Uma coluna publicada no jornal golpista O Globo traz um curioso ponto em comum entre a fé religiosa e a ideologia ambientalista. De nome “Visão do céu para salvar a Terra” (Nathalia Rocha, Scott Langdon, 12/8/2023), o artigo lembra que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é ela própria uma religiosa e defensora da ecologia. “Num momento de discussão das agendas de proteção ambiental e enfrentamento das mudanças climáticas no Brasil, podemos aprender muito com a igreja”, dizem os autores do texto, como se ambos já não fossem equivalentes.
A fé cristã tem como um de seus fundamentos mais importantes a ideia de um fim iminente, razão pela qual os crentes devem seguir determinados ensinamentos, de modo a evitar as consequências catastróficas que se abaterão sobre os céticos. Quem acompanhou as eleições norte-americanas em 2020 e em especial o vídeo promocional estrelado pelo dito anarquista Noam Chomsky, viu que o apelo irracional ao medo do cataclisma é praticamente o mesmo.
Não é segredo para ninguém a ligação das ONGs dedicadas ao meio-ambiente e a política do governo norte-americano. Da Casa Branca e também dos órgãos de imprensa americanos (além dos europeus) origina-se a mais intensa pressão por políticas ligadas à suposta “mudança climática”. Também as igrejas (e em especial as de caráter protestante) não escondem sua ligação com os EUA, sua admiração e simbiose política, tendo muitas expressões evangélicas na própria nação americana como berço de origem.
Ao propor a união dos dois campos, contudo, a matéria de O Globo acaba entregando um dado importante para a compreensão da realidade: existe um método que norteia tanto igrejas quanto ONGs, oriundos de uma articulação política maior, que naturalmente, só pode ser implementada com muito dinheiro, o que afasta completamente a possibilidade tanto de um quanto de outro ter um caráter minimamente progressista. Sobra então o campo da outra classe social, a burguesia e, mais particularmente, a burguesia imperialista, a impulsionar tanto a explosão de igrejas e entidades de tipo religiosas, quanto a religiosidade de aspecto materialista: o ambientalismo.
Em meio à crise de características terminais, o imperialismo percebeu o perigo de não abdicar da intervenção junto às massas. A uns, oferece-se um tipo de fé, em uma deidade redentora que acolherá os miseráveis de um mundo cada vez mais infernal. A outros, uma causa para lutar, algo catastrófico o bastante para despertar o medo e ao mesmo tempo, despolitizada demais para tornar-se um problema real à ditadura da burguesia.
Como se fossem dois braços do mesmo pugilista, igrejas e ONGs são organizações aparentemente distintas, mas dedicadas a implementar a política do imperialismo, que através delas, chega a públicos igualmente distintos. Com as igrejas, chega-se às camadas populares mais conservadoras e desesperadas, que poderiam buscar na atividade revolucionária a solução para seus problemas, mas encontram conforto e alguma rede de proteção que minimiza os sofrimentos provocados pelo sistema econômico. Já as ONGs atingem um público em geral mais escolarizado, igualmente sensível às tragédias do capitalismo em crise, mas que devido a origem em geral pequeno-burguesa, distancia-se ainda mais da classe trabalhadora, buscando na militância ambientalista um sentido existencial que o sistema econômico em decomposição não consegue oferecer.
Nenhum, no entanto, conseguirá dar sentido a qualquer que seja o drama dos homens e mulheres que vivem a atual etapa da história. O sofrimento experimentado pela vida dos indivíduos não é fruto do derretimento das calotas polares ou da falta de fé em uma deidade, mas da exploração cada vez mais brutal e desumana de uma classe social vampiresca, e que, cada vez mais decrépita, torna-se igualmente mais feroz em sua voracidade e rapina. Só a luta política consequente, revolucionária, pode pôr um fim à barbárie, libertar a humanidade, promover a expansão da riqueza e garantir a superação do sofrimento, das angústias e mesmo das tragédias ambientais.