A Argentina vive a ressaca dos anos 1990, quando o governo Menem tomou uma série de medidas neoliberais que levaram à quase completa destruição do país. Após intensa crise não resolvida por sucessores do mesmo calibre que Menem, veio o kirchnerismo que deu relativa sustentação social ao país. Mas, fato é que a Argentina jamais se recuperou após o governo Menem.
Agora, após o governo Fernandez, com a vitória de Milei nas primárias, nota-se que a política do peronismo foi insuficiente para dar ao país um alívio. A crise continua com hiperinflação e todas as dificuldades de se livrar do FMI. A situação da Argentina requer cuidado analítico, porém, o que se pode depreender, é que aquele país está vivendo um estágio mais avançado da crise em que o Brasil pode entrar.
O Brasil tem mais gordura para queimar do que os argentinos, mas o plano de voo é o mesmo. Em algum momento podemos chegar lá. Já temos meio caminho andado. O País, com a política neoliberal a partir do governo FHC, chegou ao ponto de colocar mais de 50 milhões de pessoas no Bolsa Família, a miserabilidade se espalhou e cresce a cada dia.
Voltando à Argentina, indústrias fecharam muito mais rápido do que no Brasil; a Argentina perdeu uma parte extraordinariamente grande da economia; a privatização afetou vários setores e os trabalhadores perderam muitos direitos. Na Argentina os trabalhadores passaram pior que no Brasil, mas é a mesma situação. Lá estão em um estágio mais avançado da destruição neoliberal dentro do mesmo caminho.
No Brasil, Lula ganhou a eleição e todo mundo fala que foi uma grande vitória contra o fascismo, uma espécie de disfarce para não se fazer o básico contra o neoliberalismo, até porque não tem fascismo nenhum de fato. Na mesma linha das aparências, essa esquerda diz que o Brasil está na rota da prosperidade, o que também é mentira.
É necessário entender que o governo Lula, nesse sentido, é um retrato do problema, pois as condições dadas pelos capitalistas fazem com que o presidente não consiga fazer nada. Quando ele fala em industrialização, por exemplo, nada sai do papel e não se desvia um milímetro sequer da tragédia anunciada pela Argentina. Ou seja, a Argentina é o Brasil amanhã.
Esse preâmbulo serve para mostrar a necessidade de a esquerda avançar no sentido de pressionar o governo do PT em direção a conquistas para os trabalhadores. Por enquanto, os grandes capitalistas estão dando as cartas no governo, procurando impor a situação da Argentina.
Por enquanto, o que ser observa, é que a esquerda tem uma fantasia: pensam que a burguesia toda vai passar o trator em cima do Bolsonaro, mas não é assim, pois o ex-presidente não é o PT, quando a burguesia decidiu passar o trator em cima do PT, ela foi lá e passou o trator.
O PT não tem presença no aparelho de Estado brasileiro; não tem um único general petista. O próprio militar, que supostamente era amigo do Lula, quase acabou com o governo. As polícias militares também não estão com Lula, além de empresários que estão entronizados no Estado.
A esquerda achou que resolveria um problema político muito sério com uma sentença judicial, o que não acontecerá, pois Bolsonaro continua mantendo alta popularidade.
Além disso, a esquerda tem se mantido covarde, com medo de expressar opiniões, ao contrário dos bolsonaristas e dos militares. A esquerda se omite em fazer colocações políticas que a levem a superar os obstáculos impostos pela burguesia.
Outra situação que se coloca é a constituição de uma esquerda cor-de-rosa, iludida, que não percebe os limites do judiciário. Por exemplo, antes do cerco à Dilma, todos estavam nas mãos do judiciário. Somente depois acordaram por alguns instantes.
Estão vivendo em um mundo cor-de-rosa, onde está tudo bem. Fizeram aliança com Alexandre Moraes através de Flávio Dino e estão vivendo da repressão intensa. Essa esquerda pensa que o bolsonarismo será derrotado com perseguições e ameaças, e o que se vê, tomando como exemplo a Argentina, é que a próxima dose pode ser cavalar para o Brasil e para a esquerda.