia ser mais político que isso?
Em suma, a defesa da “técnica” sobre a política é uma manobra da burguesia para ocultar os seus próprios interesses políticos, como a política neoliberal, supostamente baseada em dados e pesquisas, todos uma completa manipulação, quando não fraude descarada. Os trabalhadores não devem depositar sua confiança em nenhum membro da burguesia ou serviçal da mesma, seja político ou técnico, mas em suas próprias forças. Essa é a única maneira de não cair no golpe da burguesia, de não capitular e ser absorvido por ela, como infelizmente hoje se encontra boa parte da esquerda. Principalmente, é a forma de garantir que a política aplicada seja a política dos próprios trabalhadores.