O candidato de extrema-direita, Javier Milei, venceu as primárias da Argentina nesse domingo (13). O resultado pegou muitos de surpresa, incluindo, logicamente, a esquerda pequeno-burguesa brasileira, cuja programação cerebral é achar que vive num mundo cor de rosa.
A pergunta que os brasileiros devem fazer é: como a argentina chegou nesse ponto?
A vitória do direitista é explicável e deve servir como alerta para os brasileiros.
O peronismo levou adiante uma política social com enormes concessões ao neoliberalismo, mais ainda do que foram os governos do PT no Brasil.
Por conta disso, a situação do país tornou-se muito periclitante. A economia argentina entrou numa crise muito mais profunda do que a brasileira. É um fracasso do chamado nacionalismo, do qual o peronismo é representante.
Esse fracasso resultou na subida de Mauricio Macri no poder. Pressionada pela direita, inclusive com denúncias de corrupção ao estilo golpista que ocorreu no Brasil, Cristina Kirchner apoiou Alberto Fernandes na eleição seguinte. Fernandes é um representante de uma ala direita do peronismo, o que ao invés de resolver a situação, acabou piorando.
O governo de Fernandes foi um completo fracasso. O candidato atual do peronismo, Sergio Massa, é um representante de uma ala ainda mais direitista do que a de Fernandes.
Javier Milei é o candidato mais votado e o mais direitista entre todos os candidatos da direita. Isso reforça a forte tendência à direita na situação política argentina. É um problema muito sério e que não é isolado.
A esquerda brasileira, que gosta de se enganar, afirma levianamente que o fenômeno Milei no Brasil já passou, numa referência ao bolsonarismo. Mas isso não é fato. Nem é fato que o bolsonarismo já passou, tampouco é fato que Bolsonaro é o equivalente de Milei.
Na realidade, Bolsonaro é equivalente a Macri, não a Milei. Ou seja, a evolução política no Brasil pode muito bem ir ainda mais à direita.
O governo Lula, com todas as suas dificuldades e contradições, pode acabar num fracasso como o de Alberto Fernandes e isso pode dar lugar a uma espécie de Milei brasileiro. Alguém ainda mais direitista que Bolsonaro.
Por isso, o Brasil deve olhar com muita preocupação o que está acontecendo na Argentina.
Se Milei ganhar a eleição, ganhará com o apoio de toda a burguesia argentina. Não devemos nos enganar: a burguesia usa de todas as armas que forem preciso e não tem nenhum pudor em apoiar um candidato como Milei.
Javier Milei é um ultra neoliberal e é capaz de afundar o país caso a seja essa a política que a burguesia esteja disposta a apoiar.
Se tomamos por base alguns países onde não houve reação popular muito forte, como Uruguai e o Equador, vemos que a direita tende a tomar conta do continente. O único remédio contra isso é uma forte mobilização popular.