Nas últimas semanas, uma grande polêmica se levantou sobre a queima do livro sagrado do Islã, o Corão, na Suécia. Desde o início do ano, o livro tem sido queimado em manifestações no país nórdico como forma de protesto político. A imprensa burguesa tenta apagar o caráter de classe dos acontecimentos, mas essa situação é uma clara expressão da luta do imperialismo contra os países oprimidos do Oriente Médio. O Islã canaliza o nacionalismo desses povos e a direita reacionária sueca está dando o troco na mesma moeda. Contudo, os árabes não se ativeram apenas as rezas, grandes manifestações estão acontecendo desde o Líbano até o Paquistão, e o alvo apesar de parecer a Suécia, na realidade é a OTAN.
Essa disputa se iniciou inclusive em uma manifestação relacionada a OTAN. Em janeiro, Rasmus Paladen, o líder do partido de extrema-direita, Linha Dura, queimou o livro sagrado em frente a embaixada turca em meio a protestos sobre a adesão do país a OTAN. Esse ato já gerou grandes manifestações contra os suecos em vários países do Oriente Médio, o interessante é que esse ato deu margem para as muitas organizações nacionalistas islâmicas realizaram uma correlação direta entre o imperialismo e o ataque ao Islã. O governo da Suécia gostaria de manter uma imagem mais positiva, no entanto, os cachorros-loucos da extrema-direita não permitiram.
O ódio à OTAN nos países do Oriente Médio é antigo, a organização participou de todas as invasões e bombardeios nos últimos 30 anos. Mas a conjuntura de guerra da Rússia contra a OTAN na Ucrânia deixou o quadro mais cristalino. O Irã, que é a principal força de aglutição das nações contra o imperialismo, tem relações diretas com a China e com a Rússia. Não é só isso, como o principal eixo para realinhar vários países anteriormente totalmente dominados pelo imperialismo, o evento mais importante foi o acordo Irã-Arabia Saudita, um duro golpe sobre o domínio imperialista na região.
A imprensa tenta desviar a atenção para a questão da liberdade de expressão, isso porque muitos setores que se posicionam contra a queima do Corão consideram que ela deveria ser proibida. De fato, o governo proibir a queima de livros em manifestações de rua é uma medida autoritária. Contudo, isso é um diversionismo, a questão política real é a opressão dos países do Oriente Médio e dos próprios imigrantes que vivem na Suécia. O próprio país é palco de manifestações de rua desses imigrantes e, quanto eles se revoltam contra a extrema-direita que queima o Corão, a polícia defende essa direita.
A queima de livros do Corão voltou a acontecer nesse mês de julho que teve uma nova repercussão. No Iraque, país totalmente destroçado pela OTAN, a Embaixada da Suécia foi invadida por manifestantes. O secretário-geral do Hesbolá, Hassan Nasralá, ao convocar atos para sábado no Líbano afirmou: “Em nossos comícios amanhã, sairemos para defender todos os oprimidos, torturados e perseguidos na Palestina, Iêmen, Bahrein e em todo o mundo”. O seu discurso deixa claro que toda a questão, que tem uma feição aparentemente religiosa, é política. Os governos dos países árabes todos se pronunciaram oficialmente também contra o governo da Suécia.
Na manifestação de sábado, Hassan Nasralá radicalizou o seu discurso: “Se os países islâmicos não agirem (em defesa do Corão) então a juventude muçulmana deve agir de acordo com a suas responsabilidades, punir os profanadores e não esperar ninguém para defender a sua religião”. Um líder político libanês está conclamando os jovens de todo o mundo, inclusive da própria Suécia, a lutar contra os seus opressores. No mesmo discurso, ele afirmou: “o povo palestino hoje acredita mais do que nunca na resistência, deposita suas esperanças nela e no eixo da resistência da região, oferecendo mártires e lutando com facas, artefatos explosivos, pistolas e pedras. O Hesbolá e a resistência apoiarão o povo palestino com toda sua força”.
As organizações nacionalistas muçulmanos, portanto, tomam uma posição clara na luta internacional contra o imperialismo. A forte campanha contra a Suécia é na realidade uma campanha pelo enfraquecimento da OTAN. Agora que a Finlândia aderiu à aliança imperialista, a Suécia é o próximo objetivo. E dado o desespero da OTAN na Ucrânia, é claro que a adesão de mais um país certamente seria um ganho estratégico importante. A campanha no Oriente Médio, por usa vez, impacta diretamente nessa questão. A Turquia precisa aceitar a Suécia para o país adentrar à Organização, algo que Erdogan, que tende cada vez mais ao nacionalismo islâmico, não parece estar disposto a aceitar.
A crise recente mostra a enorme disposição de luta dos povos do Oriente Médio. Após décadas de brutal opressão, o imperialismo perde rapidamente o controle da região. E, para a surpresa de muitos esquerdistas, quem lidera a luta para a expulsão do imperialismo na região são organizações religiosas. É o Hamas na Palestina, o Hesbolá no Libano, o Aiatolá no Irã, o Ansar Alá no Iêmen. Todos apoiados também na aliança com os governos da Rússia e da China. A fúria do Islã se torna mais uma vez aliada de todos os povos do mundo na luta por sua libertação.