A prolongada atenção dispensada pela imprensa golpista ao XXVI Encontro do Foro de São Paulo mostra que a reunião de partidos da esquerda latino americana deixou a burguesia com a pulga atrás da orelha. O tema deste ano foi “Integração regional para avançar na soberania latino-americana e caribenha” e mais de dez dias após o evento, segue repercutindo. O jornal O Estado de S. Paulo dedicou nesta quinta-feira uma manchete intitulada “Foro de São Paulo perde relevância, fica preso a passado e ignora fracasso de ditaduras de esquerda”. Mas, vejam bem, se o encontro perdeu sua relevância, por que os micos amestrados da burguesia não param de falar dele? É como diz a expressão popular, “ninguém chuta cachorro morto”.
O jornal, como de costume, lança mão dos seus “analistas” para dar uma credibilidade artificial a seus argumentos. Foram citados um professor do Insper, instituição de ensino privada financiada entre outros por Jorge Paulo Lemann, e o diretor executivo da Fundação FHC. Para o primeiro, o Foro seria algo “romântico, mas inviável” e deixaria de fora das discussões”questões perigosas e complicadas”, as quais a matéria não cita. O representante de FHC vai mais além, dizendo que o Foro teria perdido “sua razão de ser”, tentando “esconder o fracasso das revoluções da esquerda no continente”. O trecho de sua fala citado na matéria conclui com a seguinte pérola: “Não creio que nenhum partido sério da esquerda latino-americana tenha participado do evento”.
Estaria o diretor da Fundação FHC se referindo à Rede Futuro, que reúne esquerdistas “sérios” como Guilherme Boulos, Gabriel Boric e Gustavo Petro? Um ponto de convergência fundamental entre esse “Foro de São Paulo alternativo” e os “analistas” d’ O Estado de S. Paulo é o apoio às campanhas do imperialismo contra os governos de Cuba, Nicarágua e Venezuela. A tal “nova esquerda”, que não incomoda o imperialismo. Além de “sérios” seriam estes amigos do “Tio Sam” mais relevantes que os integrante do Foro de São Paulo? A ideia é tão exageradamente ridícula que nem os “analistas” escolhidos pelo jornal chegaram a sugerir isso na matéria, apesar do monopólio das comunicações impulsionar essas figuras sempre que aparece uma oportunidade.
Caso o Foro de São Paulo tivesse realmente se tornado algo irrelevante, bastaria a imprensa burguesa ignorar sua existência. No entanto, a realidade não poderia ser mais distinta. Diante da polarização política ao nível internacional, o encontro constituiu um importante movimento de confronto com o imperialismo, em especial o norte-americano. Neste ano, o encontro contou com a participação de um dos seus fundadores e atual presidente do Brasil. O documento produzido após as discussões cita, por exemplo, a vitória eleitoral de Lula como uma contundente resposta ao golpe de Estado ocorrido em 2016.
Cabe destacar ainda a crítica sem massagem aos bloqueios impostos a Cuba, Nicarágua e Venezuela. Numa política diametralmente oposta à “nova esquerda”, a resolução final do encontro diz o que qualquer esquerdista normal deveria dizer:
“Condenamos e exigimos o levantamento incondicional do criminoso e intensificado bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos Estados Unidos contra o povo cubano, há mais de 60 anos, e exigimos a exclusão de Cuba da lista de Estados patrocinadores do terrorismo. Também condenamos as sanções unilaterais contra a Nicarágua e a Venezuela e a interferência nos assuntos internos desses países“.
Além disso, o Foro reafirmou o apoio à reivindicação da Argentina sobre as Ilhas Maldivas, ocupadas pelos britânicos. Entre outros pontos de defesa do desenvolvimento independente na região. É justamente esse tipo de afirmação política em defesa dos interesses das nações latino americanas que a imprensa golpista não consegue engolir. Por que esse pessoal do Foro de São Paulo não é bem comportado como um Boric ou um Boulos? Por que não repetem a ladainha dos “direitos humanos”, da “luta contra a corrupção” ou coisa que o valha? Certamente ganhariam muitos elogios dos “analistas” dessa imprensa.
O fato é que a edição deste ano do encontro expressou um deslocamento à esquerda, respondendo à conjuntura internacional de combates regionalizados à dominação imperialista. Seja no Afeganistão, na Ucrânia, na Síria, etc, um aspecto central da crise atual é o levante contra esse sistema de dominação mundial imposto por esses parasitas. Se a burguesia se mostra tão incomodada com Lula e o Foro de São Paulo é sinal que estão no caminho certo.