O governo Netanyahu, em Israel, está em rota de colisão com o Judiciário daquele país, que é um braço armado dos Estados Unidos no Oriente Médio. Desde o início do ano o governo vem enfrentando uma série de manifestações de rua, que muito se parecem com aquelas que precedem as revoluções coloridas impulsionadas pelo imperialismo.
Pode soar estranho que o governo dos Estados Unidos tente uma revolução em Israel, porém a insatisfação com o primeiro-ministro é visível.
A preocupação de Netanyahu não surge do nada, pois os golpes de Estado, ultimamente, têm feito uso extensivo desse recurso. Na América Latina já tivemos Honduras, Paraguai, Brasil etc. Isso se repete pelo mundo, na Turquia, quando sofreu uma tentativa de golpe em 2016, Erdogan fez uma verdadeira faxina no Judiciário.
A imprensa burguesa tem tentado pintar um quadro no qual os palestinos seriam os principais prejudicados no caso do enfraquecimento da Suprema Corte. No entanto, até onde a vista alcança, tem ocorrido uma verdadeira limpeza étnica em Israel sem que nada os detenha, exceto a própria luta do povo palestino.
Vejamos o que diz, por exemplo, a CNN:
“O enfraquecimento do poder judicial pode limitar tanto os israelenses quanto os palestinos a buscar a defesa de seus direitos no tribunal se acreditarem que estão comprometidos pelo governo.
Os palestinos na Cisjordânia ocupada poderiam ser afetados e, claro, os cidadãos palestinos de Israel ou aqueles que possuem cartões de residência seriam diretamente afetados.
(…)
Os críticos das mudanças temem que, se os políticos tiverem mais controle, os direitos das minorias em Israel, especialmente os palestinos que vivem em Israel, seriam afetados”.
A matéria diz ainda que o no ano passado o tribunal teria suspendido o despejo de uma família de Jerusalém Oriental, mas é fácil concluir que os assentamentos que não param de crescer e invadir terras palestinas e expulsar seus moradores não seriam possíveis sem a conivência do Judiciário.
Independência
O que está acontecendo em Israel, na verdade, é fruto da própria crise do imperialismo.
Desde que a OTAN foi derrotada pelo Talibã no Afeganistão, a derrota dos EUA na Síria, uma série de países começaram a se rebelar diante do enfraquecimento da dominação imperialista. A Liga Árabe, por exemplo reintegrou a Síria ao bloco. Irã e Arábia Saudita retomaram os serviços diplomáticos. Arábia Saudita, por iniciativa da China, restabeleceu relações com o Iêmen.
Essa movimentação coloca em risco a segurança de Israel. O governo do Egito pediu a entrada do país no BRICS, o mesmo que fizeram os sauditas.
A Rússia, que tem ótimas relações com o Irã, está com forte presença na Síria e também no Iraque.
China
Netanyahu andou tendo conversações com a China, o país que tem costurado acordos no Oriente Médio, inclusive a compra de petróleo por fora do dólar, o que enfureceu os Estados Unidos.
Os americanos não vão admitir independência da israelense e parece estar justamente aí o problema. De um lado, temos uma dominação cada vez mais fraca e, de outro, um país vendo que o perigo se avoluma em suas fronteiras.
Israel pode continuar confiando na proteção dos Estados Unidos? O imperialismo depende do Estado sionista para se impor sobre o Oriente Médio e por isso os interesses comuns parecem estar sofrendo um abalo.
Reunião
No último dia 17, Joe Biden ligou para Netanyahu e o convidou para uma reunião. A imprensa burguesa. A imprensa burguesa disse que isso é ótimo, pois aliviou a tensão entre os países e que a ligação teria sido muito calorosa. Ninguém vai acreditar nessa versão, ainda mais se considerarmos que, não faz muito tempo, Biden disse que a coalizão que forma o governo Netanyahu é “uma das mais extremistas desde os anos 70”.
A crise do imperialismo tem se expressado nas mais diversas frentes: na Ásia, no Leste Europeu, na América Latina, África e o Oriente Médio não poderia ficar de fora.
Enquanto procura enfraquecer a Suprema Corte, Netanyahu espera, quem sabe, ganhar algum tempo, mas não há muita esperança, pois o imperialismo passará por cima de tudo e de todos para defender seus interesses.