“Não queremos fazer uma revolução” são palavras que nenhum presidente popular e de esquerda, mesmo reformista e que realmente não esteja propondo nenhuma revolução deveria dizer, a história pode obrigá-lo a voltar atrás nestas palavras. Mesmo assim, o presidente Lula as disse, se referindo a sua política de desarmamento.
O presidente emendou seu comentário dizendo que “eles” (a direita) tentaram dar um golpe de Estado e aludiu para o armamento civil como uma ferramenta para este golpe de Estado. Ele disse ainda que quem tem que praticar tiro são as polícias e forças armadas.
É interessante o pensamento apresentado por Lula: o armamento civil serviria apenas para subverter a ordem social vigente, nunca para defendê-la. É um pensamento reacionário e falso. O armamento civil pode tanto ser usado para subverter a ordem social quanto para impedir que ela seja subvertida.
O placar histórico de golpes de Estado dados contra as Forças Armadas por civis armados legalmente é literalmente zero. Já o placar de golpes de Estado dados pelas forças policiais e militares contra povos desarmados é, infelizmente, grande demais para se contabilizar. Quando golpes de Estado foram dados por forças milicianas fascistas, o Exército estava tão envolvido quanto podia estar, super envolvido.
Lula não é um revolucionário por natureza. Sua origem de ideias política e ideológica é bastante centrada numa visão muito moderada de democracia, onde as instituições ocupam um papel central e soberania popular se da através destas instituições reacionárias.
Ele não se propõe a defender o socialismo, apesar dele já ter defendido no passado um tipo de socialismo e apesar do seu partido, o PT (Partido dos Trabalhadores), formalmente defender um socialismo.
A grande vantagem de Lula nesse quesito ideológico é que, apesar da sua ideologia, o presidente não é um sujeito particularmente ideológico, sendo propenso a mudar de ideias na medida que a situação muda.
Se Lula tem uma visão bastante institucional da democracia, é também verdade que o PT e o próprio Lula já propuseram mudar o regime político e pautá-lo pela defesa da “soberania popular” que vai no sentido diametralmente oposto da defesa da democracia como a defesa das instituições supostamente democráticas.
Os apoiadores de esquerda e ligados ao movimento popular da política desarmamentista do presidente deveriam pensar nas consequências desta política. Desarmar a população e armar apenas o Exército e policias, coloca-os com todo o poder para subverter o poder político, num momento em que estas instituições estão dominadas pela direita.
Um dos direitos democráticos mais fundamentais de qualquer povo é, como disseram os revolucionários franceses, o direito de resistir à opressão e à tirania, apresentado como o “direito à revolução”. O direito de depor autoridades despóticas é um direito democrático.
Este direito apenas pode ser executado através do armamento civil, para que a população tenha os meios de exercer o direito de resistir à opressão.