Na última semana, o presidente chileno Gabriel Boric decidiu confrontar o homólogo brasileiro, defendendo que a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) criticasse duramente a Rússia pela operação militar especial na Ucrânia. Suas declarações não causaram propriamente uma surpresa, pois Boric já havia se posicionado por várias vezes contra países como a Venezuela e a Nicarágua, que estão sob ataque do imperialismo e que são, justamente por isso, defendidos pelo presidente brasileiro.
A postura de Boric em relação à Rússia merece uma análise. É um caso exemplar de um fenômeno que tende a se estabelecer na América Latina como um todo, que é o surgimento de figuras que falam em nome da esquerda, mas que no final das contas são absolutamente tributários do imperialismo e, em particular, do imperialismo norte-americano. Essa tendência vem crescendo nos últimos anos. O que aconteceu desta vez é que a declaração de Boric acabou se chocando com todas as lideranças latino-americanas. Ninguém queria condenar a Rússia por motivos bastante óbvios: os países latino-americanos e caribenhos pessoal têm muito mais problema com os Estados Unidos do que com a Rússia.
A declaração de Boric, inclusive, só torna ainda mais ridícula a tese de que a Rússia seria imperialista. Boric declarou que o que aconteceu à Ucrânia poderia acontecer com qualquer um dos países da CELAC. Mas qualquer pessoa que não esteja completamente louca sabe que Brasil, Paraguai, Cuba, Venezuela, Nicarágua, México, El Salvador e tantos outros não estão inimamente ameaçados pela Rússia. Todos, por outro lado, estão constantemente ameaçados pelos Estados Unidos. E de todas as formas: militarmente, por meio da imprensa e pela infiltração no próprio regime político.
Boric integra, portanto, uma espécie de pseudoesquerda que é muito importante para o imperialismo. O imperialismo está investindo bastante nessa esquerda. Um aspecto visível desse investimento são as ONGs, que estão servindo, entre outras coisas, para promover a ideologia oficial do imperialismo, que é o identitarismo.
Boric é parte desse movimento. Suas declarações não devem ser levadas a sério. Boric inclusive só chegou à presidência porque recebeu amplo apoio do imperialismo, que organizou uma espécie de golpe na frente de esquerda chilena, que tinha o Partido Comunista Chileno à frente, mas acabou sendo ultrapassado por Boric.