O Movimento Revolucionário, através de seu jornal digital Esquerda Diário, acusou o governo Lula de ser neoliberal e inimigo da Saúde e Educação. O presidente teria, segundo o blog, determinado, através de um decreto, um corte no valor R$ 1,5 milhões destinados para diversos fins sociais. Desta forma, estaria dando continuidade à política de austeridade de Paulo Guedes, em outras palavras, dando continuidade ao governo de Bolsonaro.
No corpo da matéria intitulada “Neoliberalismo a todo vapor: Lula bloqueia R$ 785 milhões da Saúde e Educação”, o próprio MRT reconhece que o “novo bloqueio” ocorre com Teto de Gastos em vigor e critica o chamado “Arcabouço fiscal” que teria mesmo propósito, garantir o pagamento de juros de títulos referentes a dívida pública para os bancos.
Evidentemente que toda organização que se propõe defender os interesses da população oprimida deveria se opor a entregar dinheiro aos bancos. Neste sentido, a luta dos explorados finalmente é pelo total controle do sistema financeiro. Por tanto, lutar contra o “Teto de gastos” e criticar o “Arcabouço fiscal” é uma obrigação. Mas qual o sentido de atacar o governo Lula como se fosse o de Bolsonaro?
As lutas que se deram no passado, os importantes acontecimento e o desenvolvimento da situação política do País deveria ter resultado em alguma experiência para setores da esquerda. No entanto, estes setores repetem os erros de outrora.
Para exemplificar, o PCB e PSTU, que entre a outros partidos da esquerda pequeno-burguesa participaram de movimentos golpistas, como “Não vai ter Copa”, contra o “Ajuste fiscal da Dilma” e pelo “Fora Dilma”, voltaram as ruas agora contra o “Arcabouço Fiscal de Lula”. Qual sentido de uma mobilização deste tipo?
Esse tipo de ação política mostra uma falta de compreensão enorme sobre a situação da política nacional. Esses agrupamentos políticos possuem um caráter extremamente “antilulista”, isso é um problema para uma efetiva atuação política. A política de um partido deve ser orientada por princípios e por um programa bem definido. Não se pode ter uma política inconsequente.
É preciso compreender quais forças políticas estão em jogo e ter claro os resultados da própria intervenção. Foi o que faltou diante do processo que resultaria num impeachment fraudulento contra a presidenta Dilma Rousseff e que resultou na ascensão de Michel Temer à presidência da República. Foi através do golpe que a burguesia destruiu a Consolidação das Leis Trabalhistas e garantiu o “Teto dos gastos”.
Neste momento, ataques contra o governo Lula não garantem vantagem nenhuma para nenhum setor da esquerda, quem tem a ganhar com isso é a burguesia e seus partidos. Isso não quer dizer que não temos que criticar duramente coisas como os pacotes repressivos de Flávio Dino aprovados pelo governo.
O Partido dos Trabalhadores é reformista e de conciliação com a burguesia. A reforma e a conciliação, há muito tempo e muito claramente desde o golpe, não são possíveis. Não que o PT não busque praticar a política de sempre, o problema é que a burguesia não está disposta a aceitar nenhum avanço em políticas sociais e qualquer investimento no desenvolvimento do país. O governo Lula está totalmente refém da direita na figura de Arthur Lira, pois não tem maioria no parlamento.
O problema que aflige o povo não se trata do “Arcabouço Fiscal”, neste sentido, o “Teto de gastos” é muito pior. A derrota do “Arcabouço Fiscal” seria a permanência do “Teto de Gastos”, assim como a derrota de Lula seria a ascensão de Geraldo Alckmin. Que luta se busca fazer com tais palavras de ordem?
No Brasil, há hoje uma espécie de dualidade de poderes, onde tem-se um governo eleito pela mobilização popular por um lado, ainda que tenham críticas ao presidente Lula, e de outro elementos como Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que não foi eleito por ninguém, mesmo assim esmaga a população e inviabiliza a expansão da produção no país com altas taxas de juros.
A luta que pode mobilizar a população pelos seus próprios interesses é pelo “Fora Campos Neto” e pelo “Fim do BC independente”, a qual abre caminho para revogar o “Teto de gastos”. Essa sim, uma medida que impede investimentos, não somente na Saúde e Educação, mas também na infraestrutura do país.