Mais repressão aos sem-terra no governo Tarcísio, é isso que a extrema-direita vem prometendo e o que reforçou Antonio Junqueira, secretário estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, em entrevista ao Gazeta do Povo.
Na entrevista, o secretário comentava sobre as nove ocupações que ocorreram no estado desde o Carnaval e disse que haverá “tolerância zero” contra os movimentos sociais. Tolerância Zero é um conceito que surgiu nos Estados Unidos, país com a maior população carcerária do mundo, muito em decorrência desse estado policial.
O que a burguesia e as associações de agronegócio querem é uma “política forte” contra os trabalhadores sem-terra. Em outras palavras, querem que o governo aumente a repressão contra os movimentos sociais. Fica clara a disposição do governo em seguir esse conselho, pois além da vocação para reprimir, Tarcísio quer se credenciar para substituir Bolsonaro e se tornar o representante da extrema-direita. Um fascista educado, tudo o que a burguesia deseja.
Antonio Junqueira afirmou na entrevista o seguinte: “Precisamos fornecer segurança jurídica. Quem vai investir em um estado que não tenha segurança jurídica? Aqui nós temos uma regra: se invadir vai ter que desinvadir. O governador foi claro desde o começo do mandato: vamos respeitar a lei. Se, invadir vai ter consequência”.
Quando a direita diz que vai cumprir a lei, é óbvio que se trata de punir a população pobre, a classe trabalhadora. A burguesia continuará cometendo seus crimes sem ser incomodada. Os movimentos sociais, como vemos, são tratados como entidades criminosas.
Ambiente repressivo
O movimento dos trabalhadores sem-terra sempre foram perseguidos no Brasil, desta vez, porém, temos um agravante: o ambiente político está mais repressivo e com a ajuda da esquerda.
Durante as manifestações dos bolsonaristas após a vitória de Lula, houve bloqueio de estradas, invasão de prédios públicos, e a esquerda vem tratando isso como terrorismo. Ou seja, abriu caminho para a direita agir com maior rigor contra movimentos sociais. A própria imprensa burguesa tratou de condenar a ação dos bolsonaristas, pois isso serve muito bem a seus propósitos.
Que cara a esquerda vai fazer quando a direita passar a tratar invasões de terra como terrorismo? Recentemente, o ministro tucano da Justiça, Flávio Dino, teve que vir a público para tentar explicar o inexplicável, que as delações premiadas no caso Marielle seriam diferentes daqueles utilizados pela Lava Jato para colocarem Lula na prisão.
Diálogo?
O secretário disse que tem mantido diálogo com parlamentares da Assembleia Legislativa de São Paulo, que já teria conversado com Eduardo Suplicy e até José Rainha. No entanto, sabemos que não tem nada de diálogo aí, pois já está dizendo que vai endurecer contra os trabalhadores sem-terra em nome dos latifundiários e do agronegócio.
A extrema-direita está em uma campanha para emplacar um nome para substituir Bolsonaro, Tarcísio aparece como um dos principais candidatos, embora ainda seja cedo para afirmar que seja o escolhido, pois a burguesia sempre trabalha com diversas alternativas para controlar o jogo político.
O aumento da repressão contra a classe trabalhadora, especialmente os sem-terra, seguramente coloca Tarcísio em uma posição favorável para ser o escolhido como candidato a uma futura presidência. Claro que muita água ainda vai rolar até as proximas eleições, e Bolsonaro está longe de ser considerado morto na política.
Continuar lutando
Os trabalhadores sem-terra não devem se intimidar e não devem aceitar que lutar pela terra seja considerado crime. Ao mesmo tempo, é preciso que a esquerda pare de apoiar a repressão, mesmo que a desculpa seja a ‘luta contra o bolsonarismo’, pois, invariavelmente, a repressão vai se voltar contra a própria esquerda.
Estamos dizendo há tempos que o ambiente repressivo favorece principalmente a direita. Até mesmo Bolsonaro vem se beneficiando, e até recebeu mais de 17 milhões de reais em doações de seus seguidores. O mesmo fenômeno que aconteceu com Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, que recebeu milhões de dólares em doações um pouco antes de enfrentar os tribunais.
A esquerda tem que continuar utilizando seus métodos de luta, não deve embarcar na histeria coletiva que só pensa em punir e aumentar penas de prisão. Isso apenas vai enfraquecer a esquerda, além da dar mais munição para a direita.