Nesse dia 21 de agosto, no portal Brasil 247, a colunista Helena Chagas publicou artigo intitulado “O país está menos dividido”. Um otimismo desbalanceado parece ter tomado conta da autora e de uma parte da esquerda.
A causa de tamanho otimismo infundado é a péssima e velha crença da esquerda nas instituições do Estado burguês:
“Ninguém será preso ou vai deixar de ser preso porque a torcida quer. Estamos num Estado democrático de Direito — que, aliás, andou por um triz na era bolsonarista”.
Logo nas primeiras linhas de sua coluna, a autora faz essa afirmação. Incrível que, passados mais de 10 anos desde o julgamento ilegal do mensalão de 2012, que colocou dirigentes do PT na cadeia e abriu oficialmente o processo golpista no País, a autora consegue acreditar no tal do Estado democrático de direito. Mais ainda, depois de tanta prisão arbitrária, incluindo a de Lula, ela acredita que ninguém será preso porque “a torcida quer”.
É preciso esclarecer que realmente ninguém foi preso porque quis essa torcida imaginária. Até agora, as prisões políticas no País foram obras de jogadores, não de torcedores. O STF que prendeu José Dirceu, Genuino, Delúbio e outros não era torcida, era jogador profissional, ganhando muito dinheiro para fazer o serviço. A mesma coisa serve para a Lava Jato, de Moro, Dallagnoll e companhia e agora serve à nova geração do STF comandada por Alexandre de Moraes.
Há, ainda, outros jogadores, como a imprensa golpista, as Forças Armadas, os partidos.
A torcida não manda nem nunca mandou. Ela só é chamada quando precisam dar um ar de que as decisões antidemocráticas do Judiciário são populares.
A colunista pergunta se, depois de quase nove meses de governo Lula, “o país ainda está cindido em duas metades?”. Ela cita números de uma pesquisa Quaest que, segundo ela, provam que não. A aprovação de Lula teria aumentado em geral e até mesmo entre os eleitores de Bolsonaro. Tudo isso, segundo a colunista, prova que o Brasil não está tão dividido quanto antes, ou, melhor dizendo, que os brasileiros estariam “posicionando-se fora da chamada ‘polarização’ entre lulistas e bolsonaristas que marcou os últimos anos.”
O mundo cor-de-rosa da esquerda não permite que se enxergue a realidade. Em primeiro lugar, a pesquisa apresentada no artigo não tem validade para a interpretação da colunista. Os entrevistados podem até ter respondido tudo aquilo, mas não é possível atribuir que o Brasil está menos polarizado.
O que a colunista não sabe é que a polarização política não é meramente um problema de opinião das pessoas. Uma pesquisa de opinião pode apenas estar apresentado uma posição média, um senso comum, que pode ser muito efêmero, influenciado por vários fatores, incluindo aí a propaganda da imprensa.
A polarização não será resolvida com manobras pelo alto e reformas sociais e econômicas de baixíssimo voo. A polarização é um fenômeno política que foi desencadeado pela crise provocada pelos golpistas, uma crise política, econômica e social. O Brasil ainda está no meio dessa crise.
As ações antidemocráticas do STF mostram não apenas que a crise continua como elas próprias alimentam a polarização. O bolsonarismo, mesmo acuado, é uma força social e quanto mais acuado, mais força obtém, não o contrário. A maioria bolsonarista no Congresso não deveria deixar dúvidas sobre isso.
A própria autora, citando o responsável pela pesquisa, mostra algo mais perto da realidade:
“Diretor do Instituto Quaest e responsável pela última pesquisa, o cientista político Felipe Nunes considera apressadas as avaliações que decretam o fim da polarização petismo x bolsonarismo. Ressalta que, embora o quadro venha apontando crescimento de Lula nas questões relativas à gestão do governo, os levantamentos mostram que, em temas ideológico-comportamentais — como aborto, armas, drogas e outros — o eleitorado ainda se divide em duas torcidas praticamente empatadas. ‘Não acho que Bolsonaro esteja acabado. É um urso em hibernação’, diz Nunes”
De fato, o bolsonarismo é cada vez maior, não menor. E é fato também que o bolsonarismo é alimentado pela própria esquerda pequeno-burguesa que substitui a luta real, as reivindicações concretas, por esses temas ditos “ideológicos-comportamentais”.
Ao contrário do que se possa pensar, como esses temas são impulsionados pelo imperialismo e a esquerda serve como válvula de transmissão dessa ideologia, a direita bolsonarista tem uma posição defensiva em relação a esses temas. Para o esquerdista que não enxerga o mundo em que vivo, essa afirmação pode parecer estranha, mas a coisa é exatamente assim.
Cada investida do imperialismo nas chamadas “pautas identitárias” apoiada pela esquerda pequeno-burguesa, corresponde uma reação dos bolsonaristas e um consequente fortalecimento de suas posições. Eis um aspecto importante da polarização, que é cada vez mais profunda, não o contrário.