Nessa quinta-feira (17), Walter Delgatti, o famoso Hacker da Lava Jato, prestou depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. Na ocasião, respondendo perguntas, em sua maioria, da oposição, o hacker denunciou seu envolvimento com o ex-presidente Jair Bolsonaro no caso da invasão do sistema interno do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em cima disso, denunciou que o ex-presidente teria solicitado os seus serviços para desmoralizar a urna eletrônica, no final do ano passado, invadindo o aparelho.
Nenhuma das alegações de Delgatti acerca de Bolsonaro foi comprovada até o fechamento desta edição. Nesse sentido, ainda restam dúvidas quanto ao teor de suas acusações: trata-se de uma armação da burguesia para cercar cada vez mais e, eventualmente, prender Bolsonaro? Ou são denúncias legítimas? Ainda não está claro.
Independente disso, é possível tirar conclusões importantíssimas do depoimento de Delgatti no que diz respeito ao sistema eleitoral brasileiro. Finalmente, o hacker desmoralizou completamente o Judiciário, alegando facilidade em invadir o sistema do CNJ – que, diga-se de passagem, estava “protegido” por senhas como “12345”, “123 mudar” etc. -, em modificar o resultado de uma urna eletrônica, de acessar todos os tribunais do País. Enfim, foi um verdadeiro terror para o TSE.
Sem entrar no mérito das denúncias de Delgatti acerca das urnas, chama atenção a postura da imprensa burguesa em relação a elas. Por exemplo, uma das colocações mais escandalosas do hacker é a de que, até 2018, uma única pessoa era responsável pelo código-fonte das urnas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Ele vota por 200 milhões de habitantes”, foi como o depoente caracterizou este fato grave.
Uma rápida pesquisa revela que o único artigo que cita o nome de Giuseppe Dutra Janino, o técnico citado por Delgatti, é de autoria deste Diário, o qual pode ser lido por meio deste link. O resto da imprensa ignorou completamente esta denúncia. Não porque ela não seria importante – as palavras do hacker falam por si próprias -, mas sim porque ela deixa claro toda a farsa envolvendo a suposta infalibilidade do sistema eleitoral brasileiro. E manter essa imagem é um dos principais interesses da burguesia, que controla esses meios de comunicação. E não é que os jornais burgueses não citam o nome de Giuseppe. Eles não falaram sobre a denúncia como um todo, ignorando por total uma alegação importante
“E eu achei estranho eles darem tanto poder apenas a uma pessoa, porque outra pessoa no lugar dele, ou até ele, tem o poder de decidir o resultado de uma eleição”, disse Delgatti. Não é do interesse do povo conhecer essa declaração, principalmente por vir de alguém com experiência na área? Não é do interesse do povo saber que pode estar sendo enganado? Claro que sim, mas não é do interesse da imprensa burguesa que os trabalhadores saibam de tudo isso.
Um fato que mostra esse interesse da imprensa em impedir que a justiça eleitoral brasileira seja completamente desmoralizada é que as outras denúncias de Delgatti não foram ignoradas pelos grandes jornais, foram ativamente combatidas. A Folha de S. Paulo, por exemplo, publicou um artigo intitulado Plano de hacker relatado a CPI não provaria eventuais falhas das urnas; entenda ainda na quinta-feira. No texto, o veículo de imprensa golpista repercute argumentos absolutamente esdrúxulos de supostos “especialistas em engenharia da computação” contra o depoimento de Delgatti.
A imprensa do Judiciário não poderia ficar para trás. O sítio oficial do TSE publicou, na manhã desta sexta-feira, um artigo intitulado Urna eletrônica: entenda por que não é possível adulterar o voto. É curioso que o tribunal não cita, em nenhum momento, nem o nome de Delgatti, nem a CPMI do 8 de Janeiro.
De todo o depoimento de Walter Delgatti, a imprensa burguesa selecionou apenas aquilo que lhe interessa. As acusações contra Bolsonaro foram amplamente divulgadas por todos os principais jornais como provas cabais de que ele deve ser imediatamente preso, justamente porque o imperialismo tem interesse em frear a extrema-direita por ser uma força relativamente independente do regime.
Enquanto isso, as denúncias do hacker que escancaram a fragilidade da justiça eleitoral brasileira são enterradas, repercutidas apenas como uma tentativa de desmoralizar o depoimento de Delgatti.