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Bolsonaristas x Bolsonarismo

Banir o bolsonarismo com as armas dos bolsonaristas?

Reinaldo Azevedo, um dos jornalistas responsáveis pelo "discurso de ódio" contra a esquerda e o PT, se finge de democrata para militar em favor de uma "direita democrática"

Bolsonaro e Mauro Cid

Reinaldo Azedo publicou em sua coluna na Folha de São Paulo, neste 10 de agosto, um artigo intitulado “O bolsonarismo tem de ser compreendido e banido, nunca tolerado”. Dentre um de seus argumentos contra o bolsonarismo, Azevedo se vale do repisado “paradoxo da tolerância”, de Karl Popper, que reza que não devemos ser tolerantes com os intolerantes.

Antes de entrarmos no que diz o texto, é preciso relembrar de quem se trata seu autor. Reinaldo Azevedo é justamente um jornalista designado pela direita, pela burguesia, para ser “intolerante” com o PT e a esquerda. É dele a criação e o uso intensivo do termo “petralha” e “esquerdopata”, do que se orgulhava.

O tal “discurso de ódio”, que a imprensa cinicamente fala que deve ser combatido, tinha nesse senhor um de seus principais propagadores. Se uma parcela da classe média odeia Lula e o PT, muito se deve ao trabalho diário e virulento de Azevedo, que hoje faz pose de democrata.

Azevedo inicia seu artigo dizendo que “Estavam obviamente enganados todos aqueles que chegaram a supor que o bolsonarismo era só uma forma de ser da direita, um pouco mais áspera e angulosa do que se tinha até então, mas, ainda assim, suportável em nome da diversidade”. Porém, se foi isso, não houve engano. A extrema-direita é uma das faces da burguesia, talvez o seu retrato mais fiel. Nesse sentido, para explicar a burguesia se pode usar o próprio Reinaldo Azevedo, que, conforme a necessidade, ora apresenta seu lado fascista, ora se faz passar por defensor da democracia.

Quem pariu Bolsonaro?

Foi preciso preparar o terreno para que o golpe contra Dilma Rousseff tivesse êxito, esse é o papel da imprensa. Um grande trabalho de falsificação, mentiras, acusações, reportagens maliciosas etc., foi colocado em prática para que uma parcela da classe média e até da classe trabalhadora ficasse contra os governos petistas.

Para que a extrema-direita, pudesse se apresentar como antissistema, a grande imprensa tratou de fazer um grande espetáculo farsesco de ‘combate à corrupção’. Se existe um Bolsonaro, Reinaldo Azevedo é uma de suas parteiras.

O colunista diz ainda haver “outro equívoco (…). Muitos apostaram que Jair Bolsonaro acabaria se vergando ao peso das instituições. No fim das contas, seria só um fanfarrão agressivo, dado a arroubos retóricos, mas se dava como pouco provável que tentasse se organizar para golpear a democracia. Ele se mostraria apenas como a cara mais feia do regime”.

A verdade é que Bolsonaro acabou mesmo sendo completamente controlado pela burguesia e cedeu sob o peso das instituições. Jair Bolsonaro teve que contrariar sua própria base eleitoral e aumentar o preço dos combustíveis em favor do imperialismo. Por outro lado, falhou em mostrar a “cara mais feia do regime”, pois a burguesia é capaz de coisa muito pior. Neste momento estão cogitando apoiar sujeitos como Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo, bolsonarista, que elogiou a chacina promovida pela polícia na Baixada Santista.

As aparências

Reinaldo Azevedo acerta ao dizer que para a burguesia o problema Bolsonaro não é apenas uma questão de este apenas “só precisaria, vamos dizer, de um certo “banho de loja” no shopping do bom senso. Livre de alguns comportamentos mais grosseiros, poderia até ser admitido à mesa da civilidade”.

Todos sabemos que a burguesia, como a história já comprovou, não se incomoda com a falta de ‘civilidade’. Os modos grosseiros de Bolsonaro são facilmente convertidos em pontos positivos, podem ser vendidos como simplicidade, como alguém do povo etc.

Para a burguesia, o principal é ter um candidato fácil de manipular. Bolsonaro tem uma base social à qual precisa prestar contas. Setores como pequenos e médios empresários, por exemplo, são muito afetados pela política de preços. A reação dos caminhoneiros com o aumento dos combustíveis, ameaça de paralisações, são empecilhos que a burguesia procura evitar.

A caça aos bolsonaristas

O texto de Azevedo trata da prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, que teria ciência de que “as cidades em que Lula havia tido 75% dos votos ou mais. E elas foram alvos preferenciais dos bloqueios feitos pela PRF (Polícia Rodoviária Federal)”. O curioso é que o artigo deixa de lado o fato de o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral nada terem feito para impedir que isso ocorresse. Apenas agora, quase um ano depois, Silvinei Vasques (diretor da PRF) é preso.

O truque de Reinalado Azevedo contra os bolsonaristas é o mesmo que utilizou caneta alugada contra Lula e o PT: a corrupção. Por isso se refere a Mauro Cid “o onipresente ajudante de ordens, [que] tentou vender um Rolex, como se o presente tivesse sido dado a um muambeiro, não ao chefe de Estado do Brasil. Esse militar, sabe-se agora, envolveu-se nos EUA com a venda de pedras preciosas, não se tem certo em que circunstâncias nem se atuava em benefício de terceiros. Estavam com ele, por exemplo, certificados de um dos conjuntos das joias sauditas. Com que propósito?”.

Bolsonaro entregou a Eletrobrás para os tubarões do capital financeiro, mas o problema seria um relógio e algumas pedras preciosas. É ridículo.

A quem serve Azevedo?

Lendo o texto, fica claro que se trata de uma operação da burguesia para substituir Bolsonaro que, é sabido, nunca foi o candidato preferencial da classe dominante, subiu ao poder porque era o único à época capaz de vencer o PT.

Fazendo ar de grande pensador, Reinaldo Azevedo diz que “O bolsonarismo, como pensamento político, tem de ser banido, sem prejuízo de ser compreendido. Tolerado nunca! Até para que possa existir uma direita democrática. – grifo nosso.

Se Azevedo gosta mesmo de paradoxos, deveria logo dizer que não existe “direita democrática”. Esta seria apenas aquele Bolsonaro com o “banho de loja” que ele citou no começo.

A burguesia está tentando evitar a polarização política com a classe trabalhadora que se estabeleceu muito claramente na oposição entre Lula e Bolsonaro. Em 2018 já havia tentado colocar no poder um presidente tucano, mas não conseguiu. Em 2022 buscou viabilizar a “terceira via”, uma espécie de “nem Lula, nem Bolsonaro”, que também naufragou.

Reinaldo Azedo, que consegue enganar setores pequeno-burgueses da esquerda se fingindo de democrata, não pode fingir o tempo todo e volta e meia precisa mostrar sua verdadeira face. O jornalista milita para a formação de um bloco de direita “democrático” que possa substituir Bolsonaro e derrotar Lula nas próximas eleições.

Azevedo não quer mudar nada de essencial, pois defende o uso de métodos bolsonaristas contra os bolsonaristas: a falácia de sermos intolerantes com os intolerantes. Resta saber se vão conseguir um bom resultado. O banimento que ele propõe, como se vê, tem aumentado a adesão a Bolsonaro. O mesmo fenômeno que observamos nos Estados Unidos com relação a Donald Trump.

Talvez a burguesia ache necessário colocar Bolsonaro na cadeia, não o sabemos. Por outro lado, o bolsonarismo não está sendo banido ou combatido, antes o contrário, está sendo reforçado.

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