Nem foi encerrado o debate sobre o voto do novo ministro do STF, Cristiano Zanin, contra a lei aberrante de censura que equipara a chamada “homotransfobia” à injúria racial, uma nova votação jogou lenha na fogueira.
Cristiano Zanin votou contra a descriminalização do porte da maconha, ao contrário dos demais cinco ministros que votaram até agora. Essa discussão abriu nova rodada de críticas contra Zanin.
Tais críticas seguem a mesma linha de que quando Lula indicou seu ex-advogado. Ninguém entrou no mérito de que Zanin era um homem de confiança de Lula, de qual era sua política. Segundo os identitários, Lula deveria ignorar tudo e colocar no STF uma “mulher, negra, índia, LGBT”.
Essa política foi incentivada e promovida amplamente nos jornais da burguesia, que não queriam que Lula indicasse alguém de sua confiança, mas um nome que pudesse mais facilmente ser comprado, como foram os demais ministros que, apesar de terem sido indicados pelo PT, atuaram pelo golpe de Estado.
Os votos de Zanin, tanto no caso da “homotransfobia”, quanto no caso da maconha, abriram nova temporada de demagogia.
A revista Fórum, uma das porta-vozes do identitarismo na esquerda, publicou artigo chamado: “Os quatro votos de Zanin que mostram que Lula pode ter errado de novo” onde chama a ação do ministro de decepcionante:
“Mas o decepcionante voto de Cristiano Zanin, o novo ministro indicado por Lula, além de adiar a histórica decisão, reacendeu um forte debate nas redes sociais e ambientes de militância acerca da necessidade de haver mais diversidade nas cortes superiores.”
O artigo mostra que não redes sociais e entre uma parte da esquerda existiria um debate sobre a “necessidade de haver diversidade” nos Tribunais.
A deputado do PSOL, Erika Hilton, fez publicação no Twitter dizendo: “Mais do que nunca: Precisamos de uma ministra negra e progressista no STF!”
Mais do que nunca:
Precisamos de uma ministra negra e progressista no STF!
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) August 24, 2023
O artigo da Fórum continua:
“A negativa de Zanin, mais do que surpreender quem esperava um voto progressista e adiar a histórica decisão, reacendeu anseios por mais diversidade nas supremas cortes. A bolha de esquerda, petista ou não, tem se juntado para taxá-lo como conservador.”
O que essa esquerda não compreende é que a campanha contra Zanin não tem a raiz nessas questões, mas na própria burguesia golpista que não queria alguém da confiança de Lula. O STF é um antro reacionário, a todo momento são aprovadas medidas reacionárias ali. Por que a marcação contra Zanin?
A mesma esquerda que está puxando o saco de Alexandre de Moraes, acusa Zanin de ser conservador. Não que Zanin seja um esquerdista radical, muito longe disso, mas uma coisa é certa: ele ao menos se colocou contra o que o STF vem fazendo que é legislar no lugar do Congresso, o que é uma coisa antidemocrática.
A descriminalização do porte da maconha da maneira que está sendo aprovada no STF não vai mudar nada de significativo. Os pobres vão continuar sofrendo nas mãos da polícia.
Não dá para dizer o mesmo quando se trata do problema democrático. Se o STF passa por cima do Congresso nessa questão, então qualquer outra questão está passível de sofrer com isso. Uma medida direitista pode muito bem ser aprovada pelo STF sem passar por nenhuma discussão no Congresso.
A gritaria contra Zanin e, de tabela, contra o “erro de Lula” ao tê-lo indicado, não tem nada a ver com colocar uma mulher negra no STF. Mesmo porque, as mulheres que lá estão são golpista e o negro que já passou por lá também.
O que está em jogo é apenas uma pressão para que Lula coloque não uma pessoa de sua confiança, mas um golpista da confiança da burguesia, seja ele negro ou mulher.
Sempre foi claro que a ideologia identitária impulsionada pelo imperialismo seria um calcanhar de Aquiles do governo Lula. Essa caso da escolha de Zanin, mostra bem como essa pressão funciona.