O deputado federal Nikolas Ferreira mais uma vez se tornou o alvo da política de cancelamento. Ele, ao ser entrevistado em um podcast, defendeu a liberdade de expressão. Apesar de ser bolsonarista, o que faz com que sua defesa da liberdade de expressão seja em grande medida uma política demagógica, já que o ex-presidente defende a ditadura militar, a posição do deputado está totalmente correta. A defesa dos direitos democráticos deveria ser um consenso em toda a esquerda. Contudo, os identitários abandonaram completamente essa política e se colocam a reboque no imperialismo em sua campanha em defesa da censura.
O deputado afirmou: “a liberdade de expressão é uma discussão muito mais profunda que as pessoas acreditam. (Noam) Chomsky por exemplo apresenta o caso de um grupo de judeus que defendeu o direito de um autor de negar a existência do holocausto. Se for parar para pensar ‘pô o holocausto aconteceu. Vamos deixar esse autor ficar negando e influenciando pessoas?’ A própria comunidade judaico deu a liberdade dele falar isso. Por que? Segundo Chomsky quando existe liberdade de expressão não se usa a censura, as pessoas devem ter a possibilidade de entender que algo é absurdo. Nos EUA por exemplo existe o partido nazista, ele é pequeninissimo pois as pessoas sabem que é absurdo.”
Os canceladores de plantão ignoraram completamente o argumento de Nikolas e estão até pedindo a sua cassação. Mas vale a pena analisar com calma. Primeiramente quem é Noam Chomsky? Um influente intelectual de esquerda norte-americano, conhecido por suas críticas à política externa do imperialismo dos EUA. No campo política se considera um anarquista tradicional, admirador de figuras como Kropotkin e Bakunin. O deputado está simplesmente reproduzindo o argumento de uma pessoa de esquerda. E mesma assim está sendo cancelado. Esse ponto é importante para demonstrar que a política do cancelamento é uma política histérica, que ignora qualquer lógica ou argumento racional.
Entrando, no mérito do argumento em si. Está completamente correto. A negação do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial é uma constatação absurda. Porém, se algum governo censurar um livro que exponha essa tese, por mais absurda que seja, apenas fortalecerá o argumento. Esse é o resultado mais comum da censura, divulgar ainda mais as ideias que estão sendo censuradas. No Brasil recente os casos são muitos. O último deles foi Leo Lins, o comediante que foi censurado pela justiça de São Paulo. Sobre isso inclusive o próprio Nikolas Ferreira também comenta.
“Toda liberdade ela tem o seu limite. Não há liberdade para entrar num hospital e fazer uma piada como síndrome de down. Porque ali não é o ambiente para isso. Agora se você pagou para ir num show de um comediante e a pessoa faz piada com sindrome de down, com nazismo, com negro com loiro eu entendo que a piada não deve ser levada a sério, caso contrário não é uma piada.” Novamente o deputado acerta em sua defesa da liberdade de expressão citando o caso de Lins sem nomeá-lo. Adentrar um hospital para incomodar pessoas doentes com certeza é uma deselegância, para dizer o mínimo. Já piadas em qualquer ambiente, seja num show, seja numa mesa de bar, não podem ser censuradas. Censurar piadas é característica de ditaduras. Imagine se em 1971 algum jornal teria coragem de publicar uma charge criticando o governo Médici.
O argumento de Nikolás Ferreira nos faz constatar uma triste realidade: a direita bolsonarista, mais bronca, é mais inteligente que a esquerda pequeno-burguesa. O identitarismo é realmente uma ideologia que está emburrecendo a esquerda.
O deputado ainda tem comentários sobre o cancelamento do apresentador Monark: “O Monark inclusive conversei com ele, ele errou de pedir desculpas. Jordan Peterson fala você nunca pode pedir desculpas a uma plateia sedenta de sangue. Ele ali se expressou de forma que não devia, mas não da para comparar Monark a um genocida, a um cara que quer matar judeus, um cara que quer matar negros, isso é evidente”. Aqui Nikolas cita um membro da direita dos EUA, Peterson, que analisa os canceladores de forma acertada “uma plateia sedenta de sangue”. A política do cancelamento é uma verdadeira política medieval, do tipo de caça às bruxas. Monark foi taxado de nazista por defende a mesma posição que o governo dos EUA, a liberdade de organização. Posição esta que é a mesma que a de Vladimir Lenin, Leon Trótski e Karl Marx. Chamar o Congresso dos EUA de nazista pode até ter embasamento, mas é difícil atacar Lenin assim.
A transição do bolsonarismo pró ditadura militar para o seu estágio de defensores dos direitos democráticos não é difícil de ser compreendida. Quando Bolsonaro era apoiado pelo imperialismo, ele demonstrava sua política real. Contudo, em determinado momento ele perdeu o apoio, passou a ser perseguido, mesmo presidente se tornou vítima do Judiciário, de uma perseguição da imprensa. A defesa dos direitos democráticos é a política dos oprimidos. Nesse sentido, Bolsonaro, passou a admitir a defesa das liberdades democráticas para se defender dos ataques do Judiciário. A ponto de um deputado bolsonarista citar os argumentos de um esquerdista para defender a liberdade de expressão.
A esquerda canceladora por sua vez não percebe que está cavando a própria cova. De um lado ela se anula, abandona sua política tradicional, fica a reboque dos maiores opressores da história da humanidade. O judiciário, os banqueiros, o governo dos EUA, a Rede Globo, e o PSDB. De outra ela fortalece o próprio bolsonarismo. Todos os cancelados ganharam uma enorme popularidade. É o caso de Leo Links e Mauricio Souza, fora da política. E no mundo político foi o que aconteceu com Daniel Silveira, Roberto Jefferson, Nikolas Ferreira e com o próprio Bolsonaro. O cancelamento não é uma política popular, pelo contrário. Ele é a política dos poderosos e por isso suas vítimas ganham a simpatia dos oprimidos.
Enquanto a esquerda pede a cabeça de Nikolas Ferreira pelos seus acertos, a defesa da liberdade de expressão e a crítica ao identitarismo. Ela ignora o seu aspecto mais reacionário. No caso da peruca, Nikolas atacou as mulheres no aspecto mais conservador possível, colocando que seu papel é como escravas domésticas. Já no quesito internacional pediu intervenção dos EUA no território brasileiro: “Oficiamos a embaixada dos EUA a se coordenarem para garantir que a justiça seja feita e que Maduro preste contas de suas ações”. Esse é a tragédia da esquerda que cai na política identitária. Ataca os direitos democráticos e ainda fortalece a política reacionária do bolsonarismo.