Um dos principais porta-vozes do imperialismo no Brasil, o jornal golpista Estado de S. Paulo publicou no último dia 27 o editorial “Putin consolida seu poder”, trazendo considerações sobre a misteriosa morte do russo Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, no último dia 23. Após citar falas maliciosas de seu chefe-mor, o presidente norte-americano Joe Biden, que deu a entender que Putin estaria por trás da morte do oligarca, o jornal golpista sentencia que “a morte dramática foi provavelmente calculada para mostrar aos russos, especialmente a potenciais conspiradores, que Putin usará métodos sempre mais brutais para perseguir sua obsessão por reconstruir um império russo”. Levando-se a sério a luta pela verdade, contra as chamadas fake news e as teorias da conspiração, da qual o jornal é dos grandes impulsionadores, o editorial facilmente se enquadraria nos crimes de opinião que tanto acusam terceiros de cometer, mas como foi o Estadão e não órgãos independentes, não há que se falar em fake news, “pós verdade”, teoria da conspiração e todo o palavrório da moda criado para tornar a censura palatável.
Oficialmente, o chefe do Grupo Wagner teria morrido em um acidente de avião. Pelos critérios usados, por exemplo, para colocar na cadeia os críticos da santa urna eletrônica, isto é, a falta de provas que comprovem a possibilidade do equipamento ser violado, o órgão deveria também apresentar provas de que o avião que conduzia Prigozhin fora realmente atingido por uma explosão criminosa e que tal ordem partiu o presidente russo. Dado a inexistência de ambos, o Estadão incorreu em um perigosíssimo crime contra a democracia ao espalhar boatos, mentiras baseadas em ilações e sem comprovação científica.
Naturalmente, alguém civilizado jamais defenderia que nem os editores e nem o jornal Estado de S. Paulo deveriam sofrer qualquer tipo de sanção por publicar suas suposições, independente do quão malucas elas sejam. A questão, no entanto, é alertar sobretudo a esquerda para o fato de que fosse este Diário Causa Operária, o Brasil 247 e mesmo órgãos bolsonaristas fatalmente estariam em sérios problemas se usassem o mesmo método, ou sejam difundir seus posicionamentos através de suposições, com a política de guerra às fake news e contra as informações repassadas sem a rígida comprovação dos fatos.
O fato de o Estado de S. Paulo atribuir a morte do ex-chefe do Grupo Wagner a Putin sem apresentar provas e sequer precisar considerar a hipótese de estar incorrendo nos crimes de opinião da moda é um indicativo de que este e os demais órgãos de imprensa do imperialismo sabem perfeitamente bem que o alvo não são eles, mas seus opositores. A estes, a mais repressiva lei em favor da censura jamais atuará. Esta lei é para os que são contra a política imperialista.
As direções pequeno-burguesas da esquerda atual podem ter se perdido em uma confusão imensa, mas este é a esquerda que mais precisa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão. São os trabalhadores e aqueles que precisam poder exprimir a sua rejeição aos instrumentos de opressão da burguesia que mais dependem do direito de verbalizar suas opiniões, sendo por isso mesmo, os menos interessados na instituição da censura.