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Repressão ou mobilização?

Enfrentar os militares, mas com qual política?

Governo Lula não possui condições mínimas para enfrentar os militares. É necessária uma mobilização para derrotar a direita, em primeiro lugar

Nas últimas semanas, a esquerda esteve eufórica diante da possibilidade de prisão do ex-presidente golpista Jair Bolsonaro. Obviamente, todo o teatro montado em torno dessa questão não levou a lugar nenhum e, ao que tudo indica, o fervor desses setores da esquerda recebeu um belo balde d’água, bem gelado.

De forma muito confusa, setores da quase totalidade da esquerda brasileira depositaram suas expectativas no Poder Judiciário que, como um bastião defensor da democracia, estaria empenhado na tarefa de prender Bolsonaro e restaurar a democracia no país, vingando todo povo brasileiro das barbaridades cometidas pelo ex-presidente.

A perspectiva de punir Bolsonaro pelos seus supostos crimes, no entanto, ainda não foi totalmente desacreditada. Em coluna publicada no Brasil 247, Jeferson Miola criticou um acordão que estaria sendo costurado em diversos setores da política (inclusive o próprio governo Lula) para livrar os militares dos seus crimes, além de fazer um chamado à necessidade de uma campanha para derrotar o golpismo militar “como Brizola na Campanha da Legalidade”.

“São visíveis as costuras do acordão para livrar a responsabilidade das cúpulas fardadas e de altos oficiais das Forças Armadas que cometeram crimes, criaram esquemas sistêmicos de corrupção e atentaram contra a democracia”, escreveu Miola.

De fato, é importante realizar uma denúncia aos militares e ao golpismo. No entanto, é preciso ser realista, visto que a situação do governo do PT não é favorável para tal empreitada. O governo está totalmente fragilizado e sem condições reais de abrir um enfrentamento direto com os militares, que estão em situação muito mais favorável no panorama da política brasileira.

Imprensa ataca, militares reagem

A empreitada contra Bolsonaro agravou a situação dentro dos quartéis. A base militar, as tropas e até mesmo uma boa parte dos generais, são bolsonaristas. Esses bolsonaristas consideram Lula um grande criminoso e o STF mais ainda. E quando a imprensa ataca Bolsonaro, os bolsonaristas reagem, causando uma situação de insubordinação dentro das Forças Armadas, de uma forma geral. A prisão de Mauro Cid, causa a mesma indignação.

Neste sentido, podemos analisar que todo esse ataque a Bolsonaro e aos bolsonaristas fez com que os militares pusessem o pé na porta, para dar um basta nessa campanha contra eles. Os militares mais importantes, os generais e a alta patente, são mais políticos e mais ligados à burguesia. E a burguesia, no momento, não quer acabar totalmente com o bolsonarismo, mas sim preservá-lo, mantendo-o sob controle. A única preocupação da burguesia é a de Bolsonaro ser um fator muito determinante na disputa eleitoral. Fora isso, não há de fato um interesse em prendê-lo.

É possível derrotar os militares sem derrotar a direita?

Ainda tendo como base o articulista do 247, podemos observar a confusão de análise presente na esquerda:

“Esta é a mais favorável conjuntura para o Congresso, governo Lula, instituições e sociedade civil enfrentarem a questão militar de modo eficaz e corajoso. Desperdiçar esta oportunidade histórica significa assumir um risco que poderá ser fatal à democracia”, disse Jeferson Miola.

Miola comete um grave erro ao considerar que a conjuntura é favorável. O governo é fraco, o bolsonarismo segue forte e o Congresso é totalmente controlado pela direita, tanto os bolsonaristas como tucanos da direita tradicional. O que cria essa ilusão é uma aparente empreitada do STF contra os bolsonaristas que, no final das contas, nunca levou ninguém relevante à prisão. No episódio do 8 de janeiro, foram presos apenas figuras sem destaque, que não organizaram nada e só estavam por lá. E isso nem irá acontecer, pois é tudo uma fachada, um jogo de cena para enganar incautos.

Não se trata também de uma omissão do PT em enfrentar os militares. Simplesmente não há força política necessária para isso. A tendência é uma capitulação e uma política de conciliação, de não enfrentamento. Se o PT inicia uma empreitada contra os militares sem o apoio necessário, sem uma força política real para enfrentá-los, pode ter resultados catastróficos para o governo.

Os exemplos históricos resgatados por Miola não condizem com a realidade atual:

“Com a reação popular, os militares recuaram e condicionaram a posse de Jango à adoção do Parlamentarismo, o que foi aceito e extinto por plebiscito popular dois anos depois”.

O mesmo serviria para a mobilização que pôs fim à ditadura militar no final dos anos 80. O problema é que em ambos os casos, havia uma intensa mobilização popular, dos sindicatos e dos partidos da esquerda. Hoje em dia a esquerda, de uma forma geral, não faz nada. Não mobilizam para realizar uma campanha em defesa dos trabalhadores, para defender a Petrobrás ou para atacar a política de juros dos bancos. Questões que estão na ordem do dia e que o próprio governo já sinalizou a importância de ir às ruas. Mas nada acontece. Apesar da grande tensão política mundial, as organizações dos trabalhadores não fazem um chamado para um enfrentamento real da direita golpista.

Trocam a ordem dos fatores. Para se derrotar os militares, é preciso primeiro derrotas a direita. Querem fazer uma revolução ao contrário. Na revolução dos bolcheviques em 1917, na Rússia, primeiro o partido tomou o poder, o controle da situação, para só depois reprimir os contrarrevolucionários. Não é possível aniquilar os inimigos sem uma mobilização prévia e uma vitória significativa sobre as forças políticas que dominam o país.

A ânsia pela repressão não resolve

Enquanto a esquerda alimentar esperanças na repressão do Judiciário, nada irá sair do lugar. A imprensa ataca Bolsonaro constantemente, mas não visando derrotá-lo ou destruir sua base, e sim desidratá-lo para as eleições. A campanha de perseguição ao Bolsonaro tende, na verdade, a aumentar seu apoio.

Tomemos como base o caso de Donald Trump, nos Estados Unidos. O ex-presidente teve sua principal rede social censurada em 2021 e sofre uma série de processos, além de uma campanha massiva da imprensa. Nessa última semana, Trump voltou ao X, antigo Twitter, com uma polvorosa foto de quando foi fichado, causando todo um rebuliço na política norte-americana. Quanto mais o atacam, mais alimenta a fúria de sua base eleitoral.

Tanto Bolsonaro como Trump fazem parte do fenômeno de crescimento da extrema-direita por serem considerados candidatos antissistema. A população, no mundo todo, está radicalizada e não admite mais a política neoliberal, representada pela direita tradicional, como Biden nos EUA e o PSDB, MDB e DEM aqui no Brasil. Equivocadamente, eles enxergam nessas figuras um exemplo contra esses que realmente mandam no mundo. Se não nos atentarmos à isso, a esquerda tende a seguir o caminho da repressão pura e simplesmente, que acaba por fortalecer os setores da direita como um todo. Fortalecem tanto os judiciários e o Estado burguês, como ainda aumenta a popularidade da extrema-direita.

A esquerda e os trabalhadores precisam manter o pé no chão e ter uma política firme diante de toda a situação. É necessário derrotar politicamente a direita. Antes de pensar em colocar qualquer um na cadeia ou coisa que o valha, precisamos de uma campanha para alcançar uma vitória total contra a direita e o golpe. Uma derrota através da mobilização.

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