Na última semana, as ruas de Berlim foram tomadas pela parada do orgulho gay, conhecida na Alemanha como Christopher Street Day. Como ocorreu em diversas partes do mundo, a parada foi utilizada também em Berlim por elementos da burguesia e da direita para reiterar o seu compromisso com a repressão e aumentar seus laços com a parcela identitária da população.
O lema foi vazio de política, clamando “por mais empatia e solidariedade”, mas, na prática, a política presente era a política da direita e do cerceamento de direitos. Pessoas nos carros de som pediam pela alteração do Artigo 3 da Lei Básica, que é o artigo que declara que todos são iguais perante a lei. A requisição é que a identidade sexual seja incluída no texto, que aborda apenas a necessidade de igualar homens e mulheres.
Durante a abertura do evento, o prefeito de Berlim, Kai Wegner, reforçou a necessidade de alterar a legislação. O político pertencente ao partido de direita União Democrata Cristã, equivalente ao “centrão” no Brasil, destacou que seu compromisso “é mudar o Artigo 3 da Lei Básica, pois a identidade sexual tem que ser inclusiva”. A pauta identitária foi assunto do discurso também do presidente da Bundestag, o parlamento alemão, que disse que é necessário “enviar um sinal claro para uma sociedade livre e diversa”. No entanto, o que esconde o discurso dos burocratas alemães é que não há busca alguma por liberdade ou diversidade no aumento da repressão por parte da legislação.
O que há é uma vontade maior de criar leis punitivistas, aos moldes do que faz Flávio Dino no Brasil e o aparato judiciário como um todo. Acreditar que o CDU, de direita, se importa com as liberdades de cada cidadão e seus direitos democráticos chega a ser infantil. Na realidade, o que acontece é exatamente o oposto: a política identitária não é uma política de esquerda, progressista ou que se importe com os direitos democráticos de cada pessoa, mas uma política do imperialismo, de caráter punitivista, e que judicializa questões básicas, aumentando o poder do aparato repressivo do estado e ofuscando as lutas reais por direitos e igualdade.