Em editorial recente, intitulado “Luiz Inácio, o vigarista” e publicado no dia três de agosto, o jornal A Nova Democracia traça uma breve caracterização dos primeiros seis do governo Lula e deixa sugerido qual seria a sua posição em caso de uma ofensiva golpista para derrubar o governo.
O jornal toma como eixo para avaliar o governo Lula aquilo que vem sendo bastante noticiado pela imprensa capitalista nos últimos dias: a “reforma ministerial”. Segundo essa imprensa, Lula estaria negociando a entrega de pastas ministeriais para figuras dos partidos Republicanos e Progressistas, partidos que integram o chamado “Centrão”.
As negociações entre Lula e o líder do “Centrão”, Arthur Lira, em torno da “reforma ministerial” são expressão do impasse em que se encontra o governo. Lula não possui maioria no Congresso, hoje dominado pelos partidos da direita e da extrema direita, e recorre ao método tradicional das negociações e entrega de cargos.
Lula é refém do Congresso. As principais medidas que seu governo conseguiu fazer avançar no Congresso ― o arcabouço fiscal e a reforma tributária ― foram medidas que contaram com a clara anuência da burguesia de conjunto. No entanto, a marca até agora do Congresso dominado pelo “Centrão” foi paralisar, emperrar e dificultar as iniciativas de Lula.
A Nova Democracia descreve a situação e centra fogo em Lula: “Trata-se de um governo entregue à direita tradicional, de programa e de cargos. Luiz Inácio hoje é já muito diferente daquele candidato que, em 2021, dizia coisas como: “O Bolsonaro ficava falando de acabar com a velha política. E qual é a nova política? Ficar refém do ‘centrão’?”, ou então: “Se a gente ganhar [as eleições], a gente vai ter que dar um jeito no ‘centrão’.” (2022). Que coisa, não? Vigarista!”
A Nova Democracia reconhece em seu editorial que Lula encontra-se emparedado, inclusive pelo Alto Comando das Forças Armadas: “O Alto Comando das Forças Armadas insuflou e deixou que aqueles acontecimentos [do 8 de janeiro] tivessem lugar para dar um duro recado ao governo: ou vai adiante com as “reformas” reacionárias, ou a sua vida será um pesadelo. Ou Luiz Inácio dá a seu governo um conteúdo e forma de direita escancarados, ou o ACFA incentivará e impulsionará sua deposição, preferencialmente pela via constitucional.”
Lula encontra-se em uma situação delicada. Tanto o Congresso quanto o braço armado do Estado, as Forças Armadas, pressionam fortemente o governo para que adote e imponha na sua agenda medidas direitistas, “reformas” reacionárias. Isso diz A Nova Democracia. Mas não diz uma palavra sequer sobre como Lula poderia sair desse impasse. Não há qualquer menção à saída da mobilização popular, por exemplo. Nenhuma referência à mobilização da CUT e outras organizações do movimento popular para se contrapor às instituições dominadas pela direita que bloqueiam e sabotam as iniciativas mais à esquerda do governo.
Para A Nova Democracia, Lula é um “vigarista” e “faz o que sabe de melhor: tenta ludibriar e manipular a opinião pública popular” para contornar o impasse em que se encontra.
A partir dessa caracterização, temos claro onde desemboca a política de A Nova Democracia: no apoio a um eventual golpe contra Lula.
O jornal maoísta reconhece o risco de golpe. Afirma abertamente que as Forças Armadas continuam tutelando o país e que, caso Lula não cumpra os desígnios da direita, elas poderão articular sua deposição do governo. Afirma, inclusive, que “em seu lugar, assumirá um governo ainda mais draconiano e brutal.”
E qual a posição de A Nova Democracia em caso de um golpe de Estado contra Lula? Ficará contra? Mobilizará suas forças contra uma eventual iniciativa golpista do Alto Comando das Forças Armadas? Parece que não. Porque Lula é um “vigarista”.
Com a análise da “vigarice” de Lula, A Nova Democracia prepara o terreno para lavar as mãos, o que significa, na prática, adotar uma posição golpista.