Chegou à nossa redação uma grave denúncia sobre a atuação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), batalhão da Polícia Militar de São Paulo conhecido por suas práticas violentas nos subúrbios. Segundo denunciaram os moradores da Vila Bahiana, favela do município paulista de Guarujá, agentes da ROTA assassinaram sumariamente o jovem Felipe Vieira Nunes na esquina de sua casa.
A justificativa dada pela polícia é a de que o rapaz seria uma “liderança do PCC” e de que ele teria trocado tiros com os agentes. Os moradores, contudo, contestam. Segundo as testemunhas, o jovem não estava armado, tampouco era membro da facção conhecida como Primeiro Comando da Capital. A vítima era apenas mais um morador da Vila Bahiana, um pai de família que trabalhava como camelô.
O assassinato, segundo os moradores, não aconteceu por acaso. Os relatos dados a este Diário informaram que a ROTA, embora tenha decretado formalmente uma “operação”, está, na verdade, agindo por vingança. A ROTA alega que o policial militar Patrick Bastos Reis, integrante das Rondas, teria sido assassinado em uma das comunidades do Guarujá. Para os moradores, esse acontecimento é o que tem motivado uma ofensiva contra toda a população pobre da cidade.
Na Vila Bahiana, o clima é de desespero. “A rota vai fazer uma chacina”, disse um morador, enquanto filmava as cerca de 30 viaturas situadas na comunidade. Segundo relatos, os policiais não estão deixando ninguém entrar nem sair da favela.
“Vai morrer muita gente. Mais de 30. Eles têm uma lista de quem querem matar”, disparou um morador à nossa equipe, apavorado com a presença da ROTA.
Até agora, a prefeitura não se posicionou sobre as denúncias dos moradores. Tentamos contato com a assessoria de imprensa do município, mas não obtivemos resposta antes do fechamento deste artigo. A ROTA carrega um longo histórico de denúncias de ações ilegais e de violações aos direitos humanos desde sua origem, mas permanece até hoje como um dos principais batalhões do aparato de repressão do Estado de São Paulo.
Entre as denúncias mais conhecidas, estão a de que agentes da rota torturam e obrigaram uma cabelereira a se despir, em 2016, a de que os policiais da ROTA teriam torturado um jovem com marteladas, em 2017, e a de que agentes teriam torturado um rapaz com choques no pênis, em 2015.
No caso do assassinato no Guarujá, as denúncias são tão assustadoras quanto.
“A favela toda ouviu o que eles fizeram”, nos contou um morador que não quis se identificar. “Eles gritavam: ‘joga a arma no chão’. E ele gritava: ‘eu não tenho arma, não, senhor’. Aí eles atiraram”.
Segundo testemunhas que tiveram acesso ao boletim de ocorrência, o rapaz foi executado com nove tiros.
“A Band esteve no local”, disse um morador. “E pedimos para falar a nossa versão. Mas eles não deixaram”. “A orientação é matar todos os que tiverem passagem pela polícia”, nos relatou outro trabalhador que reside na Vila Bahiana.
De fato, a Rede Bandeirantes publicou uma notícia sobre o ocorrido. Nela, a empresa apenas diz que o “suspeito de atirar contra soldado da ROTA tem longa ficha”. Mas não comprova que houve a suposta “troca de tiros”, nem mesmo apresenta essa ficha.
Familiares da vítima deram detalhes do que aconteceu. “Ele foi torturado por muito tempo antes de ser executado”. Segundo as testemunhas, os policiais queriam a senha de seu celular. Ele teria sido deixado agonizando até a morte. “Já depois de morto, largaram ele em um hospital como indigente”, nos relatou os moradores.
Os familiares ainda alegaram que a última visualização de seu celular foi à meia noite, três horas depois que o rapaz havia sido morto, indicando que os policiais utilizaram o seu aparelho.
Diante das dificuldades de acessar as informações sobre o que de fato aconteceu com a vítima e da situação vulnerável em que os moradores se encontram, todos aqueles que conversaram com nossa equipe pediram para que advogados e outros profissionais que possam auxiliar a comunidade entrem em contato urgentemente. Para ajudar os moradores da Vila Bahiana, entre em contato com a coordenação do Coletivo João Cândido.