Segundo informações do portal Brasil 247, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) está movendo um processo contra a também parlamentar Carla Zambelli (PL-SP) que pode cassar os direitos políticos da deputada bolsonarista, reeleita em 2022 com os votos de mais de 946 mil cidadãos paulistas, que a elegeram para representá-los na Câmara dos Deputados. Segundo o 247, “no processo, Sâmia Bomfim acusa Zambelli de disseminar informações falsas sobre as urnas eletrônicas” (“Ação que pode tornar Zambelli inelegível é encaminhada para Justiça Eleitoral de São Paulo”, 11/7/2023).
Em sua ânsia por parecer combativa, o que a deputada psolista não calcula é o preço de sua ação. Ao longo da história, a esquerda notabilizou-se por agrupar o setor mais intelectualizado e culto da sociedade. Uma vanguarda política que, dada sua erudição, não teria qualquer dificuldade em debater divergências políticas. É justamente contra isso que depõe a sanha persecutória promovida pela parlamentar do PSOL.
Estabelecer a repressão como meio de ação política, como faz Bomfim, pode até colocar a imagem da deputada nos principais órgãos de imprensa do País e garantir uma certa publicidade eleitoral, mas gera um mártir, no caso de Zambelli, alguém perseguido por dar uma opinião, algo que a população percebe muito rapidamente como algo negativo e com a qual, tende a desenvolver uma grande simpatia. Uma evidência concreta do fenômeno se expressou nas intenções de voto recebidas por Lula, no cárcere em 2018 (de onde podia ter ganho as eleições presidenciais ainda no primeiro turno) e mais recentemente, no crescimento do apoio da população americana a Trump, que após a perseguição do judiciário daquele país, consolidou sua liderança no partido Republicano, tornando-se o virtual candidato nas eleições presidenciais norte-americanas, marcadas para 2024.
A opção de fugir de um debate sobre a confiabilidade das urnas e conquistar a população para a sua posição pela força dos argumentos e da inteligência (o método histórico da esquerda), além de produzir o fenômeno do mártir, traz outros problemas políticos graves. Em primeiro lugar, porque ainda que Zambelli seja prejudicada, os verdadeiros atingidos são os seus eleitores, que a elegeram como liderança política, mas tiveram seus votos, e consequentemente, seus direitos políticos cassados.
Além disso, concretamente, a ação de Zambelli foi falar, cabendo ao campo da subjetividade o valor ou desvalor de sua fala. O perigo que a ação impensada da pesolista desconsidera, é que o princípio que autoriza a cassação de votos de quem fala, pode se voltar contra uma liderança popular que faz o mesmo.
Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva causou um alvoroço ao defender o regime bolivariano contra as mentiras espalhadas pela imprensa burguesa, dizendo que a democracia “é relativa”, no que está absolutamente. E se a moda pega, e alguém entende que tal fala do presidente dissemina informações falsas sob a “democracia”?
Finalmente, como o direito é impessoal, não são apenas os eleitores de Zambelli que terão seus direitos políticos cassados, mas todos os eleitores brasileiros. Desde a famigerada Lei da Ficha Limpa, já vivemos uma situação em que o valor do voto popular é cada vez menor, a ponto de na prática, termos um regime eleitoral tutelado por juízes.
A situação é análoga ao que ocorria durante a Ditadura Militar, quando o voto era restrito aos candidatos do antigo ARENA (atual União Brasil) e da oposição consentida, reunida no MDB. Sob a tutela de outra burocracia -as Forças Armadas ~ a população era compelida a participar de um circo, em eleições totalmente controladas, onde a vontade do povo importava menos que a nulidade do valor do voto. Há anos a burguesia e o imperialismo esforçam-se para sufocar os partidos políticos, e fazer o sistema partidário retroceder ao que existia durante os anos de terror do Regime Militar. A ação de Bomfim é um enorme auxílio a essa política, uma vez que normaliza a tutela sobre o voto, banalizando o seu valor.
Ao mesmo tempo, fortalece a repressão política, outra característica marcante do fascismo, algo corriqueiro durante os anos da Ditadura, o que a parlamentar diz querer combater, mas longe disso, impulsiona com uso de expedientes repressivos. Isso tem tudo para terminar de uma maneira extremamente negativa para a esquerda e para o povo brasileiro de conjunto.