Infelizmente, a Seleção Brasileira feminina foi eliminada, na quarta-feira (2), ainda na fase de grupos da Copa do Mundo, com um empate em 0 a 0 com a fraca seleção da Jamaica.
O Brasil venceu o primeiro jogo contra o Panamá por 4 a 1, perdeu para a França de 2 a 1 e precisava apenas de uma vitória simples contra a Jamaica para se classificar para a próxima fase. O que não aconteceu.
Já no jogo contra a França, até mesmo a imprensa capitalista, principal defensora da imposição de modelos europeus para o nosso futebol, criticou a atuação da técnica sueca Pia Sundhage.
De fato, apenas para dizer o mínimo, ficou muito claro que há um abismo entre as características do futebol brasileiro e as concepções europeias da técnica sueca. As jogadoras brasileiras, cuja característica é a criatividade, jogaram como se estivessem engessadas durante os 90 minutos da partida contra a Jamaica, um time gritantemente fraco e inferior ao time brasileiro.
Mas, deixando de lado a participação ativa da técnica no vexame da Seleção o que, diga-se de passagem, deveria servir como alerta para os que insistem em trazer um técnico estrangeiro para a nossa Seleção principal, é preciso algumas palavras sobre a atuação fora de campo que uniu imprensa capitalista, identitários e esquerda pequeno-burguesa.
O início da Copa do Mundo feminina deu lugar, em primeiro lugar, não a jogos de futebol, mas a um verdadeiro show de demagogia. A análise sério sobre futebol e o futebol feminino deu lugar a uma campanha que impunha como padrão moral não apenas gostar, mas louvar o futebol feminino. E ai de quem falasse qualquer coisa diferente.
Muitos chegaram ao ponto de apontar supostas qualidades superiores – que não existem – do futebol feminino em relação ao masculino. Tentaram mostrar que as jogadoras eram melhores, mas como isso não se sustenta, apelaram para o moralismo: “diversidade”, “ética”, “fair play”, “amor”. Teve gente que até comparou a Seleção ao filme da Barbie, justo aquela bonequinha, criada para que as meninas brincassem com futilidades, enquanto os meninos brincavam de bola.
De que adiantou tanta demagogia? De nada! A demagogia, cuja base ideológica é o identitarismo, atrapalhou a Seleção:
Em primeiro lugar, cumpriu o papel que normalmente cumpre atos demagógicos que é o de esconder os reais problemas. Na falta de uma estrutura e financiamentos sérios dessa modalidade esportiva, muito discurso, muita louvação, muitos elogios que não enchem a barriga de ninguém. Ou melhor, encheram a barriga da rede Globo, que ganhou um pouco mais de audiência nos jogos, e de mais algum capitalista espertalhão. O esporte mesmo, não ganhou nada.
Em segundo lugar, a propaganda forçada ao estilo “goste ou você é um crápula” mais atrapalhou do que ajudou as pessoas a gostarem do futebol. Não há assédio moral no mundo que seja capaz de obrigar as pessoas a mudarem seus gostos. O futebol – quando falamos futebol estamos dizendo masculino praticado no campo – é uma paixão nacional, o futebol feminino é outra coisa. Querer que não seja assim apenas por meio de um assédio moral permanente contra as pessoas não vai resolver o problema e ainda vai criar uma indisposição nas pessoas.
Vejam só. Embora esteja numa fase ruim, é possível dizer que o vôlei é o segundo esporte mais popular do Brasil. Em várias ocasiões o brasileiro parou – obviamente não tanto quanto numa Copa do Mundo – para assistir a partidas importantes das seleções feminina e masculina de vôlei. Ou seja, o brasileiro torce para o Brasil em todas as modalidades. O brasileiro adora assistir a jogos de futsal, onde dominamos como no futebol de campo. Da mesma maneira, o brasileiro não tem problema nenhum de assistir e torcer para a Seleção Feminina. Mas nada disso quer dizer que a paixão pelo futebol será substituída.
O futebol é um problema cultural muito mais profundo, não é simplesmente um problema de gosto individual ou de um determinado grupo de pessoas. Esse problema cultural não será mudado pela simples vontade de esquerdistas histéricos com ar professoral, nem mesmo pela propaganda da imprensa capitalista.
Ignorar esses fatos é virar as costas para os problemas reais pelos quais passa o futebol feminino. É um esporte novo, portanto, ainda não se desenvolveu plenamente. Também por esse motivo, o futebol feminino necessita de mais investimentos, inclusive estatais, como qualquer outro esporte olímpico.
Esse investimento passa por usar a estrutura e experiência do futebol masculino, o mais desenvolvido do mundo. O que o identitarismo fez foi o contrário, foi jogar um contra o outro. É preciso incentivar as meninas a jogarem bola, é preciso dar estrutura, é preciso deixar as jogadoras desenvolverem o futebol arte brasileiro, o que certamente não será contratando um técnico estrangeiro.