Dentre todas as correntes políticas influentes neste início do governo Lula, uma talvez é a mais preocupante, que é aquela que defende esperar que Lula resolva tudo dentro do regime, em acordos, reuniões, por conta própria, sem apoio de manifestações, pois estas podem se virar contra o governo.
É uma tendência conservadora que esteve presente desde o início do golpe de Estado. Ainda lá atrás, tudo iria se resolver com os advogados, que até foram parar nos carros de som. Melhor que Lula se entregue para não aumentar sua pena, diziam uns. Melhor retirar a candidatura de Lula, falavam outros; melhor não chamar atos em Curitiba (PR), enfim, é um setor que esteve paralisado desde sempre, não é de hoje.
Agora, segundo Alex Solnik, em texto publicado no Brasil 247, simplesmente não teremos mais golpe de Estado dentro dos próximos 30 anos. Segundo ele “O 8/1 não foi o início de um processo golpista; foi o fim. Nos próximos trinta anos ninguém vai ser doido de tramar um golpe de estado”.
Alguém da CIA poderia ler isso e perguntar quem é o doido que pensa que os Estados Unidos não vão tramar nenhum golpe de Estado no Brasil nos próximos 30 anos. Na realidade, neste exato momento, políticos ligados ao imperialismo planejam golpe em sabe lá Deus quantos países. Mas para Solnik, não, ninguém terá coragem, especialmente com o fiel escudeiro da democracia o senhor Alexandre de Mores, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Nazismo só acontece uma vez. Com bolsonarismo é a mesma coisa. Essas hecatombes pegam países de surpresa. Chegam como novidade, ninguém sabe o que é. Os resultados, terríveis em todos os sentidos, atuam como vacina para a população, que não lhes dá segunda chance”.
Ora, se é um golpe de Estado não é necessário nenhum aval da população, como foi no caso com Dilma Rousseff. Não houve nenhuma consulta ao povo, apenas deram o golpe. Se bem que o nazismo não possa ser reeditado daquela mesma forma, é totalmente clara a intervenção da direita fascista em uma série de países pelo mundo, como é o caso da Ucrânia. O golpe de Estado é justamente uma medida de força apesar e contra a vontade popular.
Diz Solnik: “Não dá para desconfiar das urnas eletrônicas, não dá para pregar golpe de Estado. Dá cadeia”. Mas quem é que está prendendo? Quem é que tem as chaves da cadeia? Com certeza não é Alex Solnik. E por qual motivo não se pode desconfiar do sistema eleitoral? Pelo fato de ser crime? Isso em si já é resquício de um regime ditatorial, censurador. Nesse sentido, o golpe já está aí.
“Sempre haverá malucos atacando Alexandres de Moraes por aí, seja em locais públicos, seja nas redes sociais, mas quem vai cuidar deles é a polícia. É a Justiça”. A crença da esquerda nas instituições do regime capitalista chega a causar espanto. Esquece, Solnik, que Jair Bolsonaro teve quase 58 milhões de votos. A não ser que 58 milhões de pessoas tenham morrido das eleições até aqui, o bolsonarismo expresso nas urnas está por aí, 50/50, e a esquerda deve ter uma política para isso, que não seja a repressão, mas o trabalho de convencimento e luta política.
Foi esse mesmo Judiciário que patrocinou todo o golpe de Estado. Derrubou Dilma Rousseff, mandou prender Lula, retirou o candidato do PT das eleições, organizou um verdadeiro regime de perseguição contra o PT e seus dirigentes. É absurdo achar que essa gente de toga, a polícia e outros golpistas tradicionais sejam os que irão defender o Brasil de um novo golpe de Estado, e por 30 anos.
Foram essas posições políticas que facilitaram o caminho do golpe no Brasil. Está tudo tranquilo, não teremos golpe de Estado, vamos confiar nos juízes e ministros, e deu no que deu.
