Nas semanas que se passaram, estivemos diante de mais uma insurgência de um país africano contra as garras do imperialismo.
Seguindo na esteira do Mali e da Burkina Fasso, que no decorrer do último ano viu a ascensão ao poder de governos militares de tipo nacionalista, com claro antagonismo ao imperialismo (em especial ao Francês), e, por outro lado, relações amigáveis com a Rússia, um governo militar nacionalista assumiu a chefia de Estado no Níger, através de um golpe de Estado, derrubando um governo serviçal do imperialismo.
Logo após, o país africano passou a sofrer ameaça de intervenção militar indireta por parte do imperialismo, que tentou se utilizar da Cedeao e da Nigéria para esse fim. Um prazo havia sido dado à junta militar do Níger para devolver o poder ao presidente pró-imperialista. O prazo se escoou nessa segunda (7), e os militares continuaram no poder, com apoio da população.
Em face deste revés, os Estados Unidos, principal país imperialista, enviou Victória Nuland, atual subsecretária de Estado, ao Níger, para se reunir com a junta militar que atualmente governa o país.
Conforme noticiado, durante a reunião Nuland expressou “grave preocupação com as tentativas antidemocráticas de tomada do poder e pediu o retorno à ordem constitucional”. Em outras palavras, se colocou contra o golpe nacionalista. Já a junta militar, se mostrou firme contra a ingerência do imperialismo, de forma que Nula classificou as conversas com junta como “bastante difíceis”.
Em suma, a junta militar não se curvou perante os EUA e sua mensageira. Tanto é assim que não permitiram a Nuland a visita ao presidente pró-imperialista deposto, Mohamed Bazoum, e nem ao líder da junta militar, o general Abdourahamane Tchiani.
Atenção especial deve ser dada à visita de Victória Nuland e seu significado para a situação política no Níger e na África.
Antes de se expor o significado da visita, cumpre questionar: quem, afinal, é Victória Nuland?
A atual vice-secretária de Estado foi a principal arquiteta do “Euromaidan”, o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia. Sob ordens do governo Obama, foi responsável por mobilizar ONGs, políticos direitistas e milícias nazistas para derrubar o governo democraticamente eleito de Victor Ianucóvich.
Durante as manifestações golpistas, que duraram de novembro de 2013 a fevereiro de 2014, Nuland esteve presente na Ucrânia, acompanhada de John McCain, chegando inclusive a discursar abertamente a favor do golpe nas manifestações e a distribuir alimentos para os manifestantes pró-imperialistas. À época, em dezembro de 2013, em palestra em Kiev, na Fundação EUA-Ucrânia, ela admitiu expressamente que os EUA vinha financiando ONGs golpistas desde 1991, tendo cerca de US$5 bilhões de dólares.
Em janeiro de 2014, foi vazada uma conversa sua com Geoffrey Pyatt, então embaixador americano na Ucrânia. Na conversa, Nuland escolhe que será o próximo chefe de governo do país (no caso, primeiro-ministro). Sua escolha foi Arseniy Yatsenyuk, que de fato viria a ser o primeiro chefe de governo após o golpe do “Euromaidan”. É a famosa conversa do “foda-se a União Européia”, a qual confirmou, para além de qualquer dúvida, que Nuland fora a principal arquiteta do golpe.
Com o sucesso do golpe, a extrema-direita nazista da Ucrânia passou a fazer a parte indissociável do estado ucraniano. As ações de Nuland eventualmente resultaram em uma guerra civil do governo central de Kiev contra a resistência popular no leste do país, no Donbass. Esse conflito desembocaria na atual guerra da Ucrânia.
Esta é Victória Nuland. Uma verdadeira senhora da guerra.
Qual o significado, então, de sua visita ao Níger, logo após a subida ao poder de um governo nacionalista?
Trata-se de uma ingerência do imperialismo no país africano. Conhecendo a maneira de atuar dos EUA, certamente ela esteve lá para fazer ameaças veladas à junta militar. Tendo em vista que a ameaça indireta através da Nigéria não funcionou, os Estados Unidos teve de ser mais direto, enviando uma de seus mais importantes agentes destruidores de nações oprimidas.
O fato de o imperialismo mandar Victória Nuland ao Níger, para fazer ameaças veladas contra o governo nacionalista, é mais uma evidência do profundo enfraquecimento do império e de sua ditadura mundial. Contudo, não se deve subestimar esse enfraquecimento, pois, como um animal ferido e acuado, o imperialismo tende a ser ainda mais violento e direto na sua política de guerra, a fim de salvaguardar a existência de seus monopólios capitalistas (ou seja, sua própria existência).
Isto demonstra que a situação do Níger não é apenas mais uma crise em um país africano isolado. É uma crise de grandes proporções. O imperialismo está buscando evitar uma intervenção militar (direta ou indireta) no Níger. Afinal, caso tivesse que fazer isto, teria que esmagar um governo popular, nacionalista. Uma guerra assim tenderia acelerar o movimento nacionalista, anti-imperialista que está crescendo na África, fazendo-o se espalhar por todo o continente, gerando, inclusive, uma situação revolucionária em todo o continente.
E, a tendência é que esse conflito não ficaria restrito à África. Conforme foi dito, os governos nacionalistas que estão subindo ao poder no continente possuem boas relações com Rússia. Mas não apenas os governos, a própria população vê no país do leste europeu um ponto de apoio para a luta contra o imperialismo. Afinal, a Rússia, além de possuir enorme poderio militar, é um dos principais inimigos do imperialismo europeu e norte-americano.
Dessa forma, uma intervenção militar do imperialismo no Níger poderia resultar em um conflito mundial dos EUA e da Europa contra a Rússia, a China, e o Oriente Médio também. A cada dia os sinais disto ficam mais acentuados. O imperialismo, ao perder o controle de sua ditadura, está ficando mais agressivo em todas as partes do mundo. Na Europa, há a guerra na Ucrânia; no Oriente Médio, voltou a acentuar sua agressividade contra a Síria; na Ásia, há as frequentes movimentações militares contra a China.
Há, então, a possibilidade de que o mundo caminhe para uma terceira guerra mundial.
A única forma de evitá-la seria o triunfo da revolução em todo o mundo. E o caminho para a revolução passa, necessariamente, pelo luta anti-imperialista dos países oprimidos. Sendo assim, a política correta diante dessa situação, a política revolucionária, é o apoio incondicional à lutas dos países oprimidos em sua luta de libertação nacional das garras do imperialismo.
Foi assim com o apoio à insurreição popular liderada pelo Talibã no Afeganistão, que botou para correr o exército ianque; está sendo assim no apoio à Rússia contra o imperialismo, que vem tentando utilizar a Ucrânia como bucha de canhão contra os russos;
E deve ser assim no Níger e nos demais países africanos que agora possuem governos nacionalistas, com apoio da população.