A Barbie é a personagem do momento, na era do moralismo esquerdista arraigado, e do identitarismo em fúria. Uma boneca criada a partir da tradição ultra conservadora norte-americana, da tradição ultra conservadora norte-americana, logo após o macarthismo, que foi o auge do conservadorismo e reacionarismo nessa sociedade. Até aí é possível dizer que isso é normal, a sociedade moderna é mais reacionária e decadente do que nunca, mas o fato que impressiona é que pessoas da esquerda, supostamente politizadas e conscientes, entraram na moda de bajular a boneca queridinha da sociedade “patriarcal” norte-americana.
A causa do recente “barbiesmo” é o recém-lançado filme da boneca da Mattel, que por sinal foi produzido pela própria empresa fabricante da boneca, e em última instância não é mais do que uma propaganda nada velada do brinquedo que não passou pelos melhores dias na última década. “Decidir fazer um filme da Barbie não foi apenas uma extensão da marca. É uma estratégia de negócios de longo prazo, que será repetida várias vezes com o resto do portfólio da Mattel, que inclui cerca de 400 marcas de brinquedos”, afirma uma reportagem da revista Forbes (18/7/2023).
O filme é uma massaroca de produtos rosa da Mattel, “desconstrução”, um enredo raso e pseudo ideológico e atuações muito ruins (espero do fundo da minha alma que propositalmente). Não recomendo a niguém ir ao cinema assistir a pérola, não só pelo desperdício monumental de tempo e dinheiro que seria isso, mas também pelo esforço que seria enfrentar as hordas de pessoas bestas vetidas de rosa que estão fazendo fila nos cinemas para ver esse filme.
O enredo do filme narra uma revolução dos bonecos Ken, contra o domínio das Barbies após uma visita de Barbie e Ken ao mundo real, onde Ken vê que o mundo real é “dominado pelo patriarcado” e decide levar esse patriarcado para a “Barbielândia”. Com essa rápida descrição já é possível imaginar que o filme é lotado de indentitarismos idiotas e lacradas de roteiro. Se tratando de um filme produzido por uma empresa de brinquedos (e não qualquer empresa de brinquedos, a Mattel, responsável pela produção da Barbie) já é possível especular sobre a profundidade espetacular desse roteiro altamente combativo e revolucionário.
Como disse o companheiro Rui Costa Pimenta na Análise Política da Semana, no último sábado (29/7): “A Barbie se transformou em um instrumento de libertação da humanidade, nós vimos surgir ai o marxismo-barbiesmo, que vai substituir o marxismo-leninismo. O grande profeta dessa nova cultura é o Jones Manoel, que falou que o filme da Barbie reforça a consciência libertária das mulheres. É muita loucura falar isso aí”. “O que o imperialismo está fazendo com isso daí não é reforçar nenhuma consciência libertária, é amortecer a consciência.” “Essa boneca Barbie, isso aí é um símbolo da cultura popular americana, ela surgiu assim, como a mulher loira, magra, ela seria uma espécie de modelo de mulher” “quando a Barbie se torna feminista, ela não tá divulgando o feminismo, ela está fazendo o contrário, ela está liquidando o feminismo”. “Quando eles fazem o filme da Barbie eles não estão procurando incentivar a consciência feminista de ninguém, é exatamente o oposto, eles estão canalizando tendências que existem dentro da sociedade de revolta e transformando isso daí numa coisa totalmente inócua, não é uma coisa de luta, não é uma coisa revolucionária” ‘”não é um estímulo a lutar, é um estímulo ao conformismo, veja que mundo maravilhoso que a gente vive, até a Barbie é feminista, todo mundo é feminista, os capitalistas todos são feministas, os políticos todos são feministas, isso daí é uma coisa que faz avançar avançar a luta? Não, muito pelo contrário, é uma desmoralização de qualquer movimento de luta das mulheres, é um estímulo ao conformismo, é uma dissolução da luta das mulheres em um ambiente artificial, falsificado de Hollywood”.
Ver a esquerda dar valor grande político a um filme que basicamente expressa um compilado das ideias mais esdrúxulas do Partido Democrata norte-americano, isso tudo usando como vetor de transmissão dessas ideias a boneca Barbie, a imagem e semelhança do ideário conservador norte-americano dos anos 50, é realmente impressionante, pois mostra que o fundo do poço é bem mais fundo do que imaginávamos.