A esquerda pequeno burguesa golpista tem um ponto que talvez possa ser considerado positivo, a coerência, estão sempre com a posição do imperialismo. Os mesmos setores que fazem campanha contra o governo Lula são os que atacam o governo de Maduro na Venezuela. É o caso do PCB e também do MRT que publicou em seu sítio, Esquerda Diário, o texto: “Repudiamos nova tentativa do governo Maduro de intervir judicialmente no PCV”. É a tradicional campanha de que o governo da Venezuela é uma ditadura, só que com um caráter esquerdista, citando supostas repressões as greves e aos partidos da esquerda. Ou seja, o MRT se coloca como ala esquerda da investida do imperialismo.
Ele começa afirmando que Maduro reprime a esquerda e as organizações dos trabalhadores: “A proscrição de partidos ou a desqualificação de candidatos e organizações políticas é uma prática comum do governo Maduro, em função de sua permanência no poder. Uma prática que ocorre simultaneamente com a violação de outros direitos democráticos elementares, como o direito de protesto, greve, organização sindical, entre outros.” Maduro é um condutor de ônibus filiado ao maior partido do país, o Partido Socialista Unido da Venezuela, que tem ampla participação em todas as organizações populares. Sua política está longe de ser repressiva com os trabalhadores.
Contudo, o MRT continua na tese: “Um governo capitalista caracterizado por aplicar ajustes que destruíram salários, direitos trabalhistas e condições de vida dos trabalhadores como nunca antes, operando um curso de reprivatização e entrega ao capital transnacional, acompanhado de coerção e repressão a trabalhadores e comunidades, chegando a ter mais de uma centena de trabalhadores presos por lutar ou por recusar às corrupções da casta governante.” Aqui já inicia a loucura. Se o governo Maduro é capitalista e privatista, porque o imperialismo está há 10 anos em uma intensa campanha golpista tentando derrubá-lo?
Sobre a Rússia poderia se argumentar que Putin é conservador e não se apoia sobre o povo, mas sobre os militares, algo que seria difícil de sustentar. Mas em relação à Venezuela isso é absurdo. O governo se apoia na mobilização popular constante, dos trabalhadores e suas organizações. Não só isso como armou uma enorme parte da população. Que ditadura arma os trabalhadores? Se o governo fosse impopular, os EUA facilmente impulsionaram a população armada para derrubá-lo. Pelo contrário, quando os EUA mandaram mercenários, a população em armas defendeu o governo contra a invasão. É um esforço enorme para concordar com a tese do imperialismo: “Maduro é ditador”.
Depois ele afirma que Maduro oprime dos dois lados: “O governo de Maduro está agindo conforme às necessidades do momento, proscrições e desqualificações que às vezes atingem a oposição dos patrões pró-imperialistas, como vimos recentemente no caso da reacionária María Corina Machado, e outras atingem aqueles que se opõem à esquerda, como de fato está tentando fazer atualmente tentando arrancar a legalidade do PCV .” Aqui é preciso avaliar com calma o que é chamado de esquerda. Na atual conjuntura mundial, uma enorme parcela da esquerda não só segue a política do imperialismo como é diretamente financiada por ele. A repressão de qualquer força pró imperialista é algo justificável, principalmente se não for a única tática do governo. É o caso de Maduro que se apoia muito mais na mobilização do que em qualquer repressão.
Eles alegam então que o governo passou a reprimir o PCV após o ano de 2020: “Se antes o governo Maduro não buscava tirar a legalidade do PCV, era porque este partido o vinha acompanhando, seja como parte do Pólo Patriótico instituído pelo PSUV, seja como organização individual, até as eleições presidenciais de 2018, quando apoiou eleitoralmente Maduro, distanciando-se abertamente apenas no final de 2020.” Seria necessária uma explicação do porquê o PCV se distanciou de Maduro. A política do PSUV não mudou de 2018 para 2020, se mantêm na mesma linha nacionalista inclusive se radicalizando conforme aumenta a crise do imperialismo.
Ao mesmo tempo, diversos partidos comunistas do mundo e tornam cada vez mais pró imperialistas. Isso pode ser visto no próprio Brasil, ao que tudo indica da Venezuela e em todos os que se aglutinam em torno do Partido Comunista da Grécia, o KKE. Esse partido está na linha de frente dos posicionamentos pró imperialistas, ele é radicalmente anti China e anti Rússia e defende que todos os governos capitalistas fazem parte do “sistema imperialista”, ou seja, não há porque se posicionar em embates de países oprimidos contra os países opressores. Essa é a tese perfeita para a esquerda golpista, Lula, Maduro, Morales, o Aiatolá do Irã, Bashar Al-Assad, Daniel Ortega e qualquer líder de país oprimido não podem ser defendidos das investidas do imperialismo.
O interessante é que essa posição coincide com a posição do MRT, uma organização supostamente trotskista. E ambas “coincidem” com a posição do imperialismo. A diferença é que os partidos do imperialismo alegam que os EUA, a França e Inglaterra são a democracia e devem ser defendidos. Já a esquerda golpista ataca tanto o imperialismo quanto a China e a Rússia. Mas aqui há uma questão crucial. A base que segue o PSTU, o MRT, o PCB e as demais organizações da esquerda golpista já é contra o imperialismo. No entanto, essa base tem tendências a defender as nações oprimidas. Aí está o seu papel crucial, serve para impedir a esquerda de atuar em meio aos movimentos nacionalistas, aonde ela pode crescer muito se fortalecendo e ao mesmo tempo fortalecendo os governos em sua luta contra o imperialismo.
Por fim é preciso comentar um último argumento. Em todo o planeta há uma enorme quantidade de governos reacionários que oprimem a esquerda. Contudo o PCB e agora o MRT fazem questão de atacar a Venezuela, justamente o país mais atacado pelo imperialismo na América do Sul. Por que essa seletividade? Essas organizações também atacam constantemente a Rússia, o Irã e outras nações que resistem ao imperialismo. A única explicação é que na verdade essa esquerda golpista está totalmente a reboque da política imperialista. Ele apenas pega os documentos publicados pelo Departamento de Estado dos EUA e os pinta de vermelho, tentando enganar os incautos.