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Cinismo

“Problema do Sauditão” é a competição com a Europa

Imprensa pró-imperialista acusa sauditas pelos crimes dos europeus no futebol

Bastou a Arábia Saudita investir uma tonelada de dinheiro em alguns clubes de futebol da Liga Saudita para a imprensa capitalista se tornar favorável a regras mais “democráticas” contra a concentração de renda em algumas equipes. Quando eram simplesmente os clubes imperialistas da Europa que pegavam qualquer jogador do mundo, criando uma desigualdade gigantesca entre os clubes de futebol a nível mundial, não havia problema nenhum.

Agora, no entanto, que a Arábia Saudita — membro recém ingresso nos BRICS, principal bloco dos países oprimidos — injetou dinheiro do Estado em quatro clubes do país, os jornalistas da imprensa pró-imperialista choram o “desequilíbrio”.

Rodrigo Mattos, no Uol, órgão da família Frias dona da Folha de S. Paulo, contra a qual ele não se lembra de criticar o monopólio da informação no Brasil, apontou que o “Sauditão deturpa o próprio sentido de esporte, de competitividade do futebol, e afeta todos os mercados pelo mundo”. Segundo ele, o que ocorre na Arábia Saudita não se assemelha ao que ocorre na Europa, onde “os times europeus têm donos diversos e a maioria deles gera a receita para gastar com seus elencos. Essa receita é obtida com vendas de direitos de TV, marketing e bilheterias”.

Como não teria como esconder o “óbvio ululante” (como diria Nelson Rodrigues) — que, na Europa, os campeonatos são concentrados nas mãos de alguns poucos clubes — Mattos admite que, no velho continente, “há distorções como o PSG, Manchester City e Newcastle, cujos donos são Estados”.  Mas afirma que, “neste caso, há investigações de fair play financeiro para tentar limitar esses investimentos sem origem no futebol. Os sistemas da UEFA e da Premier League, diga-se, são bem falhos. Mas esses times são um competidor da tabela”.

Vejam bem: o problema de PSG, Manchester City e Newcastle é que são clubes financiados por Estados — respectivamente, Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. A conclusão óbvia que se tira da crítica do jornalista é que o Estado não pode investir no futebol, apenas os tubarões capitalistas e imperialistas.

O jornalista nada fala, por exemplo, sobre o “competitivo” Campeonato Alemão, onde o Bayern de Munique conquistou os últimos onze títulos nacionais; ou sobre o “democrático” Campeonato Italiano, onde a Juventus recentemente ganhou nove títulos consecutivos; nem mesmo sobre o Campeonato Espanhol, no qual Real Madrid e Barcelona, salve algumas temporadas, ficam se alternando entre campeão e vice.

Não, o problema, para o jornalista, é que o Estado, através do Fundo Soberano da Arábia Saudita, decidiu investir em apenas quatro clubes: Al Hilal, Al Nassr, Al Ahli e Al Ittihad. “O Estado, no final das contas, estatizou (falar em privatização neste caso não faz sentido) quatro dos 18 clubes da Liga. São o Al-Hilal, A Nassr, Al-Ittihad e Al-Ahli. Esses clubes têm uma injeção de dinheiro muito superior aos outros times, com estrelas internacionais como Benzema, Cristiano Ronaldo, Firmino, Kanté, Neymar”, diz.

“Ora, uma só instituição, um Estado no caso, decide quais times da liga serão os mais fortes. E forma uma seleção de estrelas para jogar com outros times bem mais fracos, ainda que tenham investimento”, continua.

Quer dizer, novamente, o problema é simplesmente que há uma organização do Estado — se fosse o caótico mercado capitalista, que leva às situações dos campeonatos europeus já descritas acima, estaria tudo bem…

Para defender sua tese, o jornalista diz: “imagine que, no Brasil, o Estado Brasileiro decidisse injetar todo o dinheiro gerado pela Petrobras para reforços de Corinthians, Flamengo, Palmeiras e São Paulo. E deixar o Brasileiro desequilibrado artificialmente, com dinheiro público. Seria um escândalo”.

Realmente, seria um escândalo. Seria um escândalo não por conta da intervenção estatal, que deveria atuar em defesa de todos os clubes nacionais, mas justamente pela desigualdade causada entre os clubes. No entanto, o jornalista, que não entende nada de futebol, não compreende a diferença fundamental entre o futebol brasileiro e o saudita: no Brasil, o futebol é resultado da atividade orgânica das massas populares, existindo inúmeros grandes clubes e outros vários clubes menores, mas tradicionais. Montar um esquema onde haja uma profunda desigualdade entre os clubes brasileiros seria um ataque ao futebol brasileiro, pois jogaria no ostracismo clubes que fazem parte da grandiosa história do futebol nacional.

Já na Arábia Saudita, essa tradição não existe, mas o governo quer impulsionar o esporte no país. É natural, portanto, que concentre seus esforços em alguns clubes. Concentrando os investimentos, consegue os valores exorbitantes que os estão permitindo contratar craques do nível de Neymar e os outros jogadores já citados. Se os investimentos fossem iguais, os valores seriam dispersados entre os clubes que não conseguiriam nada mais que contratar jogadores médios ou, no máximo, bons.

Por mais que o jornalista destaque que “como conceito de esporte, não seria aceito em nenhum lugar no mundo” e que seja “uma corrupção do futebol porque acaba com qualquer sentido competitivo de um clube que é premiar o mérito”, o que ele esconde é que se trata de uma política necessária para o Estado saudita desenvolver seu futebol. Por isso, não faz sentido o argumento apresentando pelo colunista, que parece viver no mundo mágico da Disney: “um clube tem mais torcida ou é gerido de forma mais eficiente, consegue mais dinheiro, investe mais e melhor, e forma times campeões”. Isso foi verdade em determinado momento do futebol. Desde a década de 1970, no entanto, o esporte foi ficando cada vez mais controlado pelo capital financeiro e, hoje em dia, infelizmente, o que definem times campeões é o dinheiro, o investimento, a estrutura… Apenas no Brasil, onde a tradição de se jogar bola é gigantesca, essa lógica, vez ou outra, é revertida.

Quando o jornalista diz que “há diferenças grandes em orçamentos pelo mundo. Mas são fruto do crescimento dos clubes por anos, de suas torcidas, de suas gestões, não injeções aleatórias de dinheiro”, ele simplesmente está mentindo. Os países imperialistas montaram um esquema para saquear os craques brasileiros, sul-americanos, africanos, etc. Apenas assim conseguem organizar os seus poucos clubes com algum grau de qualidade.

“Além disso, a injeção sem precedentes e artificial de dinheiro feita pela Arábia Saudita já causa uma distorção em todo o mercado do futebol. Cada jogador que recebe oferta milionária sai ou o clube tem que aumentar seu salário. No geral, o mercado ficará inflacionado para todos os clubes que têm de gerar dinheiro com meios próprios.

O capitalismo é elemento presente no futebol e no esporte. Mas ele funciona dentro de uma lógica associada ao futebol, não se sobrepondo completamente como ocorre agora”, diz o jornalista, novamente demonstrando que não entende nada de futebol. O grande problema capitalista no futebol seria, agora, a Arábia Saudita e não o que os europeus vêm fazendo há anos.

Suas colocações são cinismo puro. Na verdade, o que está por trás dessas críticas é que o Sauditão agora está competindo com a Europa na contratação dos melhores jogadores do mundo.

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