Entre os dias 24 e 28 de julho, ocorreu “O Chamado do Cacique Raoni”.
Foi realizado na Aldeia Piaraçu, no Município de São José do Xingu, no estado do Mato Grosso. A aldeia fica a 42 km do centro do município; 476 km de Sinop (onde está o aeroporto comercial mais próximo); e a 952 km de Cuiabá, capital do Estado.
Conforme informações do próprio sítio do Instituto Raoni, durante o evento foram fornecidas alimentação (três refeições diária) e hospedagem, contando também com infraestrutura de banheiros químicos e chuveiros.
Mais de 800 índios estiveram presentes. É seguro afirmar que muitos desses (senão a maioria) tiveram que chegar lá por meio de avião.
Em outras palavras, um evento de grande magnitude, o qual certamente requereu grande dispêndio de recursos financeiros.
A primeiro momento pode parecer estranho que índios, o setor da população mais esmagado e mais pobre do país, tenham recursos para fazer eventos dessa magnitude.
Contudo, sob um olhar mais atento, a questão fica logo esclarecida.
O evento não é promovido pelo setor mais esmagado da população indígena, aqueles camponeses que sequer têm o que comer, e que sofrem ameaças de latifundiários diariamente (isto quando não são assassinados por seus jagunços).
O evento é promovido por índios que estão estreitamente ligados com as ONGs que atuam na Amazônia, e diretamente com o próprio imperialismo.
A começar pelo próprio Raoni, seu histórico o compromete. Desde a década 70 vem estreitando as relações com o imperialismo, em especial o francês. Em 78 foi o protagonista de um documentário francês, feito para lhe promover como líder da luta pela preservação ambiental e cultura dos índios da Amazônia. Ao final da década de 89 foi promovido pelo músico Sting, que estava em passagem pelo Brasil em uma série de shows promovido pela Anistia Internacional (organização sob o controle do imperialismo). Logo após conhecê-lo, Sting e sua esposa fundaram uma ONG chamada “Rainforest Foundation”, sediada em Nova Iorque.
No mesmo ano, Raoni manifestou, pela primeira vez, sua oposição à construção da Hidrelétrica de Belo Monte, um projeto fundamental para o desenvolvimento do país (afinal, sem eletricidade, não há industrialização, não há desenvolvimento).
Não coincidentemente, fez uma turnê com o cantor britânico Sting, passando por 17 países (incluindo a França), fazendo propaganda da política imperialista do ambientalismo e da preservação intocada da cultura dos índios.
Desde então manteve seus vínculos com o imperialismo no decorrer das décadas, sendo especialmente querido pela burguesia francesa, a qual lhe rendeu elogios por parte de vários presidentes, como Jacques Chirac e Emmanuel Macron, e um título de cidadão honorário de Paris. Em 2011 fez parte da intensa campanha do imperialismo contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, mais uma vez.
Em suma, é uma pessoa historicamente a serviço do imperialismo. São informações abertas para todos que quiserem buscá-las.
Confirmando o caráter pró-imperialista desse “líder”, foram especialmente convidadas as ministras do meio-ambiente (Marina Silva) e a dos “povos originários” (Sônia Guajajara), e a deputada dos Psol Célia Xakriabá.
Já é notória as ligações delas com o imperialismo. Marina Silva é vinculada à Open Society Foundations, de George Soros, magnata do capital financeiro, um especulador que, ao mesmo tempo que propaga o discurso ambientalista, tem forte atuação no ramo do petróleo.
Sônia Guajajara, por sua vez, é frequentemente promovida pela imprensa pró-imperialista e mesmo pelo imperialisto. Esteve presente na premiação do Globo de Ouro de 2023, como direito a foto com Leonardo DiCaprio, ator hollywoodiano que tem atuações filantrópicas (pilantrópicas, é mais correto dizer) na defesa do meio ambiente, em especial da Amazônia.
Célia Xakriabá é outra que vem sendo promovida no mesmo sentido.
Ou seja, as principais figuras convidadas para o “Chamado do Raoni” são pessoas que atuam a serviço do imperialismo, inclusive o próprio Raoni.
Mas não para por aí. Melanie Hopkins, que ocupa a função de Encarregada de Negócios (embaixadora interina) da Embaixada do Reino Unido no Brasil, também esteve presente.
E por que razão ela estava lá? Antes de expor o motivo oficial, Extraoficialmente, cumpre lembrar-se do papel que as embaixadas dos países imperialistas exercem nos países atrasados. Nesse sentido, lembremos do “Euromaidan”, o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia, promovido pelo imperialismo, e que se utilizou de milícias nazistas. Durante aquele golpe, ONGs, Fundações, manifestantes golpistas e políticos pró-imperialistas estavam em constante contato com as embaixadas dos países imperialistas, em especial com a embaixada norte-americana. Através dela recursos eram repassados para o financiamento do golpe.
Lembremos também que o golpista Michel Temer era frequentador assíduo da embaixada americana no Brasil.
Mas oficialmente, qual foi a razão declarada de sua presença? Ela esteve lá para entregar uma carta do Rei Carlos III (rei da Inglaterra), na qual é dito que Raoni é “impressionante exemplo a ser seguido”.
Na carta, o rei nos faz um serviço e entrega o jogo: diz estar entusiasmado pelo fato de a ONG britânica Global Canopy estar “dando suporte” ao evento. Ainda diz expressamente que o governo do Reino Unido também está apoiando o evento, através do Programa REDD+ para Pioneiros (REM), que, segundo o próprio rei “conta com um de seus focos no fortalecimento de governanças indígenas e no apoio aos meios de subsistência de povos indígenas em seus territórios”.
Ademais disto, em vídeo do evento, Melanie Hopkins diz que governo britânico apoia mais de 90 comunidades indígenas no Brasil.
As ligações diretas com o imperialismo são, portanto, claras.
Quanto às ligações indiretas, cumpre informar que o Instituto Raoni tem acesso a recursos do Fundo Amazônia, os quais são notoriamente advindos de países imperialistas, e sobre o qual o governo brasileiro não tem controle, conforme denúncia feita pelo presidente da CPI das ONGs, Plínio Valério, em entrevista para a TV Senado.
Está ficando claro, então, a quem serve o estranho chamado de Raoni no Xingu.
Prossigamos, no entanto.
O chamado é propagado como um movimento popular pela defesa dos índios (além da defesa do meio ambiente).
Contudo, desde quando movimentos realmente populares, que travam uma luta genuína pelos trabalhadores, seja do campo ou da cidade, sejam índios ou não, são apoiados e financiados pelo imperialismo, de forma tão aberta?
Encontros e mobilizações de trabalhadores que realmente travam uma luta contra a burguesia imperialista e a nacional nunca recebem esse tipo de financiamento. Por exemplo, nenhum governo estrangeiro, ONGs ou fundações apoiaram/financiaram/contribuíram para a realização da III Conferência Nacional dos Comitês de Luta, na qual foi feita uma ampla campanha pela liberdade do líder camponês José Rainha (esse um verdadeiro líder popular).
Em suma, a suposta defesa dos índios por Raoni é uma farsa por detrás da qual se escondem interesses antinacionais. E quais interesses são estes? Os do imperialismo de impedir o Brasil de explorar os recursos naturais que existem na Amazônia, para que possa se reindustrializar, desenvolver o país e tirar a população (inclusive a maioria dos índios) da miséria.
Certamente, muitos índios que seguem Raoni estão sendo enganados por essa falsa liderança e as pessoas que estão por trás dele, ou seja, pessoas que não possuem o mínimo interesse no país, na preservação ambiental, no direito dos índios etc. Seus únicos interesses é utilizar essa parte da população para impedir o desenvolvimento da Amazônia e, por conseguinte, o do país, que só é possível ser feito através da exploração dos recursos naturais existentes naquela região.
Contudo, segundo relatos de militantes que atuam próximo aos índios, tem-se que muitos se manifestam contra a atuação das ONGs e as “lideranças” apoiadas por elas. E tal contradição já começa a subir à superfície.
Nesse sentido, chama a atenção o fato de que no manifesto que resultou do “Chamado do Raoní”, tiveram que incluir pedido específico para demarcação das terras indígenas nos territórios dos Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.
Por que isto é uma contradição entre a luta real dos índios e dessa burocracia indígena apoiada pelo imperialismo? Pois, ao contrário do Norte do país, na região amazônica, onde já há bastantes terras demarcadas, no MS há pouquíssimas demarcações, apesar de ser o estado com a segunda maior população indígena no país. E, é uma região onde há um intenso confronto com o latifúndio, tendo os índios de conviverem diariamente com intimidações, violência e assassinatos cometidos pelos jagunços. É uma típica questão de luta pela terra, de luta contra a miséria que recai sobre a maioria dos índios brasileiros. Nada das políticas imperialistas do ambientalismo ou da defesa de uma cultura ancestral abstrata.
Os índios que estão em constante conflito com o latifúndio nunca recebem atenção das ONGs, nem da burocracia indígena liderada por Raoni e nem da ministra Sônia Guajajara. Estes últimos concentram seu trabalho na Amazônia, o que é mais uma demonstração da política imperialista de apesar usar os índios para dominar a Amazônia.
Assim, é algo positivo que essa contradição esteja subindo à superfície.
Por outro lado, o restante do manifesto resume-se a um ataque mais ou menos velado ao Governo Lula. Sob o disfarce de reivindicações, já ensaiam uma campanha para responsabilizar Lula caso o Marco Temporal seja aprovado pelo Senado e pelo STF, instituições sobre as quais o governo não tem nenhum controle.
Deveriam responsabilizar o STF e o Congresso. Mas fazem apenas críticas superficiais a Alexandre de Moraes, cujo voto na ação do Marco Temporal foi favorável aos fazendeiros, prevendo indenizações não apenas para as benfeitorias, mas para toda a terra (no caso da expropriação a favor dos índios). O ministro abordou somente esse ponto. Não se colocou favorável ao marco. Contudo, essa questão da indenização sequer está sendo tratada no processo, conforme apontou o próprio Barroso. Sequer é algo que está na Constituição. Por que, então, Raoni não ataca Moraes? Por que Sônia Guajajara e seu ministério não soltaram nenhuma nota? E a deputada do PSOL?
Nesse sentido, a imprensa burguesa já publicou matérias condenando Lula por não ter “atendido” ao “Chamado do Raoni”, dizendo que ele está sendo “duramente cobrado por isso”, mostrando, novamente, a quem serve o estranho chamado de Raoni.
Por fim, cumpre apontar que, no manifesto, nenhuma proposta de organização dos índios para lutar contra o latifúndio é feita. Nada é dito sobre ocupar mais terras, enfrentar o latifúndio, fazer uma aliança com os movimentos camponeses.
O que dizer, então, de um evento tido como defensor dos índios, mas que não propõe nenhuma solução para os problemas reais dos índios, apenas propagandeia uma política pró-imperialista (ambientalismo e defesa abstrata da cultura ancestral) e, ao mesmo tempo, ensaiam futuros ataques contra Lula?
Trata-se de um evento contra o Brasil e contra a maioria dos índios, feito por lideranças pró-imperialistas. Tudo o que foi exposto acima (relações com o imperialismo, campanha velada contra o governo etc.) mostra que essa burocracia indígena vinculada às ONGs está apenas interessada em utilizar os índios bem intencionados para fomentar um movimento golpista.
Um movimento golpista para retirar do poder um governo de tipo nacionalista, facilitando ao imperialismo o domínio do território brasileiro, em especial a Amazônia, saquear todos os recursos naturais lá existentes, sejam energéticos ou minerais.
A isto serve o estranho chamado de Raoni.